O que mudou?

 O que mudou?

Brasil absorve estoques do Mercosul, exporta pouco
e isso impacta os preços.

 Apesar de colher uma safra considerada normal, com o suprimento – produção, estoque inicial e importações – de 13,75 milhões de toneladas, apenas maior do que o registrado na quebra da temporada passada (12,75 milhões de toneladas), o Brasil viu os preços do arroz despencarem em 2017. Da média de R$ 49,63 registrada em janeiro por saca de 50 quilos em casca (58×10), o grão desvalorizou até R$ 38,95 em maio. A diferença é de 21,5%, segundo o indicador de preços Esalq-Senar/RS.

Em relação ao mesmo mês em 2016, a queda foi de 7,8%. Já comparado ao pico de preços de 2016, R$ 50,50, a redução chega a 23%. Dois fatores são importantes para a queda, segundo o analista da AgroDados/Planeta Arroz, Cleiton Evandro dos Santos: “Houve concentração de vendas na colheita pelo vencimento dos contratos de custeio direto da indústria e fornecedores. O agricultor transferiu o arroz para a indústria ou em pagamento ou a depósito. De qualquer forma, perdeu o controle da oferta”, explica. Em segundo lugar, o câmbio, apesar das oscilações, fez com que fosse negativa a relação em dólar entre os preços nacionais e internacionais. “O arroz do Mercosul continuou entrando mais barato apesar da safra de recuperação, aumentando a oferta e derrubando preços. E não houve fôlego para exportar”, ilustra.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tem expectativa de saldo zero na balança comercial com a importação de 1 milhão de toneladas e a exportação do mesmo volume. Élcio Bento, da Safras & Mercado, porém, destaca que no primeiro quadrimestre do ano comercial, de março a junho, não se confirmou essa expectativa e o Brasil tem um déficit de 207 mil toneladas.

Assim, mantida a atual conjuntura e se não ocorrer uma desvalorização do real ou aumento inesperado da demanda, a estimativa é de que o Brasil tenha uma balança comercial negativa em até 600 mil toneladas na temporada. “Ou seja, parte substancial do estoque dos países do Mercosul, em especial o Paraguai, está sendo transferida para o Brasil mantendo as cotações domésticas mais travadas, o que não é bom para o bloco”, assegura.

Sérgio Roberto Gomes dos Santos Júnior, da Conab, considera que mantida a atual conjuntura é improvável o equilíbrio da balança comercial. A situação se agrava se levada em conta a alta nos custos de produção, que, segundo o Irga, chegou a 17,4%, subindo de R$ 44,11 para R$ 48,48, ou pior ainda, de US$ 11,03 para US$ 14,51.

No dia 20 de julho o indicador de preços Esalq-Senar/RS indicava média de R$ 40,35, o equivalente a US$ 12,89 pelo câmbio do dia: US$ 1,00 = R$ 3,15. “Como boa parte da produção foi negociada no primeiro semestre, a tendência é de uma recuperação gradual dos preços. Mas uma minoria dos arrozeiros, em especial no Rio Grande do Sul, poderá aproveitar esse momento para se capitalizar”, resume Santos.

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