Queda à vista
FAO projeta queda nas safras globais de arroz em 2022/23
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) está projetando leve queda na produção global de arroz para a temporada 2022/23. O clima e a retração produtiva em algumas regiões, entre elas a América do Norte, o Mercosul, partes da Ásia e da África, são algumas das causas. A questão cambial e a falta de fertilizantes em alguns países agravam a situação.
A projeção é de que a colheita seja menor em dois milhões de toneladas (base beneficiado), para 520,5 milhões de toneladas (780,8 Mt em base casca). A Índia e a China serão responsáveis por boa parte dessa redução. O consumo mundial, ainda segundo a FAO, por sua vez, deverá aumentar 1,1 milhão de toneladas, para 523,1 milhões. Isso ajudará a enxugar os estoques globais, que, pelos números da instituição, devem ficar em 191,7 milhões de toneladas (base beneficiado). China e Índia, novamente, detêm 60% dos estoques mundiais.
Mesmo discordando na produção e no suprimento, que projetam maiores, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) e o Conselho Internacional de Grãos (IGC-G20) concordam com o avanço do consumo, do comércio internacional e redução nos estoques.
Segundo o economista Patrício Méndez del Villar, do Cirad, em seu Boletim InterArroz, no Mercosul, após um aumento em 2021, a produção teria diminuído 8% em 2022, regressando ao nível de 2020. Perdas foram registradas na Argentina, Brasil e Paraguai. Na África subsaariana, a produção de arroz foi novamente afetada pelas más condições climáticas, em especial na África Ocidental.
Fique de olho
Os estoques mundiais de arroz, no fim de 2021, aumentaram 2,7% para 191,5 Mt, contra 186,3 Mt em 2020. Representam 37% das necessidades, acima da média dos últimos cinco anos. Isto, segundo Patrício Méndez del Villar, do Cirad, deve-se às maiores reservas indianas e suas boas colheitas em 2021. O volume armazenado chinês teve queda de 0,5%, e poderá cair mais em 2022, mas representa 70% do consumo anual do país e 50% das existências mundiais. Nos principais países exportadores, os estoques subiram 5%, para 55 Mt, equivalente a 30% dos volumes mundiais. Em 2022, as reservas podem aumentar 1% para 192,4 Mt, mas deverão apresentar leve recuo em 2023.
Comércio em alta
Em 2021, o comércio mundial do arroz aumentou 13% para 51,4 milhões de toneladas (Mt) em base beneficiado, contra 45,6 Mt em 2020, registrando o maior aumento desde 2017. Patrício Méndez del Villar, do Cirad, informou no InterArroz, que as necessidades de importação aumentaram em 10% no sul da Ásia, em especial pelo retorno de Bangladesh às compras. As importações chinesas cresceram, assim como na África subsaariana, que observou forte demanda, com destaque para a Nigéria.
Em 2021, a Índia atingiu o recorde de exportação em 21,5 Mt, 48%, acima de seu recorde anterior, em 2020, e representou 42% do comércio entre países. A Tailândia, apesar de vender mais no segundo semestre de 2021, ficou na terceira posição, atrás do Vietnã, cujas vendas avançaram 5,5% em 2021. Em 2022, as projeções indicam aumento de 3% no comércio, para 53,1 Mt. A Índia deverá consolidar sua liderança, ao embarcar 20 Mt em 2022, e a Tailândia poderá recuperar o segundo lugar, negociando oito Mt contra seis Mt do Vietnã. Sobre a Índia, porém, recai o temor de uma suspensão das vendas, que traz maior volatilidade ao comércio global.