O impasse das plantas de cobertura

 O impasse das plantas de cobertura

Sulco aberto expõe sementes e gera perdas

Azevém ajuda ou atrapalha
no sistema de sucessão ou
rotação do arroz e soja?
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 A escolha e o uso das plantas de cobertura são uma temática há anos estudada na tentativa de se achar a planta perfeita para integrar-se ao sistema de produção orizícola. O azevém tenta ocupar esse espaço, mas está longe da perfeição. Isso porque ano sim, ano também há uma incógnita de quais consequências negativas trará ao arroz. A pesquisadora Mara Grohs, do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), explica que a maioria dos trabalhos científicos o traz como vilão da queda do potencial produtivo da lavoura. “É uma planta de alta produção de matéria seca, extremamente adaptado aos solos hidromórficos, com o ciclo mais ou menos ajustado à época de semeadura do arroz. Perfeita? Longe disso”.

A cientista explica que as qualidades do azevém tornam-se seus defeitos quando o arroz está inserido em sequência. Isso porque o seu sistema radicular ocasiona um “adensamento” na camada superficial do solo, o que, quando da passagem da linha da semeadora, causa o espelhamento, mantendo o sulco aberto e a semente exposta a fatores adversos. Isso, segundo Mara, ocasiona uma diminuição no estande inicial, principal fator redutor de produtividade.
A entrada de um material novo estimula a decomposição, fazendo com que os micro-organismos aumentem a demanda por nitrogênio, retirando-o do solo para manter a atividade e causando deficiência nutricional nas plantas de arroz, em processo chamado de imobilização. “Isso poderá ocorrer mesmo quando o nitrogênio é colocado na base”, avisa a pesquisadora. “Dependerá muito da quantidade de material vegetal, as condições nutricionais do solo e as condições ambientais”, acrescenta.

Também não se pode esquecer que o azevém é extremamente suscetível à brusone. Está comprovado que se trata de um hospedeiro das mesmas raças do fungo que afetam o arroz, portanto é capaz de criar uma “ponte” da doença para a cultura seguinte.


SUSTENTÁVEL

Sob um enfoque mais sustentável, a presença de gramíneas de alta produção de matéria seca antecedendo a cultura rizícola é condição fundamental para maior emissão de gases de efeito estufa, principalmente o gás metano, situação que expõe o cultivo de arroz a ser visto como um dos vilões na agropecuária. Com a utilização de azevém, por menor quantidade de resíduos, pesquisas mostram que há um aumento em 25% dessas emissões, além do maior volume de produção de ácidos orgânicos, os quais podem ser tóxicos dependendo da concentração. Quando associa-se ao uso do plantio direto, com semeadura sobre a palha de arroz, há uma minimização das emissões destes gases. Portanto, esse manejo é indicado pensando em preservação do ambiente e redução de custos da lavoura.

Reforço: uso da palha como volumoso na alimentação pecuária 

Quais as opções para maximizar a utilização das terras baixas? 

Como a soja em sucessão se comportará?

A situação perfeita, segundo Mara Grohs, doutora em manejo e nutrição de plantas do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), seria o uso de uma leguminosa de inverno, de ciclo curto, desenvolvimento intenso até outubro e com resistência ao excesso hídrico. Até o momento, as opções restringiam-se a alguns tipos de trevos, ou serradela, que não atendiam a esses pressupostos, principalmente em relação ao ciclo e à falta de sementes disponíveis no mercado. Isso é, quando a planta iniciava o seu maior desenvolvimento vegetativo e posterior produção de sementes, era o momento de dessecá-la para semear o arroz.

Nesse sentido, o trevo persa tem aparecido como uma alternativa viável à adoção em terras baixas. Com sementes disponíveis, ciclo mais curto e alta produção de matéria seca, essa forrageira vem despertando interesse dos produtores, seja para pastejo, seja para melhoria da fertilidade natural do solo. A pergunta que fica no ar é: como a soja em sucessão se comportará diante de todas essas questões?

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