Você está fazendo o básico?

 Você está fazendo o básico?

O manejo de ciperáceas, por exemplo, tem desafiado os arrozeiros à integração de múltiplas táticas de manejo, em razão das limitações impostas pela resistência

 É recorrente no meio científico a estimativa de que, se nada mudar, até 2050 estaremos em sérios apuros quanto ao controle químico de plantas daninhas. Nenhum novo mecanismo de ação desde a década de 80, os crescentes números da resistência de plantas daninhas a herbicidas e a dificuldade de implementar e consolidar métodos realmente inovadores no dia a dia do campo, criam uma conjuntura desfavorável e pouco otimista.

E olha que o manejo de plantas daninhas é exemplo de disrupção na agricultura. O processo de cultivar foi absurdamente alterado quando o herbicida 2,4-D foi apresentado ao mercado nos anos 40, aposentando enxadas e capinadeiras e contribuindo para a agricultura em larga escala. Depois dele, diversos outros mecanismos de ação, grupos químicos e ingredientes ativos inovadores construíram um mercado.

A partir dos anos 90, o mundo assistiu a biotecnologia conferir a seletividade do glifosato à soja e, posteriormente, para diversas outras culturas. Novas plataformas de manejo, como o arroz tolerante a imidazolinonas, surgiram e estão a pleno vapor, combinando sementes portadoras de características que viabilizam a seletividade de inúmeros combos herbicidas. Tecnologias que contribuíram para os números e a eficiência agrícola que vivemos hoje.

No entanto, sempre existe a outra face da moeda. E nesse caso, um dos maiores ônus criados pela eficiência, consistência, praticidade e excelente custo-benefício é a mentalidade de que uma nova solução, nesses moldes, estará disponível a qualquer momento. Além disso, passamos a apostar nossas fichas em poucas ferramentas de manejo, em boa parte dos casos restritas às sucessivas aplicações em pós-emergência, de costumeiros mecanismos de ação com amplo espectro de controle.

Em números, em 93 culturas, 262 espécies de plantas daninhas são capazes de resistir aos 23 dos 26 mecanismos de ação disponíveis, em um total de 70 países, conforme levantamento realizado pelo International Survey of Herbicide Resistant Weeds. E os casos só aumentam. No último novembro, pesquisadores brasileiros confirmaram mais um caso de cururu (Amaranthus hybridus), portador de resistência múltipla a inibidores de ALS e EPSPS.

Com isso, plantas daninhas que em razão da sua ecobiologia são determinantes do manejo, como arroz daninho, capim-arroz, ciperáceas e sagitária, no caso do arroz irrigado, seguem firmes e fortes em seus postos de “grandes desafios” da cultura. E nós à espera do novo grande marco da história do manejo, que pode vir da robótica e inteligência artificial, da genômica ou da biotecnologia aliada à indústria química. Ou de todas essas ciências juntas!

É claro que todos os recursos disponíveis devem ser utilizados. Porém, um ponto é crucial e independente de qualquer tecnologia vindoura: você está fazendo o básico?

Investe tempo em vistorias, realizando diagnósticos detalhados, mapeando falhas de controle devido à resistência ou possíveis erros de execução? Previne e erradica infestações iniciais? Mantém o solo coberto? Evita a produção de sementes de escapes?

Faz manejo pós-colheita e na entressafra? Realiza as operações de dessecação pré-semeadura antecipadamente, combinando mecanismos de ação e grupos químicos diferentes? Faz aplicações sequenciais? Executa o controle quando as plantas daninhas estão em estádios iniciais? Usa herbicidas pré-emergentes e residuais? Maneja adequadamente a irrigação, a fim de potencializar o efeito herbicida e suprimir plantas daninhas?

As pontas do pulverizador são adequadas para a operação? A qualidade está em dia? E a vazão? E as condições ambientais no momento da pulverização?

Você tem garantido o mais adequado material genético para seu clima e solo? Aliás, como andam os parâmetros físico-químicos? E as sementes, são de boa qualidade?

Como ficou o checklist?

Produtos, por mais tecnológicos que sejam, não fazem milagres sozinhos. Já acompanhados da sua correta tomada de decisão, embasada pelo conhecimento, chegam à disrupção!

KELI SOUZA DA SILVA
DRA. EM AGRONOMIA COM ÊNFASE EM PLANTAS DANINHAS E EDITORA DO SITE ESPECIALIZADO WEEDOUT.COM.BR.

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