O selvagem brasileiro

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Banco genético: arroz selvagem brasileiro em programa de melhoramento

Variedades nativas têm funções melhoradoras para o arroz branco
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No Brasil, a Embrapa, em parceria com várias instituições de pesquisa, vem desenvolvendo desde 1973 um importante trabalho de coleta e preservação do nosso recurso genético. Considerado o país de maior riqueza total de espécies em termos mundiais, o que abrange entre 15% a 20% de todas as espécies do planeta, o Brasil tem uma enorme responsabilidade com a proteção e defesa desse legado, tanto para as gerações presentes como futuras. Neste sentido, o primeiro grande desafio é conservar esse patrimônio genético, em parte desconhecido. O segundo é mapeá-lo e conhecê-lo, o que é de fundamental importância para a nossa segurança alimentar. O terceiro é utilizá-lo de maneira racional no melhoramento genético. 

No caso do arroz, a Embrapa está desenvolvendo um trabalho de grande interesse. Segundo o doutor em genética e melhoramento de plantas Paulo Hideo Nakano Rangel, até o presente momento, foram realizadas seis expedições para coleta e mapeamento das espécies silvestres de arroz no Brasil, abrangendo os biomas da Amazônia: estado do Amazonas, com coletas na bacia do Rio Negro (1992) e na bacia do Rio Solimões (1993); estado do Tocantins, nas áreas de várzea (2001); e estado de Roraima (2005), bioma do pantanal: estado do Mato Grosso do Sul, no pantanal matogrossense (1993 e 2002) e no cerrado: estado de Goiás, em áreas de várzea (2001). 

A realização dessas expedições resultou na organização de um acervo de 173 acessos de espécies silvestres do gênero Oryza, sendo 107 de O. glumaepatula, 40 de O. grandiglumis, 14 de O. latifolia e 12 de O. alta. Acessos é como os cientistas denominam os tipos de plantas coletadas e inseridas no banco de germoplasma (espécies). 

GANHO GENÉTICO – Rangel explica que os programas de melhoramento genético de plantas, de maneira geral, foram estabelecidos com base em um pequeno grupo de amostras varietais, resultando em uma estreita base genética e, por conseguinte, limitada diversidade alélica. Isto tem levado à diminuição nos ganhos genéticos por seleção principalmente para produtividade de grãos em gramíneas e outras espécies. “Dados do programa de melhoramento de arroz irrigado conduzido no Brasil mostram, por exemplo, que os ganhos genéticos para produtividade de grãos têm sido inferiores a 1% ao ano e que apenas 10 ancestrais contribuem com 68% do conjunto gênico das variedades brasileiras de arroz irrigado”, explica o melhorista. 

Segundo ele, tal situação de alta uniformidade genética pode trazer sérias conseqüências à produção brasileira de arroz. “Existem várias razões para estagnação e declínio dos percentuais de ganho de produtividade, mas não há dúvida de que o componente genético devido à limitação de variabilidade nos programas de melhoramento deve ser levado em consideração”, acrescenta.

 

Nativo amplia base genética

Oryza glumaepatula é utilizado em pré-melhoramento

Das espécies silvestres de arroz que ocorrem no Brasil, a espécie Oryza glumaepatula, por ser autógama, diplóide e possuir genoma semelhante ao da espécie cultivada, é a que possui maior potencial de uso no melhoramento genético da cultura. A Embrapa vem utilizando essa espécie no desenvolvimento de um programa de pré-melhoramento, com o objetivo de incorporar seus genes em linhagens/cultivares elites, a serem utilizadas na ampliação da base genética das populações do melhoramento de arroz irrigado, com vistas à obtenção de cultivares de alta produtividade. 

Segundo o pesquisador Paulo Hideo Rangel, da Embrapa Arroz e Feijão (GO), a estratégia adotada na introgressão de genes foi o método avançado de retrocruzamento para QTL, que envolve o uso de marcadores moleculares microssatélites, obtenção de mapas de ligação e análise de QTLs, juntamente com técnicas de melhoramento genético clássico. “Esse sistema permite que um grupo de alelos de uma planta exótica ou silvestre possa ser examinado em um conjunto gênico de uma cultivar ou linhagem elite, e o efeito da incorporação desses alelos pode ser avaliado para características de interesse agrícola, como número de perfilhos e panículas, vigor, capacidade de rebrota e produtividade”, acrescenta. 

A Embrapa desenvolveu várias linhagens de Oryza sativa com introgressão de genes da espécie silvestre Oryza glumaepatula, sendo 35 oriundas do cruzamento RS-16 (Oryza glumaepatula) x BG 90-2 (Oryza sativa) e 45 do cruzamento RS-16 (Oryza glumaepatula) x Cica 8 (Oryza sativa). Essas linhagens foram disponibilizadas às instituições de pesquisa do Brasil para serem utilizadas em programas de cruzamentos visando à ampliação da base genética e a transferência das características favoráveis. 

Fique de olho
No caso do arroz, a Embrapa está desenvolvendo um trabalho de grande interesse. Segundo o doutor em genética e melhoramento de plantas, Paulo Hideo Nakano Rangel, no país ocorrem quatro espécies silvestres do gênero Oryza: O. alta – é alotetraplóide (2n = 48 cromossomos) e possui genoma CCDD. Tem ampla distribuição, incluindo a parte oriental da Bacia Amazônica, a Mata Atlântica e as regiões sudeste e centro-oeste do Brasil; O. grandiglumis – é alotetraplóide (2n = 48 cromossomos) e possui genoma CCDD. Tem distribuição restrita à parte ocidental da região amazônica, até a cidade de Cáceres, no Mato Grosso; O. latifolia – é alotetraplóide (2n = 48 cromossomos) e possui genoma CCDD. A sua distribuição está restrita à bacia do Rio Paraguai, no Pantanal Mato-grossense; e O. glumaepatula – é diplóide (2n = 24 cromossomos) e possui genoma AA, semelhante ao da espécie cultivada O. sativa. Essa espécie apresenta ampla distribuição geográfica, sendo encontrada nas áreas de várzea de três dos principais biomas brasileiros: Amazônia, Pantanal e Cerrado.

 

Testes com irrigado e terras altas

Dois novos trabalhos estão em andamento na Embrapa Arroz e Feijão. O primeiro visa o desenvolvimento de cultivares comerciais de arroz irrigado com elevada produtividade, adaptada à colheita da soca e com grãos de alto valor comercial. Nesse trabalho estão sendo conduzidas duas populações oriundas dos cruzamentos de RS-16 (Oryza glumaepatula) x SCSBRS Tio Taka (Oryza sativa) e RS-16 (Oryza glumaepatula) x com variedades (Oryza sativa) destinadas às terras altas. O segundo é voltado para o arroz de sequeiro e tem como foco principal a seca. 

Por meio desse estudo, pretende-se obter várias linhagens de Oryza sativa (Curinga) com pequenos fragmentos da espécie silvestre Oryza glumaepatula (GEN), utilizando as mais modernas técnicas de genética molecular. “Com isto teremos condições de avaliar como esses fragmentos interferem nos mecanismos de tolerância à seca e ao mesmo tempo desenvolver linhagens tolerantes que poderão ser utilizadas em programas de melhoramento”, frisa Rangel. 

 

 
 

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