Ponto de impacto
Mercosul pode produzir menos sob La Niña e manter os preços altos
Determinante em todas as safras, na atual temporada o clima será especialmente responsável pelo abastecimento de arroz e soja em terras baixas no Mercosul e também a formação de preços. Isso porque se espera, nas regiões arrozeiras do Sul do Continente, volume de chuvas abaixo da média pela ocorrência do fenômeno climático La Niña. Em geral, verões com este perfil climático trazem redução do volume de chuvas no Sul da América do Sul, mas com boas produtividades arrozeiras por causa da boa reserva de água alcançada no inverno/primavera nas barragens. Alguns recordes de produção estão ligados a anos de ocorrência deste fenômeno. “Sol na cabeça e água no pé”.
Nesta temporada, no entanto, o cenário é bem diferente: “Estamos saindo de um ano neutro que causou uma seca muito forte e atingiu desde o Paraguai até o Rio Grande do Sul, parte de Santa Catarina, da Argentina e do Uruguai, em especial as zonas rizícolas”, explicou a agrometeorologista Jossana Cera, do Irga.
As baixas temperaturas e o vento também têm sido incômodo. A estimativa inicial é de que, juntos, os quatro países vão produzir cerca de 345 mil toneladas a menos, apesar do aumento de mais de 35 mil hectares em área. A redução produtiva e os baixos estoques deem manter preços remuneradores na região.
“Apesar da previsão de maior ocorrência de chuvas em dezembro e janeiro, como previsto houve redução em algumas regiões como a Fronteira, a Campanha e a Depressão Central, que atrasaram o plantio nas terras baixas e atrapalharam a emergência uniforme das plantas”, complementou. A Agência Espacial Norte Americana (NASA) indica que grande parte da América do Sul sofre a segunda mais grave seca deste século. “Sinais de uma grande estiagem começaram a aparecer em observações de satélite do sudeste do Brasil em meados de 2018, e se espalharam por partes do Paraguai, Bolívia e norte da Argentina em 2020”, diz boletim.
No Rio Grande do Sul, chegou-se a projetar mais de um milhão de hectares em intenção de plantio, mas a limitação hídrica não deve deixar a área passar de 980 mil hectares. Se chover bem entre o fim de novembro e dezembro, é possível que a área cresça. A Zona Sul gaúcha semeou de 1% a 2% mais do que o previsto.
A situação mais grave é a do Paraguai, que deve deixar de plantar até cerca de 20 mil hectares de arroz por falta de água. São 18 mil hectares a menos do que na safra passada e outros dois mil que seriam ampliados. “Situação nunca vista. Tivemos dificuldades para implantar a lavoura, na emergência e agora, rios menores secos impedem a irrigação”, reconhece Ignácio Heinsecke, presidente da Associação Paraguaia de Produtores de Arroz (APPA). Os casos mais graves estão nos rios Tebicuary e afluentes. “O clima terá que ser muito favorável daqui pra frente, afinal o arroz é uma cultura muito responsiva a clima e tecnologia”,
A Argentina, que previa uma recuperação mais expressiva da área, também tem problemas de limitação hídrica, segundo o engenheiro agrônomo Christian Jetter, da Associação Correntina de Produtores de Arroz (ACPA). No Uruguai. Alfredo Lago, presidente da Associação dos Cultivadores de Arroz do Uruguai (ACA) considera que de 5 mil a 10 mil hectares podem deixar de ser plantados.
“O cenário econômico, diante dos preços internacionais, dos baixos estoques e da renegociação do crédito indicavam uma tendência de recuperação de área, mas houve a limitação por água. Fora isso temos os custos de replantio em algumas áreas e um possível impacto na produtividade, explicou.