O produtor deixa de ser tomador de preço?

 O produtor deixa de ser tomador de preço?

Fátima Marchezan

Autoria: Fátima Marchezan – Doutora em Manejo de Conservação de Solo e Água – presidente da Associação de Arrozeiros de Alegrete.

O ano de 2020 tirou muitos países do seu eixo de normalidade. Uma das situações que gerou pânico generalizado foi a incerteza da oferta de alimentos. Segundo a Revista Planeta Arroz, “em 15 de março de 2020, das 8h ao meio-dia, parte das indústrias vendeu o equivalente a dois meses de produção”.

Mas… se o mundo parou, os produtores não pararam e não faltou alimentos na mesa da população.

É fato que os preços ao consumidor se elevaram muito, mas quando isso ocorreu, cerca de 90% dos produtores não dispunham mais do produto que já havia sido vendido para honrar seus compromissos até a metade do ano, ou seja, menos de 10% dos produtores obtiveram médias acima dos R$ 60,00 – valor esse inferior aos seus custos de produção! A título de informação, nos últimos 10 anos, os arrozeiros só tiveram lucro em duas safras…

A COLHEITA

De acordo com o IRGA, a área plantada no RS  alcançou 944.841 hectares, 2,56% inferior a intenção inicial de plantio (970 mil), uma das  menores dos últimos 14 anos. Esse não foi um ano fácil para os produtores que enfrentaram várias adversidades climáticas como reservatórios incompletos e de um La Niña com seca e os últimos dias com frio e até ciclone extratropical no litoral.

Apesar do fenômeno confirmado, a região Sul, maior produtora do Brasil, também registrou perdas por granizo, chuvas em excesso e salinidade nas lagoas. Em virtude das condições climáticas também se registra uma incidência considerável de invasoras competindo com a cultura de arroz e baixando a produtividade de algumas lavouras. As perdas estimadas são de 5% ou talvez um pouco mais. 

MERCADO 

Segundo a FAO, mesmo durante a pandemia, a produção de arroz no mundo aumentou e, apesar do consumo nacional e mundial aumentar bastante durante esse ano, espera-se que ocorra um retorno do consumo próximo aos patamares anteriores. 
Entretanto, os estoques finais de arroz, ou estoques de passagem, deverão continuar muito ajustados e são os menores dos últimos dez anos.

De acordo com a CONAB, agora em final de fevereiro, os estoques estariam entre 400 a 500 mil toneladas, um dos menores em níveis históricos e se considerarmos o consumo, médio de 1,8 milhão de toneladas entre os meses de janeiro e fevereiro, os estoques estariam zerados daqui a alguns dias.

Urge um ingresso superior a 700 mil toneladas da safra nova o quanto antes.

Considerando o último levantamento do Irga, divulgados nessa semana, sobre as fases fenológicas da safra no RS, apenas pouco mais de 15.000 ha, deverão estar prontos para serem colhidos nos próximos 30 ou 40 dias. Se houver atrasos na colheita, isso pode impactar a oferta no mercado interno e levar a uma elevação de preços em plena safra. 

Em que pese o mercado estar atualmente retraído com desvalorização do produto é possível prever uma estabilização e mesmo recuperação dos preços em curto e médio prazo. O quadro atual é de baixa liquidez e a indústria está sendo pressionada pelo varejo para reduzir preços, mas o produtor não está mais disposto a vender seu produto abaixo do custo de produção e tem ocorrido uma crescente migração para o consórcio com a soja, milho e pecuária, permitindo outras alternativas para o fluxo de caixa. 

Além disso, temos um dólar elevado e preços internacionais mais firmes e uma exportação ascendente, com um consumo mundialmente aquecido devido à pandemia. Aliado a essa conjuntura internacional, temos internamente, uma menor área plantada e menor produção, com estoques muito ajustados. 

A tradicional quebra de braço entre os elos da cadeia produtor x indústria x varejo, está sendo mais equilibrada durante a pandemia, justamente porque a demanda está puxando os preços. Atipicamente, a indústria tem procurado o produtor que tem se colocado na justa posição de colocar preço no seu produto.

A Associação dos Arrozeiros de Alegrete tem recebido várias ligações de agentes querendo comprar arroz, o que demonstra que o mercado está aquecido para a compra. 

NOVIDADES 

O arroz passa a ser comercializado através de contratos de compra e venda futura do cereal, o que antes só existia para a soja. De acordo com a Bolsa Brasileira de Mercadorias, o preço travado refere-se à safra que será colhida a partir do próximo mês com entrega estimada entre os meses de fevereiro e abril deste ano, oferendo segurança operacional aos vendedores e compradores.

O travamento de preços permite aos produtores uma gestão planejada da próxima safra, tanto na área a ser semeada quando a aquisição dos insumos.

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