Queda coletiva

 Queda coletiva

Se preços já derrubariam área e produção, atraso
no plantio derrubará rendimento médio
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 O Rio Grande do Sul, estado que produz 71% do arroz brasileiro, vai reduzir área, produtividade e produção na safra que está sendo semeada. Embora a Companhia Nacional de Abastecimento, em outubro, aponte estabilidade na superfície plantada, os indicativos se contrapõem à teoria. É unânime, no setor, que mesmo a intenção de plantio de 1,078 milhão de hectares identificada pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) em agosto, com queda de 2,5%, está subestimada face à realidade atual.

Para a Conab, o estado está plantando os mesmos 1,1 milhão de hectares da safra 2016/17, quando colheu 7.930 quilos por hectare e 8,73 milhões de toneladas no total. O órgão federal estima que a interferência do clima reduzirá a produtividade em 3,6%, para 7.643 quilos por hectare, e a produção, no mesmo percentual, para 8,41 milhões de toneladas. A projeção é inicial e deve ser ajustada com o tempo. É considerada superestimada pelo setor.

Guinter Frantz, presidente do Irga, espera números mais baixos. Em agosto, o instituto gaúcho identificou intenção de plantio com queda de 2,5%, ou 27.491 hectares, dos 1.106.062 do ciclo 2016/17. Projetava 1.078.279 hectares de superfície semeada e produtividade de 7.588 quilos para uma colheita de 8,182 milhões de toneladas, perto de 5% menor do que as 8,75 da temporada passada, com 7.908 quilos, segundo o Irga. Frantz observa que a intenção foi gerada sobre a expectativa de que os preços reagiriam após agosto, mas caíram. Em setembro, na Expointer, o dirigente reconheceu que a queda poderia beirar 5% de área. Agora, pode cair mais.

A situação complicou com o clima adverso. “Estamos na semeadura mais atrasada da década e isso pressionará não só pela redução da área, mas no atraso das operações de manejo e no potencial produtivo das variedades”, avalia Frantz. “Às vezes, é melhor que chova muito em uma semana, 15 dias, do que a atual situação em que chove um volume considerável a cada três, quatro, cinco dias. Isso impede a entrada na lavoura para semear, para os tratos culturais, e atrapalha a uniformidade na emergência das plantas”, afirma Rodrigo Schoenfeld, assessor do Irga.

Dirceu Nöller, engenheiro agrônomo da Emater/RS em Cachoeira do Sul, na Depressão Central, considera preocupante o lento avanço do plantio. “Tradicionalmente, a região planta tarde pelo alto percentual de arrendamentos, clima e as enchentes de setembro e outubro, mas não tanto. Neste ano entramos outubro só com áreas de pré-germinado semeadas. Isso vai repercutir na resposta produtiva das lavouras”, afirma.

Além de reduzir o tempo em que o arroz aproveitará a radiação solar, o cultivo tardio aumenta os riscos à cultura, caso das grandes oscilações de temperatura na época de floração e final do ciclo. “O atraso traz obstáculos ao melhor manejo, como o controle de invasoras e demais operações de campo”, resume Maurício Fischer, diretor técnico do Irga.

Aqueles 10%
Para Henrique Osório Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), as circunstâncias climáticas aumentam o desafio dos rizicultores. “Tem sido um ano duro, de prejuízos, preços abaixo do custo de produção, aumento de energia, concorrência do Mercosul, fatores que, por si, determinariam queda na área cultivada e produtividade. O atraso por causa das chuvas afetará o resultado da colheita em valor que pode se aproximar de 10% e gerar uma safra próxima de 7,9 milhões de toneladas”, frisa Dornelles.

O atraso leva alguns produtores a reduzirem a área e concentrarem o manejo nas melhores terras, de menor custo, pois a produtividade pode ser comprometida. “E há os casos em que a janela entre a semeadura do arroz e da soja é muito curta e, dependendo da situação, por causa da renda, o produtor pode optar por não pôr em risco a oleaginosa”, exemplifica.

As entidades estão se esforçando em busca de medidas emergenciais e estruturais que permitam vislumbrar um cenário melhor em 2018. “Mesmo com todo o empenho em convencer o governo federal da importância destas demandas, propor a administração da área e da oferta ao Mercosul e buscar mudanças estruturais na política agrícola, o panorama é de um primeiro semestre difícil em 2018”, disse.

FIQUE DE OLHO
A cultura do arroz é altamente responsiva ao clima e ao manejo. Mesmo com atraso no plantio, algumas lavouras conseguem expressar boas produtividades. O potencial genético das cultivares semeadas pode chegar a 16 mil quilos por hectare, mas a média gaúcha se situa ao redor de 7,7 mil quilos. No entanto, está comprovado que à medida em que o plantio acontece mais tarde cai o rendimento das lavouras por fatores como a menor radiação solar, falhas no manejo, escapes de ervas daninhas e pragas e ocorrência de doenças e frio na fase de reprodução – floração – das plantas. Oscilação de temperaturas e frio abaixo de 15 graus centígrados geram o abortamento da flor e a produção de grãos vazios (ou chochos), menor peso nos cachos e, obviamente, produtividade inferior.

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