Tradição enfraquecida, tecnologia fortalecida

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Arroz e feijão: o principal prato nacional terá área cada vez menor no país

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apresentou o estudo Projeções do Agronegócio Brasileiro – 2022/23 a 2032/33, confirmando algumas tendências que já são de domínio de boa parte das cadeias produtivas do arroz e do feijão.

Os grãos que formam o principal prato de consumo – e perfeito do ponto de vista nutricional se acompanhados por uma proteína e fibras/saladas – no Brasil deverão passar por uma redução de consumo e substancial queda de área semeada na próxima década. Os ganhos produtivos, proporcionados pelo avanço tecnológico e maior domínio dos sistemas, porém, manterão a capacidade de abastecimento nacional.

A diminuição de área da composição do cereal e da leguminosa preocupa o governo brasileiro, levando em conta a importância desses alimentos para a população nacional.

Nos últimos anos, segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o consumo de arroz foi reduzido em quase 2 milhões de toneladas, de 12,2 milhões em 2016/17 para 10,25 milhões em 2022/23. O Rio Grande do Sul produziu 69,7% da safra 2022/23, concentração que a União também considera preocupante.

Sistemas
Uma das razões da queda da área, segundo o relatório do Mapa, é o ingresso da soja e do milho no sistema de produção em terras baixas, mediante o domínio de tecnologias mais eficientes de drenagem e manejo das culturas, bem como de variedades mais adaptadas. A prática foi multiplicada em 10 anos, de 25 mil hectares para 505 mil hectares, algo inimaginável há uma década. A técnica traz benefícios, como a quebra de ciclo de pragas, doenças e invasoras pela mudança do esquema de defensivos, e melhora as condições químicas e físicas do solo pela interação entre os nutrientes e diferentes plantas e restos culturais e a biologia do solo.

Atualmente, 81,5% da safra brasileira de arroz está concentrada no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, índice que sobe para 91,5% se acrescentados Tocantins, Mato Grosso e Maranhão, formando os cinco principais produtores nacionais do grão.

Queda vale para o arroz e o feijão

Para arroz e feijão, as projeções de comportamento de área, produção e produtividade no próximo decênio indicam estabilidade do consumo e ligeira tendência de contração. As projeções indicam, para o arroz, estabilidade em torno de 9 milhões de toneladas, podendo, inclusive, existir importação desse produto de pouco mais de 1 milhão de toneladas anuais, média mantida desde o início do século.

São esperadas importações da ordem de 1,17 milhão de toneladas em 2032/33, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no modelo intermediário. Portanto, estima-se que a produção cairá 2%, o consumo 4,3% e a importação será 9% menor do que na atual temporada.

Estudo detalhado pela Embrapa Arroz e Feijão (GO) para o Mapa, considerado realista, estima que esses números poderão aumentar de forma significativa com a abertura de mercado externo ao arroz brasileiro, no qual apenas 8% da produção global é exportada. Com a redução projetada ao consumo, será necessário buscar por novos mercados para ampliar as exportações.

O Brasil avança neste quesito, mas não na velocidade desejada ou características, pois, ao invés de beneficiado, com valor agregado, predominam exportações de arroz em casca e quebrado. A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), por meio do programa Brazilian Rice, trabalha a promoção das exportações brasileiras e busca ampliar as exportações.

FIQUE DE OLHO

Mais recentemente, o arroz tem sido cultivado também em áreas de irrigação por aspersão, em diferentes regiões do país, utilizando pivôs centrais. O objetivo é economizar água e tornar mais eficiente o seu uso. O grão, quando produzido sob irrigação nesse sistema, representa uma nova era na orizicultura, unindo o potencial produtivo do irrigado associado ao menor impacto ambiental. Em projeções do agronegócio, a comparação com o arroz irrigado por inundação indica que o método requer um volume menor de água e não emite gases do efeito estufa (GEE) na forma de metano pelo fato de o solo não ficar submerso. Com o avanço das áreas irrigadas por pivôs, a entrada do arroz pode ser uma importante opção na rotação de culturas, com benefícios econômicos. A pesquisa tem disponibilizado novas cultivares rizícolas que se adaptam muito bem a esse novo sistema de cultivo.

Cortes do arroz de sequeiro

Para os analistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), provavelmente, a área cultivada com arroz no Brasil não irá decrescer na magnitude da projeção por causa da base matemática aplicada. “O modelo incorpora comportamento recente, com reduções significativas nas áreas de terras altas ou sequeiro, enquanto se manteve a irrigada, mais eficiente e de menor possibilidade de ser substituída”, disse o relato.

“Reduções em terras altas acontecem, mas em níveis menores que neste passado”, acrescentaram os especialistas

Os aumentos recentes no nível de produtividade do arroz decorrem, em especial, de duas razões importantes: a diminuição da área plantada em terras altas (sem irrigação), que possui produtividade mais baixa que o arroz irrigado (por inundação e aspersão), e o aumento de produtividade efetiva, dentro de cada sistema de cultivo.

Como a área de cultivo se encontra relativamente estabilizada, espera-se que a evolução no rendimento de grãos por área não seja mais tão expressiva nos próximos anos.

Esses avanços deverão ocorrer por melhorias dentro de cada sistema de cultivo (genética+ e manejo) e não mais pela queda da participação relativa da área de terras altas e aumento da presença relativa de superfície cultivada do irrigado na área total. A única superfície disponível para expansão de área cultivável com arroz irrigado por inundação está no Tocantins, cujos projetos permitiriam chegar a 300 mil hectares no sistema que hoje ocupa 120 mil hectares.

Mudanças no perfil do feijão

O Censo Agropecuário 2017 mostrou mudança no sistema de produção do feijão: pequenos produtores, com nível tecnológico inferior, deixaram a atividade e estabelecimentos maiores e tecnificados aumentaram a participação. A queda da área plantada é parte do fenômeno.

O consumo projeta ligeira queda devido aos dados de frustração de safra e alta de preços que afetaram o consumo nos últimos anos. Sob preços menores ao consumidor, pode a redução de consumo não se confirmar, até porque a busca por proteínas de origem vegetal tem sido uma tendência do mercado.

Há movimento em relação às proteínas alternativas (plant-based), onde feijões são fonte importante, explorada na indústria de alimentos, que pode gerar demanda adicional. Nova forma de consumo, como ingrediente de alimentos processados, poderá dinamizar demanda e o consumo.


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