Sob impacto

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Colheita vai ter efeito do clima e da estratégia de oferta

Década de baixa rentabilidade e clima refletem na produção

Preços não determinam mais a dimensão das safras de arroz no Brasil e no mundo. A mensagem fica clara na primeira colheita que ocorre ainda sob o impacto de melhores cotações nacionais e internacionais resultante da pandemia e de variáveis cambiais que marcaram um 2020 pra lá de atípico. Nem os valores remuneradores, em torno de 17 a 18 dólares, e que marcaram um pico de até R$ 120,00 no Rio Grande do Sul, foram suficientes para que a orizicultura voltasse ao passado de grandes avanços na superfície plantada.

A semeadura, ainda superestimada em território gaúcho pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em seu relatório de janeiro, deveria alcançar 1,705 milhões de hectares. É um aumento de 2,4% sobre 1,666 milhão de hectares do ciclo 2020/21. O indicativo oficial, no entanto, ainda projeta que o Rio Grande do Sul semearia 968,7 mil hectares, valores apontados apenas como intenção antes das operações de implantação da lavoura. Desde dezembro os organismos estaduais já trabalham com 30 mil hectares a menos efetivamente cultivados, muito similar à temporada passada.

Em termos de rendimento por área, estados com produção inexpressiva como Espírito Santo, Minas Gerais e Amazonas têm expectativa de evolução pelo uso de melhor tecnologia e chuvas mais adequadas. O mesmo ocorre com Maranhão e Roraima, que têm cultivares mais adaptadas aos seus climas nesta temporada. No Brasil Central o arroz ainda compete por área com soja, milho e algodão, que são cultivos atualmente muito atraentes.

Os grandes produtores, em especial o Sul do Brasil, não deverão reprisar a temporada excepcional em produtividade de 2019/20. Rio Grande do Sul deve ter decréscimo produtivo por área de 5,3%, passando de 8.316 quilos por hectare para 7.875, enquanto Santa Catarina tende a registrar queda de 8.100 quilos por hectare para 7.774 quilos. No total, o Brasil deverá perder 4,8% em rendimento no comparativo anual, passando de 6.713 quilos para 6.394.

RENDA
Esse desempenho vai afetar diretamente a produção nacional, que encolherá 2,5%, de 11,183 milhões de toneladas para 10,9 milhões. “Há dois fatores a considerar: o clima e o aprendizado dos agricultores após uma década praticamente sem renda”, explica Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul. Para ele, a forte seca ocorrida no Rio Grande do Sul entre 2019 e 2020 não permitiu a reposição dos níveis das barragens, salinizou as águas das lagoas que irrigam as lavouras das planícies gaúchas e encareceu as operações de recalque.

“Além disso, graças à tecnologia e uma nova mentalidade, também gerada pelas perdas que amargou ao longo de décadas, o arrozeiro tradicional está se tornando um produtor de alimentos que tem foco na rotação de culturas e integração com a pecuária, com um portfólio que lhe garante outras opções de cultivo e comercialização, como a soja – que já ocupa um terço da área plantada com arroz – e o milho que começa a ganhar mais espaço”, observa. O fato, segundo Velho, é que de tanto “apanhar” do mercado, o rizicultor aprendeu a lição: “ou diversifica e mantém a oferta dentro de um determinado patamar, ou não terá a renda que precisa e deseja”.

Fique de Olho 
A Região Sul é a grande produtora de arroz do Brasil, com projeção de colher 80,6% de toda a safra 2020/21. Os dois estados, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, devem somar 8,79 milhão de toneladas. Somando o Paraná, chegarão a 8,94 milhões de toneladas. O Norte, somando 997,4 mil toneladas – graças ao desempenho do terceiro maior produtor nacional (Tocantins), tem a segunda maior colheita regional e representa 9%.

Sequeiro x irrigado
A produção de arroz de sequeiro, predominantemente as variedades de terras altas, deverá manter-se muito similar aos resultados obtidos em 2019/20, segundo projeção da Conab. A estimativa é de um aumento de área de 4% (15 mil hectares), para 381,4 mil hectares, mas com redução de 3,8% na produtividade (2.375kg por hectare). O clima mais chuvoso na safra tende a afetar o resultado, segundo os analistas federais. Representará perto de 9% da produção total brasileira. Já o Irrigado irá reduzir em 2,7%, em produção (9,999 milhões de t) embora aumenta a área em 1,9%, para 1,324 milhão de hectares. A produtividade menor é a explicação. Nas últimas décadas, em função da produtividade e, em especial, das alternativas de cultivo mais atraentes no Centro-Oeste, Sudeste e Norte/Nordeste, houve decréscimo das lavouras de sequeiro mesmo com a evolução das variedades. Por questões de qualidade, preferência do mercado e alta produtividade, o irrigado avançou e representa 91% da produção nacional.

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