Uso do PlanejArroz para avaliar a influência do clima na produtividade do arroz irrigado no Rio Grande do Sul, na safra 2019/2020

 Uso do PlanejArroz para avaliar a influência do clima na produtividade do arroz irrigado no Rio Grande do Sul, na safra 2019/2020

INTRODUÇÃO
A cultura do arroz irrigado no Rio Grande do Sul é muito importante, pois representa mais de 70% de todo o arroz produzido no Brasil. Como muitas atividades agropecuárias desenvolvidas no estado, o arroz também é afetado pelo fenômeno El Niño Oscilação Sul (Enos). O impacto do fenômeno, ao longo dos anos, tem sido muito variável, pois depende do sistema de cultivo utilizado (sequeiro ou irrigado), da época de ocorrência, da intensidade do fenômeno, dentre outros. Em geral, anos neutros e de La Niña são favoráveis e os de El Niño são prejudiciais ao desenvolvimento e à produtividade de arroz irrigado.

Desde meados de 2019, os prognósticos das instituições nacionais e internacionais de meteorologia indicavam que o Enos tenderia a apresentar uma situação de neutralidade, que veio a se confirmar. Na questão da estiagem, destaca-se o acerto do prognóstico do Centro de Previsões e Pesquisas Meteorológicas (CPPMet) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

A análise das variáveis meteorológicas indicou que a safra 2019/2020 caracterizou-se por: a) chuvas excessivas no mês de outubro, que causou atraso na época de semeadura na maioria das lavouras de arroz irrigado do Rio Grande do Sul; b) grande escassez de chuva durante o período de verão (dezembro, janeiro e fevereiro), causando grande impacto nas culturas de sequeiro, como soja e milho; c) alta frequência de dias ensolarados, com níveis elevados de radiação solar; d) alguns dias (poucos) com baixas temperaturas (≤ 15°C), podendo ter causado impacto nas lavouras que se encontravam nas fases críticas da planta (pré-floração ou microsporogênese e floração); e) alguns dias (poucos) com altas temperaturas (≥ 35°C), podendo afetar lavouras que se encontravam na fase de floração. Além disso, o longo período sem chuvas pode ter causado falta de água em algumas lavouras. Portanto, a análise feita aqui não se aplica àquelas lavouras em que faltou água.

O objetivo do artigo foi avaliar como as condições meteorológicas ocorridas durante a safra 2019/20 influenciaram a produtividade do arroz irrigado no Rio Grande do Sul e como o software PlanejArroz poderia ser utilizado com essa finalidade.

USO DO SOFTWARE PLANEJARROZ PARA AVALIAR A INFLUÊNCIA DO CLIMA NA PRODUTIVIDADE NA SAFRA 2019/2020

Historicamente, os levantamentos da intenção de semeadura, da expectativa de produção, bem como da safra colhida de arroz no RS têm sido feitos por várias instituições, como o Irga, a Emater/RS-Ascar, a Conab e o IBGE.

A partir da safra 2020/2021, os produtores e demais segmentos envolvidos com a cadeia produtiva do arroz no Rio Grande do Sul poderão contar com uma nova ferramenta que poderá ajudá-los a fazer uma estimativa de quando irão ocorrer os principais estádios de desenvolvimento da cultura, visando o manejo, e da produtividade a ser alcançada, em nível de lavoura. Trata-se do software PlanejArroz (http://planejarroz.cpact.embrapa.br), que foi lançado durante a 30ª Abertura Oficial da Colheita de Arroz, realizada de 12 a 14 de fevereiro de 2020, em Capão do Leão (RS).

Utilizando o módulo “Produtividade” (o outro módulo é o do “Manejo”) e informando o “Município” a “Cultivar” e a “Data de emergência” da lavoura, é possível fazer uma estimativa da “Produtividade média” que seria esperada para aquela lavoura, baseada nos dados climáticos de 30 anos daquele município. À medida que a safra evolui, é possível verificar como aquela lavoura está sendo influenciada pelas condições meteorológicas por meio da “Produtividade safra” e dos desvios entre ambas.

Embora o PlanejArroz não tenha sido elaborado para fins de previsão de safra, ele pode ser útil para se ter a expectativa de produtividade nas distintas regiões produtoras. Com essa finalidade, fez-se uma análise da safra 20219/2020, que foi baseada nas seguintes informações:

– Seis localidades, sendo uma para cada zona arrozeira do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga): Santa Vitória do Palmar (Sul); Dom Pedrito (Campanha – CA); Uruguaiana (Fronteira Oeste – FO); Cachoeira do Sul (Depressão Central – DC); Camaquã (Planície Costeira Interna – PCI); Viamão (Planície Costeira Externa – PCE).
– Sete datas de emergência, espaçadas de 15 dias, a saber: 15/set; 30/set; 15/out; 30/out; 15/nov; 30/nov; 15/dez.

