Planejamento estratégico
Sérgio Roberto Gomes dos Santos Júnior, analista da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), acredita que uma queda de preços levemente maior do que o esperado se deve ao fato de a indústria ter chegado relativamente abastecida à safra. “O financiamento direto produziu nesta temporada um fenômeno interessante: a indústria planejou um estoque mais ajustado com importações e safra velha visando ter produto para processar até 60/70 dias após o vencimento dos contratos. E só se abasteceu no pico da colheita, exceto aquelas que precisaram ir às compras em volumes menores para equilibrar esse estoque de espera”, afirma.
Para ele, o segmento industrial não entrará comprando forte no mercado até o segundo semestre. A tendência é de os preços se manterem baixos durante a colheita e naquelas semanas imediatamente posteriores. Depois, gradativamente, espera-se uma reação, mas em níveis inferiores aos que vimos no ano passado. Santos Júnior acredita que haverá alguns picos de alta, mas suspeita que não alcancem os R$ 50,50 do ano passado.
E o preço, ó!
Estudo realizado pela Farsul demonstra que as maiores perdas do rizicultor gaúcho estão nos custos de produção, em boa parte determinados pelas indústrias de insumos. Comparando custos operacionais médios em julho do ano de plantio e a renda em março do ano de colheita, os resultados são impactantes. “O desembolso aumentou 13% e os prejuízos subiram de R$ 145,90 por hectare para R$ 722,61 de 2015/16 a 2016/17. Falta renda e os agroquímicos têm peso significativo”, avisa Antônio da Luz, da Farsul.
Henrique Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), destaca que a conjuntura de safra e mercado em 2015/16 determinou uma situação na qual muitos rizicultores tiveram prejuízos e poucos lucraram mais de R$ 2 mil por hectare. “Isso vai de estar capitalizado ou não, ser dono da terra ou arrendatário, ter acesso ao crédito oficial, culturas alternativas, armazenagem própria e transporte, condições de negociar no momento certo tanto para vender a safra como para comprar os insumos e o grau de tecnologia e eficiência na lavoura e na comercialização”, enumera.
Para Antônio da Luz, um dos problemas é o fato de o rizicultor menos capitalizado focar no preço baixo sazonal e não se dar conta de que a sangria é maior por não administrar seus custos. “E esse não é só um problema de gestão, mas do fato de o país ter uma política de tributação e restrição do acesso ao fornecimento internacional”, emenda Antônio da Luz.
Segundo ele, o agricultor brasileiro precisa colocar em pauta o fato da indústria e o varejo terem o direito de importar arroz de qualquer lugar, mas a lavoura não pode adquirir defensivos ou fertilizantes fora do país. E nem são genéricos, mas a marca comercial idêntica comercializada aqui e lá fora.
O preço do glifosato nos Estados Unidos é quase a metade do que se paga no Brasil e num trator a diferença é de 40%. Luz afirma que é preciso liberalizar o mercado para que os agricultores possam exercer os seus direitos de comprar os insumos onde bem entenderem.
Valor da produção do arroz aumenta
Em fevereiro, o valor bruto da produção agropecuária (VBP) de 2017 foi estimado em R$ 548 bilhões, 3,2% superior aos R$ 531 bilhões do ano passado, de acordo com a Secretaria de Política Agrícola (SPA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O arroz deverá crescer 20,7%, de R$ 10,2 para R$ 12,3 bilhões. Apesar do aumento do meio circulante, como se percebe pela realidade de boa parte dos produtores, a renda não está chegando a todos.