Um mercado, dois perfis
Mercado é diferente
para os arrozeiros.
Depende do capital.
O mesmo mercado de arroz pode ser positivo e negativo para os arrozeiros. Dependerá da capacidade e nível de capitalização dos produtores. Por exemplo, quem tiver acesso ao crédito oficial, tem cultivo de soja na várzea e obtiver bons resultados na safra terá menos custo e mais opções de comercialização ao longo do ano com maior chance de remuneração. Quem estiver descapitalizado, financiado pela indústria ou empresa de insumos ou mesmo créditos de mercado e sem soja para negociar estará pressionado a vender o arroz na safra, quando geralmente está abaixo do custo de produção, que pelas circunstâncias dos empréstimos já será mais alto.
Esses dois perfis de arrozeiros têm se afastado ano a ano. Está cada vez mais difícil para o descapitalizado, que pressionado leva ao fundo do poço os preços no primeiro semestre com sua obrigação de ofertar para fazer frente às despesas. Enquanto isso o produtor mais capitalizado, que pertence a uma minoria, busca administrar o formato de sua empresa visando não correr riscos e investir parte das gorduras em alternativas como soja e pecuária e melhores tecnologias para obter mais altos rendimentos produtivos.
Para Tiago Sarmento Barata, diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), a média dos preços de 2017 tende a ser mais baixa do que 2016, mas não tanto. “O mercado se regula. Na medida em que os preços internos baixam, as exportações aumentam, enxugam a oferta e as cotações voltam a subir. Quando sobem muito, as importações aumentam e o mercado volta a ajustar os preços até um ponto de equilíbrio”, exemplifica. Ainda assim, frisa que houve aumento dos custos e a margem do arrozeiro deve ser muito pequena nesta temporada. “É preciso ter na ponta do lápis o custo e uma boa estratégia de venda pra ter lucro”, avisa.
Segundo Barata, a safra gaúcha será normal, em torno de 8,3 milhões de toneladas, representando mais de 70% da produção nacional. “Mas em outras regiões há um recuo e seguiremos com o quadro de oferta e demanda bastante apertado, sem estoques públicos e com as disponibilidades privadas apenas suficientes para bancar a demanda”, lembra.
A safra nacional não será capaz de recompor os estoques nacionais, e isso também afetará os patamares de comercialização, na opinião do analista de Safras & Mercados Élcio Bento. Ele considera também que os preços médios de 2017 devem ser muito similares a 2016. “Haverá oscilações, sem dúvida, mas a trajetória tende a ser muito parecida com preços mais baixos no primeiro semestre e uma recuperação mais forte a partir de junho/julho”, assegura.
Antonio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, considera que a intervenção do governo ofertando crédito é importante para garantir a comercialização em níveis menos prejudiciais aos agricultores, especialmente pela alta dos custos de produção. “Uma parte dos agricultores não precisará ofertar arroz imediatamente, e isso é positivo pra todos, pois ameniza o impacto da safra sobre o mercado. Ainda assim, até maio a expectativa é de preços mais baixos, o que é bom para exportar”, argumenta. Para o analista Sérgio Roberto Gomes Santos Júnior, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil retomará em 2017 sua condição de superavitário nas exportações. “A tendência é de preços pouco abaixo das médias do ano passado, mas um saldo líquido positivo de 100 a 200 mil toneladas na balança comercial”, frisa.