Oscilante

 Oscilante

Schardong: tempos diferentes entre o anúncio de recursos e o dinheiro com o produtor

2011: o ano em que a orizicultura avançou em produção, exportação e
política setorial.
Mas e os preços?

.

Pelo reflexo de uma safra recorde de 13,61 milhões de toneladas, estoques de passagem relativamente altos e ainda obrigado a internalizar entre 800 mil e um milhão de toneladas de arroz do Mercosul, sob o pano de fundo das cotações internacionais enfraquecidas, o mercado de arroz brasileiro manteve-se ao longo de 2011 com preços baixos. Exceto por três ou quatro dias no mês de novembro, desde o início da colheita 2010/2011 as cotações do mercado interno se mantiveram abaixo dos R$ 25,80, garantidos para preço mínimo pelo governo federal. Desta vez não se pode culpar o governo, que também investiu volume recorde de recursos em diversos mecanismos de suporte à comercialização.

Faltaram armazéns credenciados e sobrou burocracia, mas foram investidos 1,15 bilhão de dólares para apoiar a comercialização do arroz no Brasil, num ano em que todas as demais culturas tiveram bom desempenho e rentabilidade (exceto o tabaco, que não recebe apoio oficial). “O problema é que entre o anúncio dos recursos e a chegada ao bolso do produtor passa muito tempo. O governo conta o tempo de uma forma diferente do agricultor”, diz Francisco Schardong, presidente da Câmara Setorial Nacional do Arroz. “Isso sem contar que uma parte fica no bolso da indústria por meio destas tabelas ‘orelhanas’ que andam por aí”, acrescenta. Um levantamento da Farsul, divulgado em janeiro, aponta que a lavoura gaúcha perderá 11% de sua receita na safra atual por conta da estiagem “para tornar a situação ainda mais crítica”.

Schardong, porém, acredita que a presença de políticos ligados às regiões arrozeiras à frente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), caso do ministro Mendes Ribeiro Filho e do secretário de Política Agrícola, Caio Rocha, poderá fazer diferença em 2012. “São pessoas que têm conhecimento das dificuldades desta cadeia produtiva e de seu alcance social e econômico. E estão com farto material, estudos da cadeia produtiva e sugestões dos setores. Se quiserem, podem fazer uma grande gestão”, avisa.

ALTA
O presidente da Câmara Setorial e diretor da Farsul, Francisco Schardong, espera preços mais adequados em 2012. “Há uma redução substancial da oferta no Brasil e no Mercosul. Se os recursos federais entrarem na hora certa e no tempo do arrozeiro, não no do governo, deveremos ter preços melhores ao longo do ano. Mas, veja bem, melhores do que em 2011, mas ainda não ideais para o produtor fazer frente ao custo de produção integral, ao passivo de dívidas e para gerar renda e algum investimento na lavoura e na sua estrutura”, avisa.

Renato Rocha, presidente da Federarroz, tem a mesma opinião. “Os sinalizadores são de preços melhores ao longo de 2012 pela redução dos estoques, via exportação, e das colheitas do Mercosul e do Brasil. Ainda assim será uma grande safra, que garantirá o abastecimento interno. Daí a importância dos mecanismos de comercialização já entrarem agora, na abertura da colheita, para retirar o risco de uma possível pressão de oferta do mercado”, alerta.

O futuro do arroz no Mapa

Ações de governo serão fundamentais para o comportamento dos preços

O consultor Tiago Sarmento Barata, da Agrotendências Consultoria em Agronegócios, destaca que ao longo de todo o segundo semestre, desde maio, quando tínhamos preços até R$ 6,00 por saca de 50 quilos abaixo do preço mínimo, os preços do arroz iniciaram uma recuperação, que não foi suficiente para tornar o mercado remunerador. “O primeiro semestre foi de muita apreensão, tínhamos em mãos uma supersafra, preços extremamente baixos e nenhuma expectativa de melhoria que não dependesse da intervenção pública. Em um ano de mudanças na política nacional houve o entendimento do setor público de que a cadeia do arroz precisava de apoio e praticamente todas as demandas foram atendidas”, frisa Barata.

Segundo ele, o volume de recursos aplicados em diversos mecanismos de apoio à comercialização foi o maior já visto, acima de 1,15 bilhão. “Como consequência, parte do excedente foi absorvida pelo governo e as exportações superaram as expectativas mais otimistas. A recuperação dos preços ocorreu de forma mais intensa nas praças exportadoras, enquanto que nas praças de comercialização mais distantes do porto, como por exemplo a fronteira-oeste gaúcha, as cotações custaram a reagir”, explica.

Para o consultor, a continuidade do comportamento firme dos preços vai depender da conduta do governo federal. Muito provavelmente não haverá a intervenção nas proporções do ano passado, pois agora, ao contrário de 2011, o Mapa precisará atender também outras culturas que passam por dificuldades, como milho, soja e feijão. “Com uma safra menor (também no Mercosul) e uma baixíssima posição do estoque de passagem privado, vamos ter uma oferta mais ajustada à demanda, e isso é um fator altista. Por outro lado teremos um mercado internacional menos atraente, para Brasil e para os vizinhos do Mercosul, e a possibilidade de liberação de estoque público pode ser um limitador de preço”, considera Tiago Sarmento Barata.

Ainda segundo o analista, 2012 será um ano com as atenções mais voltadas ao mercado interno. As questões relacionadas à competitividade dos estados produtores no abastecimento do mercado doméstico voltarão à pauta das discussões. As exportações deverão acontecer com maior dificuldade, podendo ocorrer ainda via VEP ou PEP. Barata também lembra que apesar da redução em relação à safra passada, a produção no Rio Grande do Sul será, segundo o levantamento da Conab, a terceira maior da história. “A quebra parece maior porque a safra anterior foi um recorde”, destaca.

MERCOSUL
Eduardo Aquiles, analista de Safras & Mercado, considera que o Mercosul (Uruguai, Argentina e Paraguai) terá um papel importante também na definição dos preços internos e no comportamento do mercado brasileiro. “Mesmo com uma safra menor, estes países produtores têm o mercado brasileiro como prioritário. Uma alta de preços no Brasil fatalmente atrairá uma pressão de oferta externa, principalmente para o Nordeste, além de poder acarretar a liberação gradativa de estoques públicos internos”. Ele acredita que o produtor deve ficar de olho na paridade dos preços de importação, que serve de balizador do mercado. Se o governo brasileiro subsidiar as exportações, principalmente no primeiro semestre, compensando as importações, esse equilíbrio pode elevar de forma mais significativa os preços internos, mas para isso é preciso haver muitos recursos disponíveis.

QUESTÃO BÁSICA

Com base no levantamento de janeiro divulgado pela Conab sobre as perspectivas da safra de grãos 2011/12, Tiago Sarmento Barata destaca que a produção gaúcha será apenas 2,8% menor do que a média dos últimos cinco anos. E a safra nacional, 6,5% menor do que a média do mesmo período. “É claro que a estiagem pode interferir e a partir dos próximos levantamentos estes índices podem até aumentar”, revela.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter