Produtores pedem rigor na sanidade do arroz uruguaio

Reivindicações foram encaminhadas ontem ao governo federal.

Dispostos a dificultar a entrada de arroz uruguaio e argentino no Brasil, produtores gaúchos solicitaram ontem ao Ministério da Agricultura um maior rigor no controle sanitário do grão importado. Enquanto representantes da Federação das Associações dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) gestionam o pedido em Porto Alegre e Brasília, centenas de agricultores mantêm o bloqueio a 14 caminhões na BR-153, em Aceguá, na fronteira com o Uruguai.

A solicitação encaminhada ao ministério na manhã de ontem prevê a exigência de análise de risco total no arroz importado. Com o documento, foi entregue uma lista contendo os nomes de 49 produtos agrotóxicos e fungicidas cujo uso é proibido no Brasil, mas liberado nos dois países vizinhos.

Hoje, no final da manhã, dirigentes rurais e arrozeiros entregam um documento do manifesto ao governador Germano Rigotto, que estará em Alegrete.

Para o presidente da Federarroz, Valter Pötter, a medida visa à proteção dos consumidores e ameniza a concorrência com o grão gaúcho.

– Existe a suspeita de que esse arroz esteja contaminado por toxinas e fungos, já que esses produtos são usados em larga escala tanto no Uruguai quanto na Argentina – diz.

ESTRATÉGIA

A exigência dos arrozeiros faz parte da estratégia traçada para evitar uma depreciação ainda maior do preço mínimo pago ao produtor. Segundo cálculos da Federarroz, o custo de produção da saca de 50 quilos é de R$ 29,60, enquanto o valor pago pelo mercado gira em torno de R$ 20. Os dirigentes reclamam ainda da existência de um estoque de 1,5 milhão de toneladas do grão da safra passada. Desde o ano passado, o Brasil é auto-suficiente em arroz, com uma produção de 12,8 milhões de toneladas.

– Não adianta a gente produzir o suficiente para o consumo se entra 1 milhão de toneladas do Uruguai e da Argentina a preços mais baixos. Há 72 impostos embutidos na nossa cadeia produtiva – reclama o produtor Renato Rocha, de Dom Pedrito.

Em assembléia realizada à beira da BR-153, ontem à tarde, os agricultores decidiram manter a mobilização. Além do bloqueio à entrada do arroz uruguaio, eles pretendem realizar protestos em frente às agências do Banco do Brasil, reivindicando a prorrogação do vencimento da primeira parcela dos financiamentos de custeio da safra.

A categoria também pretende formar comissões municipais para renegociar dívidas com fornecedores. Enquanto os arrozeiros discursavam encarapitados na traseira de uma caminhonete, 14 caminhões lotados com 400 toneladas de arroz uruguaio continuavam estacionados na garagem da Aduana Integrada de Aceguá.

CONTRAPONTO

O que diz o governo federal:

Ainda ontem, o governo uruguaio solicitou oficialmente a intervenção do governo brasileiro para a liberação da fronteira ressaltando “a qualidade do produto uruguaio”. Em resposta, a embaixada brasileira emitiu uma nota declarando que a importação do arroz uruguaio é de fundamental importância para o abastecimento interno do país.

De acordo com o superintendente adjunto do ministério no Estado, José Euclides Severo, o documento da Federarroz foi enviado a Brasília para apreciação do ministro Roberto Rodrigues. Severo, entretanto, sugeriu a possibilidade de que sejam colhidas amostras do arroz importado, para serem submetidas a exames laboratoriais.

– Esse exame só pode ser feito no Paraná, e a resposta demora cerca de 30 dias. Não podemos reter as cargas sem provas. Por enquanto, há apenas a suspeita de uso desses produtos – justificou.

Em Brasília, o documento foi recebido pelo secretário de Defesa Agropecuária, Gabriel Maciel, e encaminhado a uma equipe técnica do Ministério da Agricultura que irá discutir o assunto nos próximos dias. Fontes do ministério, porém, informam que dificilmente o pedido será atendido, devido à dificuldade de implantação.

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