Muito potencial
Pandemia fortalece
a importância do
setor arrozeiro
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Quem imaginaria que seria necessário surgir um vírus mortal que gera risco a todo o mundo para que novamente os olhos da sociedade brasileira enxergassem a importância do setor arrozeiro para a segurança alimentar do país? Ao assegurar rápida resposta às chamadas compras de pânico, que giraram dois meses e meio de consumo ao longo da cadeia produtiva em pouco mais de 20 dias, mantendo o varejo abastecido mesmo com limitações de transporte e logística, a cadeia produtiva do arroz do Brasil demonstrou toda a sua capacidade produtiva. Ao mesmo tempo, deixou claro que opera com ociosidade e não pode mais esperar retorno apenas do mercado doméstico.
O ano comercial já prometia ser atípico, pois o Rio Grande do Sul – e por consequência o Brasil – plantava a menor área em mais de meio século e a previsão era de uma baixa produção por causa de problemas climáticos. Oferta ajustada, dólar favorecendo as exportações, disputa por matéria-prima entre os mercados interno e externo, parcelamento de dívidas foram alguns dos fatores que ajudavam a manter as cotações do arroz em casca mais altas até o final de fevereiro, quando a expectativa da pressão de oferta e as primeiras informações de altas produtividades começaram a alcançar o mercado.
Em torno do dia 8 de março surgiu com força a notícia de que a pandemia havia chegado ao Brasil e a partir do dia 10, diante da incerteza do futuro, os brasileiros correram para os supermercados para garantirem o abastecimento. Os supermercados, com baixos estoques porque esperavam a redução de preços de março para se abastecerem, precisaram recorrer à indústria com pedidos maiores e urgentes. A reação foi instantânea, tanto no preço do fardo para o varejo quanto no preço da matéria-prima para a indústria e a exportação.
A antecipação das compras, que deve resultar num maior consumo em curto e médio prazos, ajudou a elevar as cotações domésticas do arroz. O indicador de preços do arroz em casca (50 quilos – 58×10 – no Rio Grande do Sul Esalq/Senar-RS) registrou expressivas altas em março e abril, quando chegou a 10,21%, encerrando o mês a R$ 57,22 (US$ 10,32 pelo câmbio do dia). O repasse dos custos da matéria-prima já alcança o varejo, mesmo que ainda sem toda a intensidade prevista. A demanda faz com que o agricultor tenha a oportunidade de dosar suas vendas e, com isso, buscar uma rentabilidade que não teve nos últimos 10 anos.
Desde então, houve um deslocamento da demanda para o mercado varejista, chegando até as unidades beneficiadoras. Assim, com o aumento da procura, os preços do casca subiram de forma expressiva, atraindo alguns produtores. Outros, entretanto, aguardaram para realizar as vendas, na expectativa de cotações mais elevadas.
FIQUE DE OLHO
O preço registrado em 29 de abril era considerado até o dia 4 de maio – quando retomou a alta – um recorde nominal da série histórica do Cepea, que começou em 2005, mas, em termos reais (ou seja, considerando-se a inflação para o período, com base no IGP-DI até março/20), o indicador foi o maior desde fevereiro/17. A maior média real, de R$ 68,09/sc, foi registrada em maio de 2008, em plena crise mundial de alimentos.