Trevo persa: alternativa como fonte de nitrogênio para produção de arroz irrigado no RS

 Trevo persa: alternativa como fonte de nitrogênio para produção de arroz irrigado no RS

 O arroz é um cereal importante para alimentação da população brasileira e relevante economicamente para comunidades do Rio Grande do Sul (RS), Santa Catarina (SC) e Tocantins (TO), que juntos somam mais de 80% da produção de arroz irrigado do país. A produtividade de grãos de arroz irrigado no estado do RS aumentou consideravelmente na última década, atingindo o patamar de cerca 8 t ha-1 nas últimas safras. Cabe salientar que em muitas propriedades as produtividades são superiores a 10 t ha-1. Tal evolução deveu-se ao controle do arroz-vermelho com a tecnologia “Clearfield” e a adoção de um conjunto de práticas de manejo, tais como a época de semeadura nos meses de setembro e outubro, preparo antecipado do solo, nutrição para alcançar altas produtividades, controle precoce de plantas daninhas e irrigação das lavouras quando as plantas têm 3-4 folhas (MENEZES et al. 2012). Entretanto, é preciso continuar a evoluir. Neste sentido, a rotação com soja nas áreas cultivadas com arroz contribuiu para melhorar a sustentabilidade deste cultivo, uma vez que melhora o manejo de plantas daninhas e a rentabilidade do negócio, entre outros fatores relevantes.

O uso do trevo persa como pastagem ou simplesmente como uma cobertura de inverno em áreas cultivadas com arroz na estação hibernal pode contribuir para a evolução da produtividade e rentabilidade do arroz irrigado no RS. O trevo persa (Trifolium resupinatum) é uma planta leguminosa anual utilizada como pastagem e é originário do clima mediterrâneo e adaptada às condições edafoclimáticas das áreas cultivadas com arroz no estado (REIS, 2007). Sendo também bastante tolerante às condições com drenagem imperfeita (CRAIG, 2005), o que é relevante para o estabelecimento e desenvolvimento nas regiões cultivadas com arroz durante o inverno. A hipótese deste trabalho foi de que o uso de trevo persa como cobertura do solo no período que antecede o cultivo de arroz pode incrementar a produção de arroz. Portanto, o objetivo do experimento foi avaliar a capacidade do trevo persa em cobertura do solo contribuir para o aumento da produtividade de arroz irrigado.

MATERIAL E MÉTODOS
Para atingir o objetivo proposto nesse experimento foi implantado um experimento a campo na estação de crescimento 2018/19, na área do Centro Tecnológico do Chasqueiro, localizado no 3º Distrito do município de Arroio Grande (32o 09’ 58,86’’ S e 52o 57’ 19,98’’ W). O solo da área onde o experimento foi implantado é classificado como Planossolo Háplico Eutrófico Solódico (STRECK et al., 2008), contém 23 g kg-1 de argila, 13,8 g kg-1 de M.O., 26,3 mg dm-3 de fósforo e 93 mg dm-3 de potássio. A CTC da área é 8,9 Cmolc dm-3 e o pH 5,4. Esta área esteve em pousio nos últimos cinco anos.

Os tratamentos constituíram de seis níveis de adubação nitrogenada (0, 45, 90, 135, 180 e 225 kg/ha de N) e em área com e sem cobertura de trevo persa.

O experimento foi conduzido em duas partes: a primeira com a semeadura do trevo persa e a segunda com o arroz em outubro. O trevo persa, Trifolium resupinatum resupinatum vr lightning, foi semeado na última semana de maio de 2018, na densidade de 3 kg/ha, com sementes procedentes da empresa PGW Sementes Brasil. A semeadura foi feita a lanço diretamente sobre cobertura vegetal dessecada 20 dias antes com 3 L/ha glifosato concentração 360 g/ha e.a.. A emergência das plântulas ocorreu entre 10 e 15 de junho. Nas parcelas sem trevo persa a cobertura vegetal foi com plantas espontâneas da região. Antes da dessecação para semeadura do arroz, na primeira semana de setembro, a cobertura vegetal do trevo-persa foi avaliada em 3,5 t/ha de peso fresco.

A cultura do arroz foi implantada em semeadura direta com preparo do solo antecipado no outono e o manejo foi realizado com base nas indicações da pesquisa para a cultura do arroz irrigado (SOSBAI, 2017). A dessecação do trevo persa e da cobertura vegetal nativa foi realizada com 5 L/ha de glifosato 480 g/ha e.a.. Como não houve a morte total das plantas de trevo, foi aspergido 60 g/ha do herbicida Heat. A semeadura do arroz foi com a cultivar Irga 424 RI, densidade de 80 kg/ha, em 26 de outubro e, a emergência das plântulas foi em 6 de novembro. A adubação de base foi 200 kg/ha de Super Triplo na linha da semeadora e 250 kg/ha de KCl, distribuídos a lanço. A adubação de cobertura foi com ureia branca conforme tratamentos, sendo 70% aplicado quando as plantas de arroz estavam com quatro folhas, e os restantes 30%, quando as plantas de arroz estavam com oito folhas. A escala de Counce foi utilizada como referência para determinar os estádios de desenvolvimento em que foram executadas as principais práticas de manejo (Counce et al., 2000).

