Preços devem se manter elevados em 2021
Ainda que não nos mesmos patamares, o cenário do fim de agosto para os preços do arroz é de patamares altos até o fim do ano comercial, em fevereiro de 2021, e ainda rentáveis ao longo de 2021/22. Isso porque, mesmo com aumento de área, a estimativa dos analistas e da Conab é de uma relação de oferta e demanda equilibrada, apesar do maior estoque de passagem – acima de 800 mil toneladas – dos últimos cinco anos para fevereiro de 2022. É consenso que quem poderá derrubar o mercado de arroz é o próprio arrozeiro, ao definir a área plantada e a dimensão da colheita que está sendo semeada.
“Superdimensionar pode nos fazer perder o que se construiu até agora em termos de preços”, entende o presidente da Federarroz, Alexandre Velho. Ele acredita que os bons preços da pecuária e da soja incentivam o produtor a manter-se com área limitada para assegurar uma relação de oferta e demanda ajustada o suficiente para garantir abastecimento interno, exportação e um estoque estratégico.
O Mercosul também vai aumentar área, assim como os Estados Unidos colhe uma grande safra e a Índia busca um recorde. “O mundo está abastecido, tem estoque recorde de 182 milhões de toneladas. O problema é que mais de 80% estão concentrados na Índia e na China”, explica Cleiton Evandro dos Santos, de AgroDados/Planeta Arroz.
Segundo ele, os estoques ajustados no Brasil até o fim do ano determinarão preços em novos patamares, mesmo ao consumidor, mas a próxima safra não deve fazer as cotações voltarem aos patamares de 2019, por exemplo. “Sob aumento adequado da produção, a tendência é de que não tenhamos preços nem tão perto dos R$ 100,00 e nem dos R$ 40,00. Hoje se trabalha com uma expectativa em torno de R$ 60,00 para a época de colheita, limite de travamento para 30 de março por alguns contratos de CPR´s. Éum bom preço de arrancada ao agricultor. Muitos fatores vão interferir até lá”, observa.
A ressalva é uma enxurrada de arroz norte-americano no Brasil no segundo semestre e a expansão exagerada do plantio no país e no Mercosul. Colheita que aumente um milhão de toneladas na região pode representar até R$ 40,00 a menos por saca de arroz em casca ano que vem, e volta aos patamares históricos.
Santos lembra que o custo de produção deve subir pelos fertilizantes e defensivos cotados em dólar, máquinas e equipamentos e também pelas taxas sobre diesel, energia, entre outros. Outro motivo de preocupação é o clima. “Após a estiagem prolongada, tivemos outono e inverno que não permitiram a recomposição total das barragens. Sem boas chuvas de primavera, podemos ter a área limitada pela incapacidade de irrigar”, aponta André Mattos, coordenador do Irga na Zona Sul.
Quem tem boas produtividades em soja, em especial o cultivo irrigado e dispõe de água, não tem motivos para ampliar a área de arroz de forma significativa. Soja tem liquidez e boa margem de preços. A pecuária também tem gerado bons rendimentos. “No arroz, tivemos um ano atípico. Mas, mesmo colhendo bem, o arrozeiro pode ter prejuízos. Dependerá de custo, produtividade e preço médio de venda”, explica Santos.