– Duas das cultivares mais semeadas, sendo uma de ciclo médio (Irga 424 RI) e uma de ciclo precoce (Guri Inta CL).

A síntese dos resultados obtidos para as cultivares Irga 424 RI e Guri Inta CL, considerando os desvios de produtividade (DP), ou seja, a diferença entre a produtividade da safra 2019/2020 (safra) em relação à média histórica (clima), nas distintas datas de emergência (DE), na média das seis localidades, é apresentada nas figuras 1 e 2, respectivamente, e indica que:

– Para as duas cultivares, os DPs foram positivos em todas as DEs, ou seja, as produtividades da safra foram sempre superiores à média histórica (clima);

– Para a cultivar Irga 424 RI, os DPs foram maiores (superiores a 20%) nas semeaduras iniciais, até 30 de outubro, sendo que nessa DE atingiu o valor mais elevado (25%). Já para a cultivar Guri Inta CL, os DPs foram mais elevados nas semeaduras de 15 de novembro (37%) e de 30 de novembro (35%).

INFLUÊNCIA DAS VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS NOS DESVIOS DE PRODUTIVIDADE

A análise das variáveis meteorológicas (radiação solar – Rs; temperatura mínima – Tn; temperatura máxima – Tx), para períodos de 10 dias (decêndios), de setembro a março, comparando a média histórica (clima) com a safra (2019/2020) mostrou que:

– A radiação solar foi mais alta na safra, em praticamente todos os decêndios, excetuando-se os de outubro, em todas as localidades estudadas. Em geral, os desvios de Rs foram mais acentuados a partir do mês de novembro;

– Foram pouquíssimos os decêndios com Tn ≤ 15°C, em todas as localidades, indicando que deve ter sido pequena a influência de baixas temperaturas prejudicais à cultura. Da mesma forma, foram poucos os decêndios com Tx ≥ 35°C, indicando pequena influência das altas temperaturas na produtividade das lavouras.

Em síntese, excetuando o excesso de chuva do mês de outubro, as condições
meteorológicas durante a safra 2019/2020 foram muito favoráveis para o desenvolvimento da cultura, especialmente pelos altos índices de radiação solar, comparados com a média histórica. Esses altos índices de Rs devem ter sido os principais responsáveis pelos altos desvios de produtividade entre o Clima e a Safra. Isso porque, em geral, há uma relação linear entre a produtividade de grãos e a radiação solar, principalmente nas fases reprodutiva e de enchimento de grãos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:
– as lavouras com a cultivar IRGA 424 RI que foram implantadas no cedo, ou seja, que a DE tenha ocorrido até 30 de outubro foram as mais beneficiadas pelas condições meteorológicas favoráveis. Infelizmente, a área semeada até essa data não foi expressiva em função do excesso de chuva em outubro.
– para a cultivar Guri Inta CL, as lavouras mais beneficiadas foram aquelas em que a DE ocorreu mais tarde, ou seja, em 15 e 30 de novembro;
– o excesso de chuva em outubro impediu, ao menos para a cultivar IRGA 424 RI, que o Rio Grande do Sul tirasse mais proveito de uma situação climática muito favorável à partir de então.

Figura 1. Desvios de produtividade, em porcentagem e em kg/ha, entre a média histórica (clima) e a safra 2019/2020, para a cultivar Irga 424 RI, em diferentes datas de emergência, na média de seis municípios produtores de arroz irrigado do Rio Grande do Sul.

Figura 2. Desvios de produtividade, em porcentagem e em kg/ha, entre a média histórica (clima) e a safra 2019/2020, para a cultivar Guri Inta CL, em diferentes datas de emergência da lavoura, na média de seis municípios produtores de arroz irrigado do Rio Grande do Sul.

SILVIO STEINMETZ1; NEREU A. STRECK2; RÔMULO P. BENEDETTI2; SANTIAGO V. CUADRA1; IVAN R. ALMEIDA1, CRISTÓVÃO B. PEREIRA1; EMERSON L. DOS SANTOS1; MICHEL. R. SILVA2; ARY DUARTE JÚNIOR 2; GIOVANA G. RIBAS2; ALENCAR JÚNIOR ZANON2; RICARDO M. KROEFF3; SOLISMAR D. PRESTES4
1EMBRAPA CLIMA TEMPERADO; 2UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA; 3INSTITUTO RIO GRANDENSE DO ARROZ; 4INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA

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