Mais área para a soja

 Mais área para a soja

Soja: o par perfeito do arroz nas áreas de várzea

Veja como a cultura da oleaginosa está mudando o cenário nas lavouras de arroz do Rio Grande do Sul
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A cada ano, a soja ganha mais força nas lavouras gaúchas. Impulsionados pelos preços do grão no país, que a partir de 2012 atingiram patamares históricos, os produtores têm aumentado o plantio, especialmente na Metade Sul do estado.

Na safra 2013/14, o cultivo da soja em áreas tradicionais de arroz, no sistema de rotação de culturas, aumentou em 9%. De acordo com o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), a área plantada com a oleaginosa saltou de 272 mil hectares, no período anterior, para 300 mil hectares, com uma produção total estimada em 900 mil toneladas.

Este aumento de área é impulsionado pela necessidade de alternativas eficientes de controle de plantas daninhas nas lavouras de arroz irrigado, especialmente o arroz vermelho resistente aos herbicidas do Sistema Clearfield. Outro fator importante de impulso remete à sustentabilidade financeira das propriedades, que são beneficiadas pela diversificação de culturas e de renda, intensificando o uso das terras, das máquinas e da mão de obra, com diminuição de custos por unidade de grãos produzidos.

O coordenador da divisão de assistência técnica e extensão rural do Irga, Eraldo Jobim, destaca que, no sistema de rotação, a soja, por pertencer a uma família botânica diferente do arroz, acaba favorecendo a lavoura arrozeira, pois aumenta a fertilidade da área cultivada, contribuindo para fixar o nitrogênio no solo: “A soja reorganiza as condições do solo e também ajuda no combate aos inços resistentes na lavoura”, explica.

Conforme Jobim, o plantio da soja em área de várzea pode aumentar a produtividade do cereal em até 17%. “Se o produtor optar por plantar a soja por duas safras consecutivas, na terceira, quando entrar com o arroz, poderá colher um adicional de 17 a 20 sacas”, observa. No entanto, ele ressalta que o principal foco das pesquisas conduzidas pelo Irga no campo da rotação de culturas é oferecer ao produtor uma ferramenta para combater o arroz vermelho. “É claro que existe a questão financeira, no caso o aumento da renda e a diversificação econômica da propriedade, mas o objetivo final é a sustentabilidade da lavoura de arroz no RS”, afirma.

FASE
Já a partir desta safra, os produtores gaúchos passam a contar com uma variedade de soja destinada às áreas de arroz, adaptada para o cultivo em terras baixas. A Tecirga 6070 RR, que foi lançada na Expointer 2013, é a primeira cultivar de soja registrada para o cultivo comercial no Rio Grande do Sul selecionada em solos arrozeiros, visando especificamente as demandas deste segmento produtivo.

A variedade é fruto da parceria técnica entre a Cooperativa Central Gaúcha (CCGL Tec) e o Irga, tendo sido desenvolvida a partir da base genética da CCGL Tec e testada nas condições de solos de arroz irrigado pela equipe técnica do Irga. Na avaliação do diretor técnico do Irga, Sérgio Gindri, o lançamento da Tecirga 6070 RR também marca uma nova fase no cultivo de soja em áreas de arroz no estado.“Com esta variedade, estamos quebrando a resistência dos produtores da Metade Sul do RS, cuja dificuldade era adaptar a oleaginosa aos terrenos alagados, bem como combater as pragas que se espalhavam pelo campo, já que o excesso de água favorece o surgimento de fungos”, argumenta.

PECUÁRIA
O sucesso da soja na rotação com o arroz também começa a refletir em outras áreas do agronegócio no RS. É que, com a forte chegada da oleaginosa na Metade Sul do estado, produtores e instituições de pesquisa e extensão rural buscam estratégias para aliar a cultura com a produção agropecuária. Na pecuária, entretanto, a preocupação é a de preservar espaços para a produção sem perder produtividade, já que os criadores procuram utilizar as áreas mais privilegiadas para o grão, empurrando o rebanho para áreas secundárias.

Para o chefe da divisão técnica do Senar-RS, João Augusto Telles, a saída é os criadores trabalharem com o conceito de pecuária de precisão, aumentando produtividade e reduzindo tempo de abate. “A soja é uma aliada para preparar a área de pastagem no inverno”, aponta. Com base nessa nova realidade, o Sistema Farsul vem promovendo fóruns e encontros com produtores e instituições ligadas ao setor com o objetivo de debater o rumo da criação de animais.

Entre o risco e a estabilidade
Ao contrário da soja, a cultura do milho no sistema de rotação com o arroz ainda se mostra incipiente no Rio Grande do Sul. A área plantada com o grão está estimada entre 800 e 1 mil hectares e concentra-se basicamente nos municípios de Cachoeirinha, na Estação Experimental do Arroz do Irga, Santa Vitória do Palmar e Cachoeira do Sul. Em Camaquã, também há uma tradicional lavoura de milho irrigado.

O pesquisador do Irga Rodrigo Schoenfeld, que coordena as pesquisas nessa área, explica que o milho ainda é uma cultura que envolve muitos riscos e não tem a mesma estabilidade de preços da soja. “Com o milho cotado a R$ 18,00 a saca e a soja a R$ 64,00 a saca, o produtor, para obter o mesmo rendimento que a oleaginosa proporciona, precisa colher três vezes mais em volume com o cereal. Em outras palavras, são necessárias 180 sacas de milho para ter o mesmo rendimento que 60 sacas de soja, por exemplo”, compara.

Ainda assim, conforme o diretor técnico do Irga, Sérgio Gindri Lopes, os resultados que vêm sendo alcançados com o milho são bastante promissores. “A rotação com o milho é o próximo desafio dos produtores. O que está acontecendo hoje com o cereal é o mesmo que aconteceu com a soja há três anos. Com a evolução das pesquisas, projetamos um aumento na produção do grão para os próximos anos, o que certamente vai atrair o interesse de empresas da cadeia produtiva de aves e suínos para o setor”, estima.

Schoenfeld relata que o objetivo com as primeiras pesquisas com milho no sistema de rotação com o arroz, na Estação Experimental de Cachoeirinha, era obter 10 mil toneladas por hectare. “Já estamos conseguindo colher 14 toneladas por hectare, o que é um volume significativo, já que o recorde obtido pelas lavouras do RS é 17 toneladas por hectare”, compara.

Para o pesquisador do Irga, um dos maiores desafios, tanto na cultura da soja quanto do milho, no sistema de rotação é o domínio da drenagem. “É preciso saber lidar com o excesso de irrigação, especialmente no caso do milho, que é ainda mais sensível ao excesso de água”, ressalta.

FIQUE DE OLHO
Os resultados obtidos até agora com as culturas de milho e soja no sistema de rotação com o arroz, bem como o desempenho da cultivar Tecirga 7060 RR, que já puderam ser vistos de perto no Dia de Campo Estadual organizado pelo Irga, no dia 5 de fevereiro, na Estação Experimental do Arroz em Cachoeirinha, e também serão demonstrados na Vitrine Tecnológica do instituto, durante a 24ª edição da Abertura Oficial da Colheita do Arroz, de 20 a 22 de fevereiro, em Mostardas (RS). A área tem sido manejada com supervisão da equipe de pesquisas do Irga e a melhor tecnologia disponível.

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