El Niño: não há consenso sobre intensidade e período
A Somar acredita que o fenômeno já está causando interferências no clima do País.
Segundo a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), o possível aumento das precipitações pode mudar o cenário de perdas verificado na última safra. A empresa de estratégia de mercado Newedge afirma que, com o El Niño, o Brasil deverá colher uma safra de soja abundante na próxima temporada, ampliando os estoques. Segundo projeção do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil deve produzir no próximo ciclo 91 milhões de toneladas de soja. O País deve ser o principal exportador da oleaginosa na safra 2014/2015, com 45 milhões de toneladas, à frente dos Estados Unidos, com previsão de 44,2 milhões de toneladas. O fenômeno, que se repete a cada três anos aproximadamente, é provocado pelo aumento atípico da temperatura superficial das águas do Oceano Pacífico e causa distorções climáticas no mundo todo. A diminuição das chuvas de monções na Índia ameaça, principalmente, a produção de açúcar. O clima mais seco no Sudeste Asiático e na Austrália podem representar problemas para as produções de palma (da qual é extraído o óleo) e de trigo, respectivamente.
O último El Niño ocorreu em 2012 e, antes disso, em 2009, mas nestas duas ocasiões a intensidade foi moderada, o que pode se repetir este ano. Nos Estados Unidos, o fenômeno pode provocar o aumento gradual das temperaturas no segundo semestre no nordeste do país, perto do cinturão produtor de milho. Neste caso, não há um padrão específico. Mas, com o El Niño, o Meio Oeste norte-americano pode registrar um calor mais intenso que o normal, além de receber chuvas irregulares, segundo a Climatempo. O Banco Morgan Stanley prevê que o fenômeno terá um impacto maior no inverno norte-americano, entre dezembro e março, do que no verão, entre junho e setembro, o que significa que a produtividade do milho e da soja cultivados no país pode não receber um impulso tão grande de chuvas abundantes e do clima mais frio que o El Niño costuma trazer. No Brasil, além da concentração de chuvas no Sul, o El Niño pode significar um clima menos úmido no Sudeste.
A condição de clima seco prolongado não é ruim para a região, segundo a Somar, em relação à colheita de café. Mesmo assim, a Somar pondera que a seca pode acelerar a maturação e a retirada dos grãos, prejudicando a qualidade. Com isso, podemos ter problemas na próxima safra. A Somar, alerta também que o aumento das chuvas pode prejudicar a colheita de milho 2ª safra e de cana-de-açúcar, em andamento nos estados do Paraná e de Mato Grosso do Sul. O trigo é colhido até novembro no Paraná e Rio Grande do Sul. Segundo a Emater/RS, já é possível observar um aumento da umidade no Rio Grande do Sul, já percebendo os efeitos do El Niño. No mês passado, o Estado recebeu 50% de chuvas acima da média no norte. Os meteorologistas divergem sobre o período de desenvolvimento e a intensidade do El Niño no Brasil. Segundo a Climatempo, os efeitos do fenômeno devem ser sentidos no País a partir de julho ou agosto e durar até março do ano que vem.
Há 90% de chance de ocorrência, segundo a empresa, acrescentando que a força do fenômeno deve ser de fraca a moderada. As configurações do El Niño não estão bem definidas, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas (Inpe). A Somar acredita que o fenômeno já está causando interferências no clima do País. O aquecimento clássico das águas do Pacífico começou no final de abril, ou seja, já dá para sentir seus efeitos. Um exemplo disso são as fortes chuvas que atingiram o sul do País no último fim de semana. De acordo com dados da Somar, a região central do Paraná foi uma das mais prejudicadas: depois de três dias consecutivos de precipitações, o acumulado superava a casa dos 350 mm, que corresponde mais do que o dobro da média para o mês de junho. A Somar acrescenta que este ano o fenômeno deve ser curto, parecido com o de 2012, e deve perder as características de um El Niño clássico já em novembro.