Luz no fim do túnel

 Luz no fim do túnel

Terras altas: a chance de dar a volta por cima está no mercado internacional

Demanda mundial pode levar o MT a retomar o arroz.

Nenhum estado comemorou tanto os reflexos da crise mundial de alimentos no mercado brasileiro do arroz como o Mato Grosso. Embora o Rio Grande do Sul, com 60% da produção nacional, possa lucrar com a exportação e enxugamento do mercado interno, a cadeia produtiva mato-grossense vê no cenário internacional a primeira boa notícia em três safras. Após perder sua principal variedade, o Cirad 141, por falta de qualidade, a área para culturas mais rentáveis, a sustentabilidade de suas lavouras e por fim boa parte das indústrias, mercados e esperanças, o Centro-oeste pode reabilitar-se. 

Na safra 2007/2008 o Mato Grosso reduziu em 14,7% sua área, produzirá 657,6 mil toneladas, 10,5% a menos que na safra anterior e apenas o equivalente a 30% do que já produziu. Perde a terceira posição no ranking de produtores para o Maranhão. Antes, perdera o segundo para Santa Catarina. A tecnologia de terras altas, superior ao sequeiro tradicional, ainda está longe da competitividade do sistema irrigado, mas melhora com novas variedades e sistemas de manejo. Ainda assim, demanda muito investimento em pesquisa, principalmente em qualidade de grãos, rusticidade e produtividade. Enquanto Santa Catarina colherá 7,03 toneladas por hectare irrigado, o Mato Grosso ficará em 2,75 toneladas em sequeiro. 

Afora estes problemas, pairam sobre o Mato Grosso duas ameaças. Uma é o embargo ambiental em 86 municípios, que impede a abertura de áreas, sistema onde predomina o plantio de arroz. A outra é a alteração nos critérios de classificação dos padrões e qualidade do cereal ao consumidor, que ganhou uma moratória de 15 meses para estudos técnicos. O produto mais atingido seria o arroz de sequeiro, atualmente enquadrado como tipo 1, mas haveria também prejuízos ao arroz do Sul.

LUZ – Apesar de uma conjuntura desfavorável e o encolhimento da lavoura nos últimos anos, o Mato Grosso é valente como seus produtores. Mesmo com área menor, nesta safra o clima ajudou, novas variedades aumentaram a produtividade, a qualidade melhorou e, com reflexos do mercado internacional, os preços também. No início de maio, Sinop e Sorriso, duas praças referenciais de comercialização do arroz no estado, registravam cotações de R$ 33,00 para a saca de 60 quilos do arroz longo fino, para tipo 1. A valorização chegava a 35% sobre o ano anterior.

Apoio – O presidente do Sindica-to Intermunicipal das Indústrias de Alimentos do Mato Grosso (Siamt), Marco Antônio Lorga, destaca que no atual cenário internacional o Mato Grosso é a alternativa brasileira para a crise mundial de alimentos, gerada pela suspensão das exportações de arroz pelos principais comerciantes do produto. “O Mato Grosso é o único estado que pode triplicar a produção de grãos, hoje em 630 mil toneladas, sem derrubar uma árvore, com técnicas de plantio em áreas degradadas e renovação de pastagens”. Segundo ele, falta apoio governamental. “É preciso dar mais segurança aos produtores”, atesta o presidente do Sindarroz/MT, Joel Gonçalves Filho.

 

Situação privilegiada

A situação do Mato Grosso é privilegiada. Pode triplicar a produção sem derrubar uma árvore sequer. “O que precisa agora é que o Governo Federal direcione sua política agrícola aos estados centrais, além de regular os preços pagos pelo produto, de acordo com o mercado internacional, gerando maior segurança entre os produtores”, avalia o presidente do Sindicato das Indústrias de Arroz do Mato Grosso (Sindarroz), Joel Gonçalves Filho. “Precisamos de medidas de incentivo à produção, e não de restrição ao comércio”, completa Marco Lorga. O problema é que este filme o Mato Grosso já viu. O aumento considerável de área afeta o nível tecnológico, a qualidade e, com mais oferta, os preços. E os produtores migram para outras áreas. “Ainda temos o desafio de inserir o arroz dentro do sistema produtivo do Centro-oeste como uma cultura estável”, reconhece a chefe-geral da Embrapa Arroz e Feijão, Beatriz Pinheiro.

Fique de olho
O arroz tropical: vem aí um novo estágio do arroz de sequeiro, melhorado (e muito) com as tecnologias que desenvolveram o arroz de terras altas. O novo salto será o arroz tropical. Pouco exigente em insumos e tolerante aos solos ácidos, surgem variedades mais resistentes e produtivas que não necessitam de irrigação, apenas a água das chuvas, tornando-se mais adaptável às condições climáticas do Centro-oeste. Se já era bom para os produtores do terras altas, este arroz melhorado que está saindo dos centros tecnológicos com novas indicações de manejo em áreas velhas, sistemas de rotação e renovação de pastagens, tem produtividade média superior a quatro mil quilos por hectare. E com os preços atuais torna-se uma opção rentável.

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