O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados com quatro repetições para ambas as áreas. As unidades experimentais corresponderam a parcelas com dimensões de 8 x 1,53m, nas quais foram aplicados, de forma aleatória, os diferentes tratamentos. As repetições ficaram espaçadas com 0,5m entre si. Realizou-se a análise de variância para o experimento, sendo verificada a homogeneidade entre os erros experimentais e a possibilidade de análise conjunta das variáveis comuns. Assim, os dados foram submetidos à análise de variância conjunta, e a significância dos parâmetros do modelo avaliados pelo teste F. As médias foram comparadas pelo teste de Duncan, utilizando-se o nível de 10% de probabilidade do erro experimental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O rendimento de grãos variou em função dos níveis de adubação nitrogenada e entre as áreas com e sem cobertura de trevo persa (tabela 1). A produtividade foi maior na área com cobertura de trevo persa. Nas parcelas sem o uso de N a produtividade foi cerca de 1,9 t/ha maior na área com trevo persa em relação a testemunha sem cobertura com esta leguminosa. Resultado similar foi obtido por Scivitaro, 2005, quando comparou o rendimento de grãos em diferentes coberturas do solo e as áreas com trevo persa foram as mais produtivas.

Quando se incrementa as doses de N as diferenças diminuem e nos dois níveis maiores deste nutriente os valores entre com e sem cobertura com trevo persa são similares. Dentre os níveis de nitrogênio em áreas com e sem cobertura com trevo-persa os rendimentos aumentam à medida que se incrementa os níveis de N. Entretanto, os incrementos são menores nas parcelas com trevo-persa (Figura 1). Ou seja, na área com trevo-persa houve menor eficiência do uso de nitrogênio. O que é relevante, pois necessita-se de menor quantidade de nitrogênio para obter-se os mesmos resultados na área sem trevo-persa.

O rendimento relativo de arroz, obtido com trevo-persa com relação ao sem trevo-persa reduz à medida que se aumenta as doses de nitrogênio, sendo de 14% no nível de zero de N e, aproximadamente zero a partir de 180 kg/ha (Figura 2). Ou seja, há uma redução de ganhos por unidade de N aplicado. Entretanto, não se pode afirmar qual o melhor nível de N que se deve interromper a aplicação deste nutriente, pois pode haver ganhos financeiros em função dos custos do adubo nitrogenado e do preço do arroz.
Tabela 1. Rendimento de grãos de arroz irrigado em função de níveis de uso de nitrogênio em áreas com e sem cobertura de trevo-persa e as diferenças entre os tipos de cobertura, Oryza & Soy, Centro Tecnológico do Chasqueiro, Arroio Grande, safra 2018/19

CONCLUSÃO
O uso de trevo-persa como cobertura do solo nos meses que antecedem a semeadura do arroz contribui para o incremento da produção de arroz devido ao aporte de nitrogênio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COUNCE, P. A.; KEISLING, T.C.; MITCHELL, A.J.A. An uniform, objective, and adaptive system for expressing rice development. Crop Science, Madison, v.40, n. 2, p.436-443, 2000
Craig, A., 2005. Kyambro A Hard-seeded Persian clover. Government of South Australia, Fact SHEET, 43: 1-3. 4.
MENEZES, V. G.; ANGHONONI, I.; SILVA, P. R. F.; MACEDO, V. R. M.; PETRY, C.; GRHOS, D. S.; FREITAS, T. F. S.; VALENTE, L. de L. Projeto 10 – estratégias de manejo para aumento da produtividade e da sustentabilidade da lavoura de arroz irrigado do RS: avanços e desafios. Cachoeirinha: IRGA/Estação Experimental do Arroz, 2012. 104 p.
REIS, J.C.L. Origem e Características de Novos Trevos Adaptados ao Sul do Brasil. Pelotas (RS): Embrapa Clima Temperado, 2007. 29p. (Documento, 184).
SCIVITARO, W.B.; SILVA, C.A.S. da; REIS, J.C.L.; MURAOKA, T.; TRIVELIN, P. C. O. Potencial de fornecimento de nitrogênio (15N) de adubos verdes para o arroz irrigado. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2005. 22 p. (Embrapa Clima Temperado. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 21).
STRECK, E.V. et al. Solos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Emater/RS – UFRGS, 2008. 222 p.
SOSBAI, Arroz Irrigado: Recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil. SOSBAI: Cachoeirinha, 2018. 205 p.

VALMIR GAEDKE MENEZES
ENG AGR. MSC., ORYZA & SOY

OROZIMBO CARVALHO
ENG. AGR. DR. CENTRO TECNOLÓGICO DO CHASQUEIRO

CLAUDIA LANGE
ENG. AGR., DRA ., ORYZA & SOY

ANDERSON VEDELAGO
ENG. AG., MSC., ORYZA & SOY

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter