Piratas nas lavouras

 Piratas nas lavouras

Sementes legais têm garantias do Irga e da Basf e estão apresentando resultado

As sementes clandestinas põem orizicultura em risco.

O cultivo de arroz com sementes piratas para o sistema de produção Clearfield tornou-se uma prática comum para muitos produtores gaúchos nas últimas duas safras. E criou um mercado negro rentável para comerciantes clandestinos que estão lucrando em cima da promessa de uma lavoura limpa de inços, mas cujos resultados podem ser danosos a todo o sistema de produção. O risco, segundo os técnicos, não compensa. O custo elevado e a pouca oferta do produto original são os principais argumentos de quem adotou o sistema alternativo. A prática, além de ilegal, pode futuramente inviabilizar esse modelo de produção agrícola nas áreas trabalhadas irregularmente. A Basf, empresa que é detentora da tecnologia, alerta que o uso indevido de herbicidas associado com sementes piratas pode resultar em plantas daninhas resistentes, em especial o arroz vermelho.

O sistema ilegal congrega o uso de sementes produzidas e comercializadas à margem da lei (e sem procedência ou garantia) combinadas com o uso de herbicidas com o mesmo princípio ativo do Only, que foi desenvolvido especialmente para o sistema Clearfield. Na safra passada, arrozeiros de quase todas as regiões gaúchas acabaram lesados por buscar essa tecnologia clandestina e sem nenhuma garantia. Houve diversos casos de produtores que perderam boa parte da lavoura porque apenas algumas sementes tinham o gene de resistência ao princípio ativo imazetapir. Apesar do Sementes legais têm garantias do Irga e da Basf e estão apresentando resultado princípio ativo idêntico, alguns herbicidas têm outros componentes combinados que provocam perdas por serem mortais às plantas ou por causarem forte fitotoxicidade, que reduz a produção e freia o desenvolvimento das plântulas de arroz.

O Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), que desenvolveu e gerencia a produção de sementes certificadas, em parceria com a Basf, sabe os riscos que enfrenta com a pirataria, tanto que desencadeou uma operação fiscalizatória e de apreensão de grãos clandestinos. A ação envolveu órgãos estaduais e federais, resultando o recolhimento de amostras e o fechamento de depósitos. Quatro processos judiciais estão sendo movidos contra produtores flagrados com sementes falsificadas da variedade Irga 422-CL.

Questão básica 

Clearfield, na tradução para o português, significa lavoura limpa. As sementes resistentes foram desenvolvidas pelo Irga e pela Rice Tec. A recomendação é não usar este sistema mais que duas safras seguidas, evitando o surgimento de plantas daninhas resistentes ao herbicida da Basf, o Only, principalmente pelo cruzamento entre o arroz branco (comercial) e o arroz vermelho (daninha altamente competitiva). Segundo dados do Irga, na safra 2005/2006, a área cultivada com a nova tecnologia poderá chegar aos 250 mil hectares, cerca de 25% do total normalmente cultivado no Rio Grande do Sul. Na safra 2004/2005, esse tipo de cultivo deverá ser adotado numa área de 60 a 70 mil hectares de lavoura.

Como funciona? 

• Ninguém sabe exatamente como as sementes Irga 422-CL foram pirateadas tão rapidamente. O certo é que um carregamento foi desviado, não se sabe de onde, e originou as primeiras áreas de produção clandestina. Uma das versões correntes dão conta que sementes teriam sido trazidas do Uruguai, onde uma quantidade original foi reproduzida e depois multiplicada em lavouras do Rio Grande do Sul.

• Para driblar o controle na venda do herbicida específico para o sistema Clearfield, o Only, os produtores descobriram que poderiam usar outro herbicida que tem o mesmo princípio ativo. A técnica não é apropriada e nem foi legalmente testada, mas os resultados mostram que a adaptação pode dar certo em alguns casos.

• O princípio ativo do Only é o imazetapir, produto que pode ser encontrado em quase uma dezena de herbicidas recomendados para o cultivo de soja. Um dos mais conhecidos é o Pivot, que também pertence à Basf, mas é para ser usado no cultivo de soja. A vantagem dessa perigosa experiência está no custo do produto, que pode ser três vezes menor que o original.

• As recomendações do sistema Clearfield indicam a aplicação de um litro de Only para cada hectare de lavoura de arroz. A aplicação, por pulverização, deve ser feita quando a planta apresentar de três a quatro folhas e estiver com aproximadamente 20 centímetros de altura.

• A safra 2003/2004 foi a primeira de uso do Clearfield em lavouras comerciais, somando 5,9 mil hectares de área oficialmente cultivada em 40 cidades gaúchas. Os pesquisadores desconhecem o resultado de um excessivo uso desse sistema, que elimina uma espécie nociva de arroz. A grande preocupação está nos riscos de criar um monstro na lavoura caso o arroz vermelho venha a assimilar resistência ao herbicida.

Legais

O diretor-técnico do Irga, Maurício Fischer, explica que o aumento da produção de sementes originais foi uma estratégia adotada pelo instituto para combater o crime de pirataria na lavoura de arroz. Para a safra 2003/2004, a área oficial de produção de sementes para o Clearfield foi de 1,5 mil hectares. Foram plantados oficialmente em lavouras comerciais 5,9 mil hectares. Na safra 2004/2005, a produção de sementes está sendo realizada em 4,5 mil hectares. A empresa Rice Tec, que desenvolveu as sementes de arroz híbrido para o sistema Clearfield, não tem registros de pirataria na cultivar Tuno- CL. A explicação está no baixo rendimento das gerações seguintes das sementes híbridas.

Memória

O diretor-técnico do Irga, Maurício Fischer, lembra que o arroz vermelho foi eliminado das lavouras da ásia com a ajuda da tecnologia Clearfield. “O arroz vermelho ainda está muito presente nas lavouras dos Estados Unidos, América Central e América do Sul. Temos uma ferramenta que deve ser usada corretamente para não perdermos suas vantagens. Em pouco mais de 100 anos de cultivo irrigado, praticamente todas as lavouras foram contaminadas com o arroz vermelho. Estamos correndo o risco de voltar à estaca zero se não usarmos corretamente esse sistema de produção”, observa Fischer.

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