Relação de confiança

 Relação de confiança
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Neri Geller, é produtor rural e empresário do ramo de combustíveis. Nascido no pequeno município de Selbach, no Rio Grande do Sul (RS), está na região de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso (MT), desde 1984, onde desenvolve as atividades de plantio e comercialização de grãos, como soja e milho, em sua propriedade. Foi em Lucas do Rio Verde onde iniciou na vida pública como vereador, por dois períodos consecutivos, de 1996 a 2004. Também pelo estado do Mato Grosso, elegeu-se deputado federal em 2007 e 2011. Em setembro deste ano, representando o Mapa, tomou posse como membro do conselho de administração da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Nesta entrevista exclusiva concedida à revista Planeta Arroz, Neri Geller fala sobre a safra brasileira de arroz, exportações, políticas de comercialização para 2014 e a relação de confiança recíproca estabelecida entre a classe produtiva e os governos federal e estadual.

Planeta Arroz – Qual a sua expectativa em relação à safra brasileira de arroz para 2013/14?
Neri Geller –
A minha expectativa é a mesma do presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Cláudio Pereira, isto é, a de uma safra equilibrada entre produção e consumo. Estamos estimando um volume na faixa de 12 milhões de toneladas, um pouco superior ao colhido no período anterior. Também temos a expectativa de exportar entre 800 e 900 mil toneladas, o que deverá equilibrar o volume de arroz que entra no país via importação.

Planeta Arroz – O senhor prevê alguma dificuldade para exportar esse volume, considerando os gargalos logísticos em relação à infraestrutura disponível no Porto de Rio Grande?
Neri Geller – Estamos acompanhando esta questão bem de perto. Tanto que este ano já tomamos algumas medidas, como a unificação dos procedimentos tanto da Anvisa quanto dos fiscais da Receita, justamente para dar mais fluxo nos portos não apenas em relação ao arroz e à soja, mas para toda a exportação de grãos do país. Ampliamos os turnos de trabalho, que antes eram dois, para 24 horas, o que deverá dar mais agilidade às cargas e descargas. Tem também a Medida Provisória 595/2012, chamada de MP dos Portos, criada para dar maior competitividade ao setor e destravar a logística do país. A partir deste novo marco regulatório, vamos ampliar a infraestrutura e modernizar a gestão dos portos, estimulando o investimento privado e o aumento da movimentação de cargas com redução dos custos e eliminação de barreiras alfandegárias.

Planeta Arroz – Na sua avaliação, quais são os maiores gargalos verificados no Porto de Rio Grande?
Neri Geller – Além da questão da própria estrutura, tem a burocracia, mas só com as duas medidas citadas anteriormente, como a unificação dos procedimentos e o aumento dos turnos de trabalho, já notamos uma melhora sensível no fluxo. O governo está olhando todos esses aspectos com uma lupa para resolver os gargalos. Mas não tenha dúvida de que, com essa estrutura, vamos escoar a safra de grãos sem grandes contratempos.

Planeta Arroz – Que fatores serão determinantes para a política que o governo pretende adotar com relação à comercialização da safra 2013/14?
Neri Geller – Com certeza, o governo está preparado para dar o suporte que for necessário. O produtor vai ficar resguardado se, por ventura, os preços do grão vierem a ficar abaixo do preço mínimo. Estamos com um orçamento de comercialização bastante significativo, mas temos uma visão clara de que não será necessário, porque o preço do arroz está bem acima do preço mínimo, o que é uma boa perspectiva para o setor em termos de renda. Além disso, há linhas de crédito e de custeio disponíveis para que o produtor possa fazer a sua lavoura com custos mais baixos.

Planeta Arroz – Há previsão de leilões para os próximos meses?
Neri Geller – Não, mas nós temos o problema de liberação de estoque. Se o preço médio passar de R$ 33,28, nós vamos fazer, isso está acertado com o setor e com a Secretaria de Agricultura do RS. Se o preço médio estiver só um pouquinho abaixo de R$ 33,28, a gente não faz. Por exemplo, tínhamos um leilão que foi cancelado porque o preço estava R$ 33,27, ou seja, um centavo abaixo do combinado. Isso demonstra que existe uma relação de confiança entre o setor produtivo e o governo. Mantemos um diálogo permanente com os produtores, com a Federarroz, e trabalhamos para que o arroz tenha produção forte, porque isso é importante para a economia do país. Ao mesmo tempo, estamos acompanhando e liberando os estoques para também não subir demais o preço e não causar inflação. Mas é importante ressaltar que existe uma relação de confiança e uma política muito bem definida com o setor, seja ela em crédito, comercialização ou liberação de estoques.

Planeta Arroz – E como fica a questão do preço mínimo, que não sofreu reajuste nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina?
Neri Geller – É um assunto que vamos começar a discutir com os deputados, com a Federarroz. Estamos fazendo os levantamentos do custo de produção e vamos retomar essa discussão muito em breve. O Mapa entende que tem que fazer uma avaliação, mas ainda não está nada definido.

Planeta Arroz – Qual a sua avaliação sobre a produção de arroz em outros estados, como no Maranhão, no Tocantins e no Mato Grosso?
Neri Geller – O Mapa está trabalhando para estimular o arroz de sequeiro, seja no MA, MT, GO ou em TO. No Centro-oeste, por exemplo, a cultura tem papel fundamental na incorporação de áreas degradadas ou de pastagem. É importante criar alternativas para estes mercados, porque é caro o frete para se transportar arroz gaúcho para o Nordeste.

Planeta Arroz – Para concluir, que análise o senhor faz do avanço da soja em áreas de arroz no RS?
Neri Geller – Há espaço para as duas culturas. O milho é outro cultivo que pode ser adaptado ao sistema de rotação com o arroz, como mostram claramente as pesquisas do Irga. Mas o RS nunca vai deixar de produzir arroz, pois apresenta topografia e clima ideais. Além disso, os produtores gaúchos têm o domínio da tecnologia para produzir com qualidade. No MT, que é meu estado e que conheço bem, o incremento da produção de arroz ocorre quando o preço está alto, como agora. Mas o arroz não se consolida como no Sul porque o Centro-oeste produz, no máximo ,50 sacas por hectare, enquanto no RS a produtividade média é de 150, 160 sacas por hectare.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter