MERCADO DO MILHO: UM CENÁRIO AINDA POSITIVO QUE NÃO PERMITE DESCUIDO

O cenário atual do milho, na comparação com o da soja, ainda está positivo no Brasil em termos de rentabilidade. Porém, já esteve bem melhor meses atrás. Os preços locais, que haviam iniciado um processo de alta em meados de 2020, acabaram se acelerando diante de uma enorme frustração da segunda safra do cereal no Brasil em 2021. Junto a isso, colaboraram as altas de preços na Bolsa de Chicago. Nela, o bushel de milho subiu 34,7% nos últimos 12 meses, com a média mensal passando de US$ 3,98 para US$ 5,36 em outubro/21, lembrando que tal média chegou a US$ 6,16/bushel em abril/21.

Com isso, nota-se que, entre abril e outubro do corrente ano, o milho também perdeu valor em Chicago, caindo 13%. A diferença para com a soja é que no mercado interno brasileiro do cereal o impacto de Chicago é menor. Desta forma, tais preços locais se mantiveram firmes. Neste contexto, tomando-se o Rio Grande do Sul como referência, a média gaúcha no balcão inicia novembro em R$ 83,89/saco.

No ano passado, nesta época, o preço médio do saco de milho ao produtor estava em R$ 69,15. Isso significa que, nominalmente, o preço do cereal em 12 meses subiu 21,3%, superando largamente a inflação oficial no período (10,25% pelo IPCA), porém, ainda bem abaixo da elevação do custo de produção entre as duas safras (52% segundo a Fecoagro).

Enquanto isso, em termos reais, considerando a inflação pelo IGP-M (índice que considera também a evolução dos preços das commodities), o preço atual do milho, para manter o mesmo poder de compra de um ano atrás, deveria estar em R$ 83,64/saco. Portanto, o cereal está tendo um pequeno ganho real de tão somente 25 centavos por saco em seu preço atual em relação ao praticado um ano antes.

Desta forma, basicamente, o aumento do preço do milho apenas cobriu a inflação medida pelo IGP-M.

Dito isso, o mesmo ainda possui espaço para subir, dependendo especialmente de dois fatores: a) do comportamento da safra de verão, que vem sendo semeada; b) da desvalorização do real; pois vale lembrar que um dos elementos de sua estabilização, e até redução, apesar da frustração da última safrinha, está no fato de as exportações serem fortemente reduzidas (18 milhões de toneladas em projeção para este ano, contra mais de 40 milhões no ano anterior). Um cenário que exige muita atenção no gerenciamento comercial, pois a folga econômica da safra anterior já não existe mais nesta nova safra.

Argemiro Luís Brum
Professor titular do PPGDR da UNIJUI,
doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris (França), coordenador da Central Internacional de Análises de Mercado e de Estudos de Mercado Agropecuário (CEEMA/PPGDR/UNIJUI)

Milho em alta

O Irga não realiza estimativas sobre o avanço do cultivo de milho em terras baixas, sob irrigação e integrado ao sistema de produção de arroz, soja e, em alguns casos, pecuária. Contudo, vários de seus técnicos consideram a expectativa de que a área com o grão cresça neste ciclo e alcance entre 12 mil e 15 mil hectares nesse ambiente.

A valorização do grão, o déficit da região Sul e a demanda das áreas de pecuária, suinocultura e avicultura são alguns dos fatores que estão levando o arrozeiro a investir também no milho. Mas razões como o domínio do sistema de irrigação e drenagem, o custo de produção menor, o potencial produtivo e os benefícios agronômicos têm sido fundamentais para a escolha. O governo gaúcho tem apoiado a cultura através do Programa Mais Milho.

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