Soluções criativas para a sustentabilidade do setor do arroz

A implementação de soluções criativas visando a sustentabilidade do setor do arroz passa por dois grandes desafios e uma diretriz. Um primeiro desafio refere-se ao fato de ser o arroz um produto visto como tradicional pelo público consumidor, o que pode limitar a implementação de ações criativas, fora do escopo de P&D. O segundo refere-se ao retorno financeiro da adoção de novas soluções no contexto de um produto de baixo valor agregado – muito em função de sua popularidade, e baixas margens de lucro. Com relação à diretriz para identificar soluções criativas para o setor do arroz, valemo-nos da agenda do Environment, Social and Governance (ESG), essa pauta cada vez mais crescente e atual.

Environment, Social and Governance, na sua tradução livre, Ambiental, Social e Governança, é a sustentabilidade aplicada aos negócios. Mais do que a conformidade, o ESG pressupõe uma adicionalidade que repousa na visão de mundo da empresa. Dialoga com a forma que a empresa coloca seu produto no mercado e que contribuição ela dá para os aspectos econômico, social e ambiental. Como tal, deve estar integrada à estratégia do negócio.

No que tange ao aspecto tradicional do arroz, a indústria vem introduzindo no mercado novos usos do cereal, com apelo da saudabilidade, com bons resultados. Produto sem glúten por natureza, o arroz já é comercializado na forma de massa, biscoito, óleo, além do seu uso na confecção de cosmético e até pneu. Isso sem falar da economia circular atinente ao produto. Do arroz aproveita-se tudo.

A casca retirada no processo de beneficiamento é utilizada na geração de energia limpa – havendo indústrias do setor já autossuficientes na produção de energia, enquanto da queima da casca surge resíduo para a confecção de cimento e cerâmica, dentre outras utilidades. Contudo, e a despeito do arroz em conjunto com o feijão, fazer parte da alimentação brasileira, o consumidor não demonstra uma percepção acerca do valor do arroz no prato. Um problema de estratégia de comunicação por parte do setor industrial, que está atento e preparando-se para enfrentar.

Quanto ao retorno financeiro de soluções criativas para o setor do arroz, a implementação de novas soluções para um produto tradicional como o arroz pode parecer uma questão de custo apenas, se olhado de forma displicente. Alinhado ao propósito do seu negócio, o custo pode ser revertido em investimento no produto e, como tal, deve ser priorizado pela alta liderança da organização. Com efeito, o retorno da inovação na forma de produzir nunca é incipiente diante do potencial de novos nichos e de um novo olhar do mercado para o produto.

Chega-se, então, ao desafio de achar soluções para catapultar um produto tradicional, com baixas margens de lucro, em um contexto conservador e de recursos limitados. Nesse sentido, soluções criativas com custos que revertam em investimento passam, no setor do arroz, pela implementação de rastreabilidade com inserção da cadeia de valor na estratégia do negócio, a criação de conexão entre os stakeholders e, como já dito, pela melhoria da comunicação com o consumidor.

A rastreabilidade condizente com a pauta ESG pressupõe um olhar diferenciado para a cadeia de valor, notadamente para as necessidades dos seus stakeholders, tendo o propósito da organização como eixo.

A conexão, por sua vez, é complementar à rastreabilidade no que diz respeito à sustentabilidade empresarial. A conexão revela-se, por exemplo, no zelar pela qualificação apropriada da sua cadeia de valor e pela criação de um vínculo com o consumidor final, na outra ponta. A identificação de parceiros para auxiliar na capacitação dos fornecedores, no primeiro caso, e o uso de tecnologia para aproximar o consumidor do produto, no segundo, são práticas acessíveis e com bons resultados.

Rastreabilidade
Aliado à boa comunicação e à transparência, que devem permear as práticas da organização, a rastreabilidade como estratégia do negócio e a conexão entre os stakeholders têm, juntos, o potencial de impulsionar o setor do arroz, de maneira criativa e dentro dos princípios ESG.

O primeiro passo no desenvolvimento dessa agenda é identificar o propósito da organização e alinhá-lo com as expectativas dos stakeholders (escuta ativa), para, então, definir materialidade (relacionado a riscos, oportunidades e impacto da atividade) e metas para a organização. Trata-se de um caminho seguro para a sustentabilidade empresarial e auxiliar no desenvolvimento da rastreabilidade como estratégia do negócio e da conexão entre stakeholders.

Pensar a rastreabilidade para além do compliance é valorizar os princípios da organização e comunicá-los ao seu consumidor. Utilizar da conexão para aproximar fornecedores do seu ideal de negócio é adicionar valor ao seu produto. Refletir sobre rastreabilidade e conexão no ambiente da organização é inovar de forma criativa e acessível.

Rastreabilidade, conexão e comunicação, amparadas em uma cadeia de valor robusta, com um propósito bem definido, pode ser o início de uma cultura de sustentabilidade com impactos sociais, econômicos e ambientais superlativos, além de assegurar mitigação de riscos para a organização e potencialização da reputação da marca.

Andressa Silva
Advogada e diretora-executiva da Abiarroz

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