O paradoxo da soja

 O paradoxo da soja

Apesar da disputa por espaço, a soja não é
uma vilã, mas uma
aliada da orizicultura
.

A disparidade em relação à soja faz com que o arroz seja o produto mais afetado pelo gargalo na infraestrutura do Porto, sobretudo nos embarques a granel. A “rainha das commodities”, no entanto, não deve ser vista como a vilã desta história, que começou lá em 2005, quando foram retomadas as exportações brasileiras do cereal.

Pelo contrário, a cultura da oleaginosa em áreas tradicionais de arroz do Rio Grande do Sul, que vem crescendo em produção e área plantada ao longo das duas últimas safras, tem se mostrado uma excelente alternativa de renda para os orizicultores gaúchos. “Estamos vivendo uma era diferente. O produtor está mais capitalizado, pode contar com a soja e a pecuária, que estão remunerando bem. Os preços do arroz estão elevados em pleno período de safra, os estoques estão baixos e com baixa qualidade de produto. Além disso, o dólar, nas atuais cotações, não favorece muito as exportações”, pondera o presidente da Abiap, Marco Aurélio Amaral Júnior.

Na análise do dirigente, se a oferta de arroz para exportação fosse maior, o caos logístico seria ainda mais grave. “O produtor está segurando o cereal, seguindo uma mentalidade antiga, de quando o preço era baixo. No entanto, em longo prazo, a redução da oferta pode gerar uma bolha desnecessária no setor e até um processo de desindustrialização. Para o mercado externo, passa uma ideia errônea de que o Brasil não é um fornecedor confiável. Esta maneira de trabalho precisa ser repensada”, ressalta.

O aumento da demanda por arroz em casca nesta época, que tradicionalmente não costuma ser tão elevada, vem sendo alavancado pela conquista de novos mercados, como os países da América Central. O setor trabalha com a expectativa de que o fluxo das exportações retorne a sua normalidade a partir de junho, já que a meta é superar o desempenho obtido no último ano-safra, quando o volume embarcado superou a marca de 1,2 milhão de toneladas. “A exportação é fundamental para a estabilidade dos preços no comércio interno de arroz”, reforça o presidente do Irga, Cláudio Pereira.

Calote chinês

Enquanto o arroz amarga na fila de espera, o Porto de Rio Grande tenta evitar uma perda bilionária depois que a empresa de importações chinesa Shandong Sunrise Group ameaçou não cumprir os compromissos de contratos de soja americanos e brasileiros. O line-up foi modificado e os 12 navios contratados pela companhia chinesa foram postos para o fim da fila.
A medida tenta evitar perdas e acelerar o embarque de 38 outras embarcações. Se o calote for confirmado, o Porto de Rio Grande diz que não haverá armazenamento suficiente para toda a demanda porque as 720 mil toneladas do contrato chinês ainda estarão na área portuária. Aí pode faltar espaço para arroz. Em contrapartida, o Nordeste brasileiro anunciou em abril o terceiro contrato de importação de arroz da Ásia. O navio vem da Tailândia e chega no Nordeste.

FIQUE DE OLHO
Na temporada comercial 2013/14, que vai de março de 2013 a fevereiro de 2014, o Brasil vendeu 1,201 milhão de toneladas de arroz (base casca) e importou 965,6 mil toneladas, com superávit de 235,5 Mt. Os embarques tiveram queda de 270 mil toneladas (ou 18,3%) frente a 1,471 Mt negociadas na temporada 2012/13. O analista Tiago Sarmento Barata, da Agrotendências Consultoria em Agronegócios, avalia que o país contou, para isso, com a valorização do dólar, que neutralizou ao exterior a alta dos preços internos.

QUESTÃO BÁSICA
No ano comercial 2013/14, encerrado em fevereiro de 2014, o perfil das exportações brasileiras de arroz mudou. Agora apresenta maior presença do grão em casca e menor de beneficiado. São mais remessas para as Américas Central e do Sul, quando nas temporadas anteriores a África dominava a relação de clientes. Dentre os países compradores, destaque para Nicarágua, Venezuela, Cuba, Senegal, Serra Leoa e Benin. De 1,2 milhão de toneladas exportadas, 28% são cereal em casca, 36,7% de branco e 33,3% de quebrados.

Dito & Feito

O Brasil não tem um mercado consolidado, mas aproveita bem as oportunidades que surgem e tem se adequado à necessidade de alguns clientes para manter-se exportador. Este perfil de negócios está relacionado ao método de vendas, com as indústrias atuando individualmente, além da forte participação de tradings, da falta de tradição exportadora e de uma política voltada a exportações mais estável e profissional”. Tiago Sarmento Barata, da Agrotendências Consultoria em Agronegócios

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