Mudam os ventos da Ásia
Após um ano em queda, cotações oscilam com os gargalos e safras menores
Enquanto a pandemia da covid-19 não termina, o mundo do arroz é afetado de diversas formas e o grão enquadra-se como um dos raros que, após a alta das commodities, sofreu forte desvalorização. Isso reflete nos mercados e poderá estabilizar ou recuperar parcialmente os preços no primeiro trimestre de 2022.
Em janeiro, por exemplo, as cotações da Índia registraram os maiores valores em sete meses após queda acentuada. A exportação de 20 milhões de toneladas, recorde absoluto (quase 40% do comércio global), apresentou fortes gargalos. Faltaram vagões de carga para os trens que levam arroz aos portos e o país suspendeu novos contratos.
Isso refletiu em países. A Tailândia viu aumentar suas cotações, timidamente, após meses de recuo. O Vietnã estabilizou os preços, boa notícia para quem teve quedas vertiginosas. Os três maiores exportadores têm estoques altos, mas a logística, a seca afetando as novas safras e a qualidade apontam maiores dificuldades para 2022.
Na África, o clima, a economia e a instabilidade política mais uma vez não permitiram avanços nas colheitas. Nos Estados Unidos, consolidou-se a queda de 16% na safra 2021, além de menor qualidade dos grãos. É previsto que mais produtores migrem para soja e milho em 2022 por causa dos preços mais atrativos, reduzindo a oferta de arroz.
MERCOSUL
Enquanto isso, o Mercosul, que tinha tudo para colher uma grande safra, enfrenta uma estiagem e temperaturas médias recordes, o que vai reduzir sua expectativa de safra. Um cenário que, se por um lado indica muitos problemas pontuais, pelo menos poderá gerar cotações mais relevantes ao longo da cadeia produtiva global.
Fique de olho
O cenário global segue indicando uma retração produtiva ao longo de 2022, ainda que mínima, por causa dos problemas de estiagem na Tailândia, no Mercosul e África, além da opção dos produtores norte-americanos por soja, milho e outros cultivos mais rentáveis. As projeções ainda são incipientes, mas o agravamento das estiagens pode levar a uma diferença ainda maior.
Rumo ao alto
Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a produção mundial do arroz em 2021 aumentou 1%, 780,7 milhões de toneladas (518,4 Mt base beneficiado) contra 773,7 Mt em 2020. Patrício Méndez del Villar, economista do Cirad, na França, explicou em seu boletim InterArroz sobre o mercado mundial que a produção asiática cresceu graças a uma safra recorde na Índia. Na China, a produção melhorou em 1%, contra 0,5% em 2020.
Na Tailândia e no Vietnã, a produção continua melhorando. Nos Estados Unidos, após recuperação em 2020, a produção voltou a cair pela redução da área plantada. No Mercosul, a colheita cresceu, em especial no Brasil, 4,5% em relação a 2020. Na África subsaariana, porém, voltou a sofrer com o clima, em especial a África Ocidental.
COMÉRCIO MUNDIAL
Em 2021, o comércio mundial do arroz aumentou 7,5%, isto é, 49 Mt contra 45,6 Mt em 2020. As necessidades de importação aumentaram em 10% no sul da Ásia, com destaque para Bangladesh. As importações chinesas cresceram em 2021, bem como na África subsaariana, com ênfase na Nigéria, Costa do Marfim e Senegal.
A Índia alcançou um novo recorde de exportação de 20,5 Mt, 40% do comércio mundial. Apesar do forte aumento das vendas, a Tailândia terminou o ano atrás do Vietnã, cujas vendas avançaram 7% em 2021. Em 2022, o comércio mundial deverá crescer mais 5%, para 51,5 Mt, o equivalente, pela primeira vez, a 10% da produção mundial.
ESTOQUES
Os estoques mundiais de arroz no fim de 2021 aumentaram em 0,7%, 187 Mt contra 185,8 Mt em 2020, representando 36% das necessidades mundiais. Está na média dos últimos cinco anos. A alta se deve em muito aos estoques da Índia, onde as colheitas foram boas em 2021.
Por outro lado, as reservas chinesas estão em queda de 0,5%, mas equivalem a 70% do consumo anual e 55% do estoque global.
As disponibilidades nos principais exportadores cresceram 5% em 2021, 52 Mt no caso, ou 28% dos estoques mundiais.