Pesquisa sob pressão
O consumidor determina a linha do melhoramento.
A busca pela excelência no produto oferecido nas gôndolas dos supermercados é uma tendência que já chegou aos programas de melhoramento genético do arroz dos centros especializados da Embrapa e do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga). Os pesquisadores trabalham sob a pressão da indústria para desenvolver variedades de melhor aceitação da cadeia produtiva e do consumidor.
O pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Ariano Martins de Magalhães Júnior, destaca que tradicionalmente a pesquisa fundamentava-se nos atributos agronômicos, ou seja, buscava variedades de alto potencial produtivo e tolerantes às doenças e pragas. “Agora, a viabilidade ou não de uma cultivar depende da conjugação do interesse dos produtores e da indústria ao nível de exigência dos consumidores brasileiros”, revela. Isso quer dizer que mesmo uma variedade que alcançaria no campo 15 mil quilos de arroz por hectare estaria condenada se não for bem no “teste da panela”.
Segundo o presidente do Irga, Maurício Fischer, não faltam linhagens de alta produtividade nos programas de melhoramento. O problema é conjugar essas características às demandas da indústria e ao gosto do consumidor brasileiro. “Quando a dona de casa determina na hora da compra o tipo de arroz que quer, está assumindo um status de melhorista e é determinante para os rumos do mercado”, diz Magalhães Júnior. Por isso, o programa de melhoramento da Embrapa não lançará mais material “por peso”. “É uma decisão irreversível”, explica o pesquisador.
VARIEDADES – No Rio Grande do Sul, duas variedades são preferidas pela indústria para suas marcas de alta qualidade pelo seu diferencial de rendimento e aceitabilidade do consumidor: a BR Irga 409, desenvolvida numa parceria da Embrapa Clima Temperado e o Irga, e a Irga 417, que é considerada a cultivar top do país e preferida para fazer o tipo extra. A Embrapa, que perdeu uma fatia do mercado de cultivares de arroz irrigado para a Irga 417, aposta suas fichas na BRS Atalanta, que apresenta percentual de grãos inteiros e qualidade muito similar à marca líder.
A top 417
A cultivar Irga 417 tem porte baixo, ciclo médio de 115 dias, alto vigor inicial e grande potencial produtivo, com capacidade média de 7,5 toneladas/hectare. É mediana-mente tolerante à brusone. Os grãos possuem alto teor de amilose, temperatura de gelatinização baixa, com alto rendimento industrial. Segundo o especialista em pós-colheita do Irga, Carlos Alberto Fagundes, esta é a variedade líder de mercado por conseguir conjugar as melhores características agronômicas, industriais e sensoriais. Ou seja, trata-se de uma variedade que após o processo de Irga 417: referência de qualidade para a lavoura brasileira cocção apresenta uma condição de grande aceitabilidade pelos consumidores por ficar bem “soltinho” na panela, com boa aparência, branco homogêneo, uniforme, com odor e sabor característicos do arroz.
Além disso, apresenta os melhores rendimentos de engenho, com mais grãos inteiros após o polimento e mais quantidade e peso (inclusive de quebrados) após o beneficiamento. No campo também apresenta alta produtividade e, por sua aceitabilidade por parte do consumidor e rendimento na indústria, apresenta uma remuneração de R$ 2,00 até R$ 4,00 acima do produto padrão, em novembro, no RS.