La Niña alcança seu ápice em janeiro
A presença do fenômeno La Niña é o terceiro mais intenso nos últimos 20 anos.
Com atualização em 10 de dezembro de 2020, a Agência de Meteorologia e Oceanografia Norte Americana (NOAA) manteve a presença de um La Niña. O terceiro mais intenso nos últimos 20 anos. Na última medição, a temperatura do oceano Pacífico equatorial central estava 1,2°C mais baixa que o normal. O mais intenso teve desvio de até -1,7°C em 2010.
Outro fenômeno intenso aconteceu entre 2007 e 2008 com a água -1,6°C mais fria que o normal. A tendência é de que o atual desvio de temperatura não alcance -1,5°C no trimestre dezembro, janeiro e fevereiro, mas ainda assim seja considerado intenso. Tanto que, a Região Sul passa por uma estiagem prolongada que mantém o nível dos reservatórios baixos e compromete o desenvolvimento agrícola, como o milho.
Além disso, a demora na regularização da chuva no Sudeste e Centro-Oeste durante a primavera também esteve ligada ao resfriamento da água do Pacífico. Embora o fenômeno La Niña deva prosseguir até o mês de abril, seus efeitos na atmosfera serão vistos até meados de 2021, especialmente no Norte e Nordeste, com chuva acima da média.
Aliás, de acordo com o IRI (Instituto de Pesquisas Internacionais para o Clima e Sociedade) da Universidade de Colúmbia, para o trimestre dezembro, janeiro e fevereiro, há previsão de chuva abaixo da média na Região Sul, além do Sul do Paraguai, Uruguai e Centro e Norte da Argentina.
Ou seja, embora tenha voltado a chover mais frequentemente sobre Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, ainda há risco de cortes abruptos da precipitação e estiagens regionalizadas a partir de fevereiro, sobretudo no Sul do RS.
Na maior parte do Sudeste e Centro-Oeste, o trimestre, normalmente, mais chuvoso do ano, receberá precipitação entre média e abaixo da média, indicando que as invernadas típicas da época do ano não serão tão duradouras.
Por fim, boa parte do Norte, Leste e Norte do Nordeste receberão mais chuva que o normal, padrão típico quando há influência de La Niña. Além disso, boa parte do Brasil terá um verão com ondas de calor não muito duradouras. Apenas na Região Sul, o calor será mais persistente por conta da estiagem.
Entre março e maio de 2021, o mapa de probabilidade de chuva do IRI mantém um período com chuva abaixo da média no Sul. A novidade é que partes de São Paulo (Oeste, Centro e Sul) e o Sul de Mato Grosso do Sul também terão chuva abaixo da média, algo comum sob La Niña entre o fim do verão e início do outono.
Por outro lado, La Niña deixará o início do outono mais chuvoso no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Trata-se de outra característica do La Niña. A chuva demora a se regularizar na primavera, mas costuma postergar no outono. Não é possível, no entanto, afirmar se haverá total compensação da falta de chuva da primavera e do outono mais úmido, já que a estiagem foi prolongada em 2020.
Por fim, boa parte da Região Norte e o Norte do Nordeste permanecerão sob chuva acima da média. Um primeiro efeito do término do La Niña será visto apenas no fim de maio, quando há previsão da primeira onda de frio com potencial para geadas na Região Sul e no Sul de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Muitos acreditam que o La Niña aumenta o risco de geadas, mas não. Apesar das ondas de frio mais fortes, elas não costumam avançar pelo interior do Brasil. O risco de geada costuma ser maior sob neutralidade climática (sem El Niño ou La Niña).
Temperatura – Previsão Geral
Uma nova massa de ar frio avança sobre o Rio Grande do Sul nos primeiros dias de janeiro, mantendo a temperatura do ar abaixo da média para o período, especialmente durante a madrugada e manhã.
No decorrer do mês, por conta da chuva mais irregular e o Oceano Atlântico mais quente, a temperatura do ar permanece mais elevada que o normal na fronteira com o Uruguai e ao longo do litoral do Rio Grande do Sul, especialmente na segunda metade do mês de janeiro.
No mês de fevereiro, com a falta de chuva, a temperatura permanece mais elevada que o normal na fronteira com o Uruguai e no litoral, enquanto as demais áreas terão temperaturas dentro da média histórica.
Já em março, apesar da temperatura acima da média no Leste, Sul e Oeste, uma primeira onda de frio típica do outono será sentida no decorrer da segunda quinzena do mês.
Precipitação – Previsão Geral
Desde o fim de novembro, a chuva vem acontecendo de forma mais frequente sobre a Região Sul, apesar do fenômeno La Niña. O Pacífico Sul mais quente vem gerando bloqueios atmosféricos, responsáveis pelo avanço mais lento das frentes frias chuvosas.
Desde as últimas semanas de novembro até o final da primavera, os acumulados de chuva ultrapassaram os 100mm entre a região Central, Fronteira Oeste e Noroeste do Estado. Mas isso não vai acontecer durante todo o verão.
Mesmo com chuva mais forte no início do mês, dezembro fechou com chuva abaixo da média em praticamente todo o Estado, com desvios que chegaram a ficar 100mm abaixo da média na região Central. Somente áreas do extremo norte e região Sul fecharam o mês com chuva dentro, tendendo para acima da média histórica.
A previsão probabilística do IRI indica maior chance de chuva abaixo da média no Oeste do Rio Grande do Sul e Norte de Santa Catarina no primeiro trimestre de 2021. Somente nas áreas mais próximas da costa do RS e de SC choverá mais que o normal por conta da temperatura da água quente do Atlântico.
Em janeiro, ainda há previsão de chuva entre a média e acima da média nos três Estados da Região. De forma geral, a primeira quinzena do mês será com chuva irregular e mal distribuída no estado com pancadas isoladas, condição insuficiente para repor os níveis de água no solo.
Já durante a segunda quinzena, a chuva volta a acontecer de forma mais expressiva e melhor distribuída se comparada ao início do mês, e janeiro tende a fechar com chuva dentro, tendendo para acima da média no Estado, mas lembrando que a média climatológica já não é muito alta neste período.
Em fevereiro, o risco de estiagem aumenta no Rio Grande do Sul. De fato, o acumulado de chuva despenca na primeira quinzena do mês não apenas no Rio Grande do Sul, mas também no Oeste do Paraná e de Santa Catarina. Assim como na primeira metade do mês, a segunda quinzena não será chuvosa no Sul.
Na soma do mês, estimam-se menos de 50mm no Centro e Oeste do Rio Grande do Sul, entre 50mm e 100mm no Oeste de Santa Catarina e acima dos 100mm apenas no Leste catarinense.
Em março, a chuva alcançará a média histórica ao longo da costa do Rio Grande do Sul, mas ainda há risco de estiagem no Oeste e Noroeste. Por enquanto, estima-se acumulado inferior aos 100mm na maior parte do Estado gaúcho.
Para o outono, ainda há previsão de chuva abaixo da média em boa parte da Região Sul. Será uma estação de transição do verão para o inverno, mas também de transição do La Niña para uma neutralidade climática. Por isso, espera-se uma mistura com a chuva abaixo da média do La Niña, mais a primeira entrada das ondas de frio intenso, típico da neutralidade em meados de maio.