Nova safra, velhos problemas
Recuperação dos níveis produtivos não pode ser comemorada no RS por causa do nível de preços
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Nenhuma safra é igual a outra e os tempos em que a abundância das lavouras garantia dinheiro no bolso já se foi. O Rio Grande do Sul está colhendo uma das maiores safras de arroz da sua história, assegurando 71,2% da oferta nacional do grão, equivalente a 8,502 milhões de toneladas em casca, com uma produtividade média prevista em 7.725 quilos por hectare, também superior. Ainda assim, não há festa por parte dos agricultores por causa dos baixos preços de comercialização no pico da safra, que chegaram a ficar abaixo de R$ 39,00 para um custo médio de R$ 44,00, ou seja, quem estiver com preço dentro da média e vender o produto para honrar compromissos perderá R$ 5,00 por saca de 50 quilos em casca.
Na verdade, apesar de alguns problemas pontuais, como um atraso de até três semanas na germinação de algumas áreas na Fronteira-Oeste e o tradicional atraso da semeadura na Depressão Central, onde costuma ocorrer muitas enchentes, o estado está colhendo 15,6% a mais do que no ano passado, quando o fenômeno climático El Niño gerou uma quebra importante (superior a 15%) na safra. É uma recuperação para aquele que deve ser o nível normal de colheita gaúcha em condições neutras ou favoráveis de clima. O avanço de 13% na produtividade demonstra bem a intervenção climática no resultado da safra, seja pela maior insolação, por permitir a semeadura das lavouras na melhor época indicada e facilitar os tratos culturais, ou, mesmo, por não ter gerado perdas por enchentes e enxurradas.
Mas não foi só isso que pesou no resultado final. Ou por precisarem de mais recursos para pagar as dívidas e renegociações sobre as perdas do ano passado ou porque os preços do segundo semestre cobriram os custos de produção e geraram renda para os arrozeiros capitalizados, muitos decidiram plantar mais. Assim, a superfície semeada aumentou 2,3%, de 1,076 para 1,100,7 milhão de hectares, segundo a Conab, e para 1,106 milhão, segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). O tempo dirá se a estratégia foi acertada ou não. Os arrozeiros também foram responsáveis pelo cultivo de 320 mil hectares de soja em várzea, retomando o crescimento da área em rotação e a alternativa de produção.
Para o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), há um divisor de águas nos valores da comercialização nesta temporada. “Quem colher acima de 8 mil quilos por hectare e vender acima de R$ 46,00 estará realizando lucro. Mas quem colher volume próximo de 7 mil quilos ou menos e vender abaixo de R$ 46,00 dificilmente deixará de ter prejuízos”, alerta. A segunda hipótese, infelizmente, será a realidade da maioria dos produtores. Temos perspectivas de melhores margens, mas claro que isso varia de produtor para produtor.
FIQUE DE OLHO
Segundo a Emater-RS, até o dia 15 de abril cerca de 70% da lavoura gaúcha de arroz estava colhida e registrando média produtiva acima de 7,5 mil quilos por hectare. A projeção é de que até o final do mês de abril praticamente toda a safra estivesse nos silos. A soja nas várzeas ainda entrará maio em operação de colheita.