No ritmo da produtividade

 No ritmo da produtividade

85% do crescimento da produção se deu em quilos por hectare.

De 1970 a 2004, a produção mundial de arroz cresceu a uma taxa média de 2,1% ao ano. No mesmo período, a área colhida com o cereal aumentou 0,4% ao ano e a produtividade das lavouras, 1,8%. Isso mostra que o crescimento da produção orizícola tem sido proporcionado pelo aumento da produtividade agrícola, ou seja, pelo ganho tecnológico, já que o aumento da área colaborou com apenas 1/5 do aumento da produção. 

Esses resultados foram apresentados pela equipe do Projeto Arroz Brasileiro no IV Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, realizado entre 9 e 12 de agosto, em Santa Maria (RS). O evento, cujo tema era “Novos caminhos para a produção de arroz irrigado no Brasil”, aconteceu em paralelo à XXVI Reunião da Cultura do Arroz Irrigado e reuniu mais de 700 pessoas. Os pesquisadores debateram assuntos como biotecnologia, meio ambiente, agricultura de precisão, recursos hídricos e mercado de arroz, entre outros. 

A equipe do Arroz Brasileiro utilizou regressões econométricas para estimar as taxas médias de crescimento anual da produção, da produtividade e da área colhida com arroz, de 1970 a 2004, nos principais países produtores do cereal (os asiáticos), além de Brasil, Estados Unidos, Argentina e Uruguai – os dois últimos, pouco expressivos em volume produzido, mas relevantes para o Brasil devido às relações comerciais com o país. A fonte dos dados foi a Food and Agriculture Organization (FAO). O estudo mostrou que a produção mundial de arroz em 1970 foi de 316,38 milhões de toneladas (base casca). Em 2004, esse número havia saltado para 608,49 milhões de toneladas, aumento de 48% no período (ou 2,1% ao ano).

 

Produtividade x área

Nesses 34 anos pesquisados, a área plantada com o cereal cresceu 13,15% (ou 0,4% ao ano), passando de 133,10 milhões de hectares em 1970 para 153,26 milhões de hectares em 2004. Já a produtividade aumentou 40% (ou 1,8% ao ano), de uma média de 2.377 quilos por hectare em 1970 para 3.970 quilos por hectare em 2004. 

Os autores explicam que a biotecnologia, especificamente o cruzamento de variedades, foi a responsável por grande parte dos ganhos de produtividade nas últimas décadas. Destacam-se aí, por exemplo, o arroz precoce, que se desenvolve em 90-120 dias, enquanto o normal leva de 120-150 dias para completar o período vegetativo; o arroz híbrido, altamente produtivo e largamente utilizado na China; e o arroz de sequeiro, que registrou indiscutíveis melhorias na qualidade e no rendimento, sobretudo no Brasil. 

A equipe do Arroz Brasileiro ressalta também a importância da incorporação de tecnologias ao longo de todo o processo produtivo, não somente no tocante a variedades. E cita as melhorias nas técnicas de plantio, com sementes pré-germinadas; melhorias na condução das lavouras, com a otimização do uso da terra e da água; adoção do sistema de plantio direto; adoção da rotação de culturas; melhor controle de pragas, doenças e plantas daninhas; maior eficiência dos insumos utilizados, com máquinas e equipamentos mais adaptados; e a aplicação de agroquímicos. 

 

A força da Ásia

De acordo com o artigo apresentado no seminário, a China é o maior produtor mundial de arroz, detendo mais de 30% do volume total produzido no planeta. Nos últimos 34 anos, a produção chinesa cresceu 39%, chegando a 186,73 milhões de toneladas em 2004. 

Índia e Indonésia ocuparam, neste período, o posto de segundo e terceiro maior produtor mundial, respectivamente. A produção indiana cresceu 49%, passando para 123,30 milhões de toneladas em 2004, enquanto na Indonésia, o aumento foi de 64%, para 53,10 milhões de toneladas. Bangladesh, Vietnã e Tailândia vêm na seqüência. 

O Brasil é o nono maior país produtor de arroz do mundo e o maior produtor do Ocidente. Em 1970, o país produzia 7,55 milhões de toneladas, tendo registrado um aumento de 43%, para 13,36 milhões de toneladas em 2004, conforme dados da FAO usados pelos autores. Os Estados Unidos ocupam a 11ª colocação no ranking de produção mundial, com 10,28 milhões de toneladas em 2004. 

MERCOSUL – Já os vizinhos do Mercosul que tanto incomodam o Brasil estão em 28º e 29º lugar. O Uruguai produziu 1,25 milhão de toneladas em 2004 e a Argentina, 1,06 milhão de toneladas. 

Analisando a área, observa-se que o país com a maior área colhida de arroz no mundo é a Índia, que com 42,50 milhões de hectares responde por 27,7% da área arrozeira do planeta. Em seguida vêm China, Indonésia e Bangladesh. 

No Brasil, a área colhida caiu 33% entre 1970 e 2004, deixando o país na 10ª posição. Os Estados Unidos têm a 15ª maior área colhida, ao passo que a Argentina e o Uruguai estão em 57º e 58º lugar, respectivamente.

Questão básica
Quanto à produtividade, surpreendentemente, os países com os mais altos índices não estão na Ásia, revela a equipe do Projeto Arroz Brasileiro. Baseado nas estatísticas da FAO, o país com produtividade mais elevada para o arroz é o Egito, com aproximadamente 9,5 mil quilos por hectare em 2004. Depois vem a Austrália (8,2 mil kg/ha) e a Grécia (7,9 mil kg/ha). Os Estados Unidos detêm a 4ª produtividade mais elevada, com 7,6 mil kg/ha em 2004. O Uruguai está em 8º lugar (6,6 mil kg/ha), China em 10º (6,3 mil kg/ha), Argentina em 12º (6,2 mil kg/ha). Já a produtividade média brasileira foi de 3,6 mil kg/ha em 2004, ante 1,5 mil kg/ha em 1970. O aumento foi de 58%, mas o resultado ainda deixa o país com a 45ª posição no ranking.
Mariana Perozzi – mbperozz@naturalss.com.br

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