Safra em 25%, mercado lento e referência de preços nas exportações

 Safra em 25%, mercado lento e referência de preços nas exportações

Colheita chega a 25% no RS. Foto: El Observador

(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados /Planeta Arroz) A safra de arroz do Rio Grande do Sul alcançou 24,81% de área colhida, segundo o Irga. O atraso, em razão do prolongamento do frio de primavera e também do ciclo em sua fase vegetativa, ainda em 2022, e também o frio do Carnaval de 2023, geraram um atraso de 10 a 20 dias para o ponto de colheita. O alongamento da entressafra estabeleceu também um movimento praticamente inédito. As primeiras colheitas, em sua maioria, ocorrem em lavouras de grande porte, com empreendedores organizados e capitalizados, sem muita pressa de vender porque esperam preços melhores nos próximos meses. Essa “espera” mudou o cenário de comercialização e estabilizou os preços ao produtor em plena colheita, travando uma queda que vinha desde o final de 2022.

Tal comportamento, de colheita em pleno vapor e baixa oferta, consolida a ideia de que o grande produtor gaúcho de arroz está realmente capitalizado. Este, em função da diversidade de produtos – soja, milho e pecuária – pode escolher a época de vender de acordo com os valores que almeja alcançar, em especial em uma temporada na qual que se espera preços internos que superem os R$ 100,00 e o movimento de alta mais rápido do que nos anos anteriores (em junho/julho ao invés de agosto/setembro). A menos que a conjuntura global e cambial mudem radicalmente.

Empresas que colhem de 1 ou 2,5 milhões de sacas não estão vendendo mais de 15 mil, 20 mil sacas em negócios ocasionais. E o objetivo é, claramente, pagar contas pequenas. A maior parte dos vencimentos ocorre depois de abril.

Por outro lado, os produtores de médio para pequenos, também em boa parte, entregam o grão para secagem e armazenagem na indústria, e esse produto acaba não ingressando imediatamente no mercado. Será comercializado em liquidações, fracionadas ao longo do ano. Se por um lado a oferta é baixa, e nesta época do ano de maneira praticamente inédita para tão limitados patamares, de outra banda a demanda também não é agressiva. A indústria, abastecida, espera que a colheita amplie o movimento de oferta e, com isso, os preços da matéria-prima recuem um pouco mais. Aguarda, portanto, uma oferta que talvez não venha, de acordo com um dos possíveis cenários que poderá ser considerado. Daí, o outro lado deste impasse que travou os preços nos últimos dias.

A movimentação, que ajudou a reverter ainda que brevemente, a tendência de queda nos preços, e que vinha se mantendo desde o final do ano, foi de tradicional trading exportadora que buscou arroz em casca a ser embarcado para o México. Dia 14 haviam sido embarcadas 25 mil toneladas para a América do Norte. Para essa operação, de 30 mil toneladas, que movimentou as corretoras nos últimos dias, a carga foi completada e a faixa de preços do produto colocado no porto ficou em R$ 91,00/50kg, ou R$ 1.820/t.

Esta, muito possivelmente, é a primeira sinalização de piso para os preços de comercialização do arroz. E, portanto, a continuarem os movimentos das exportadoras, provavelmente impedirá queda muito maior dos preços no Rio Grande do Sul. Decompondo os preços, considerando taxas e frete, os valores ficariam no entorno de R$ 88,00/89,00 em Pelotas e R$ 83,00/84,00 na Fronteira Oeste.

Este movimento demonstra que o mercado externo aceitou esse preço praticado internamente. O câmbio, evidentemente, está ajudando, por causa das preocupações mundiais com a quebra de alguns bancos, fragilidade em outros, inflação global e expectativa de alta dos juros nos Estados Unidos. A demanda internacional pelo arroz brasileiro existe, o preço de exportação não está assustando, e isso indica para um mercado com liquidez em boa parte do ano. Como há uma oferta bem menor do que no ano passado, trabalho projetando uma tendência de evolução gradativa dos preços ao longo do ano, e valores capazes de remunerar os arrozeiros. Grandes e pequenos.

Os primeiros resultados na Fronteira Oeste, Zona Sul e Depressão Central estabelecem duas categorias de colheita. Uma, onde houve água em volume necessário para a irrigação, e foram obedecidas práticas de manejo em busca de altas produtividades, o resultado tem sido muito bom. Produtividades altas e bom percentual de inteiros.

No entanto, em algumas microrregiões, mais afetadas pelo frio, no início do ciclo e no Carnaval, e também o calor em excesso de dezembro a março, e pela irrigação intermitente por falta de água, há notícias de rendimentos abaixo de 7,5 mil quilos por hectare e muitos grãos falhados. A expectativa segue sendo de uma colheita muito boa onde houve irrigação eficiente. Mas, a redução de área e as perdas estimadas deverão gerar uma retração na oferta. E este será um dos balizadores de preços juntamente com o câmbio, as importações e o fluxo de oferta.

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