Preso ao preconceito

Pesquisa de baixa produção de gás metano
pode levar décadas
para aprovação regulatória .

 Anunciada em 2015, depois de mais de uma década de estudos, a pesquisa que envolveu cientistas de três países e gerou uma variedade de arroz geneticamente modificado (GM) capaz de neutralizar a produção de gás metano, o segundo dentre os que mais contribuem para o efeito estufa, vem ganhando inúmeros elogios na comunidade científica como um dos trabalhos de maior relevância dos últimos anos no setor orizícola mundial. Porém, o preconceito e as legislações limitantes ao cultivo de OGMs farão com que a sua aplicação prática demore décadas. Um tempo que talvez o planeta não tenha para esperar.

Considerado um alimento básico para metade da população mundial, o arroz também é considerado uma das maiores fontes de metano atmosférico. Preocupados com isso, cientistas vinculados a um projeto internacional criaram um tipo de arroz que praticamente não emite nenhum metano durante o crescimento da planta. Além disso, os grãos contêm mais amido, o que é considerado desejável para tornar a fonte de alimento mais rica e gerar maior quantidade de biomassa para a produção de energia.

Para criar o novo grão, com nome provisório de Susiba2, os cientistas introduziram um gene da cevada à célula vegetal do arroz comum. A nova planta é capaz de nutrir seus caules, folhas e os próprios grãos de maneira eficiente sem, contudo, alimentar os micróbios ligados às raízes que produziam o gás metano no solo. Com isso, os pesquisadores concentraram as taxas de carbono e açúcar resultantes da fotossíntese nas partes superiores da planta.

Christer Jansson, um dos pesquisadores envolvidos e diretor de ciências das plantas no PNNL, um laboratório de pesquisa do Departamento de Energia dos Estados Unidos, explica que durante a fotossíntese o dióxido de carbono é absorvido e transformado em açúcar que ou alimenta a planta ou fica armazenado. O problema é que as raízes cheias de nutrientes da planta combinadas com um solo quente e úmido formam o ambiente ideal para as bactérias realizarem o processo que resulta na produção do gás.

Em uma parte inicial do estudo os pesquisadores investigaram de que maneira uma proteína especial, chamada fator de transcrição, interferia na distribuição desse açúcar na planta. Então canalizaram mais carbono para as sementes de arroz, criando um grão mais volumoso e com mais amido. Também observaram que canalizando carbono e açúcar resultante para folhas e caules aumentava a massa do grão e criava maior quantidade de biomassa vegetal, ou bioenergia. Como o carbono praticamente não chegava às raízes e ao solo, os micróbios não conseguiam produzir metano.

Os pesquisadores descobriram o fator de transcrição e concluíram que a molécula funcionava como um gene “controlador”, pois tinha a capacidade de direcionar a maior parte do carbono disponível para os grãos e folhas. “Ao controlar onde o fator de transcrição é produzido podemos impor onde em uma planta o carbono – e os açúcares produzidos – se acumula”, acrescenta Jansson. O cereal geneticamente modificado foi plantado por três anos ao lado de uma lavoura de arroz comum e após esse período os pesquisadores concluíram que o Susiba2 havia aumentado a produtividade da cultura e praticamente eliminado as emissões de metano.

Combate ao efeito estufa

“Tentativas para aumentar a produtividade do arroz e reduzir as emissões de metano, como vistos no arroz Susiba2, podem ser particularmente benéficas em um clima futuro – com o aumento das temperaturas – resultando em aumento das emissões de metano provenientes de plantações”, diz o estudo publicado no jornal Nature. Os arrozais contribuem para até 17% da emissão global de metano, ou 100 milhões de toneladas por ano. Ainda que seja uma taxa relativamente menor do que o dióxido de carbono, o principal gás de efeito estufa, o metano retém cerca de 20 vezes mais calor.

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