SOJA 2022/23: RECORDE DE ÁREA E MERCADO ESTÁVEL

A safra de soja brasileira 2022/23 está sendo semeada sob a égide de um recorde de área, estimada, no início de novembro, ao redor de 43 milhões de hectares. Confirmando-se este número, o volume a ser colhido, em clima normal, poderá alcançar 154 milhões de toneladas, um novo recorde. Neste contexto, o Rio Grande do Sul deverá contribuir com 6,4 milhões de hectares, ou quase 15% do total nacional. Será a maior da região sul, na medida em que se projeta no Paraná 5,7 milhões de ha.

O aumento na área gaúcha, de 1,29%, sobre 2021/23, e 30,4%, sobre o semeado há 10 anos, se deve, em especial, ao avanço da soja sobre terras de arroz, no sul e oeste do estado. A expansão da soja em terras baixas poderá superar os 505.000 hectares.

De fato, na safra 2021/22, foram plantados 957.185 hectares de arroz em solo gaúcho, e, para 2022/23, espera-se perto de 862.500 ha. Isso representa o recuo de 10,9% na área de arroz gaúcha. Em 2016/17, a área com o cereal atingiu a 1,1 milhão de hectares. Além disso, áreas de pastagens, na campanha gaúcha, também vêm dando lugar à soja.

Para 2022/23, os gaúchos esperam colher perto de 22 milhões de t de soja, um recorde. O incremento supera 137% sobre a frustrada safra anterior. Tal volume será possível, em clima normal, graças à produtividade média prevista ao redor de 3.400 quilos/hectare (56,7 sacos/ha). Confirmando-se, será, de novo, o segundo maior produtor nacional, com cerca de 14,3% do total brasileiro, atrás apenas do Mato Grosso.

O aumento na área semeada se dá pela valorização da soja no mercado mundial e nacional, mesmo com a disparada dos custos de produção. Nos dois casos, a pandemia da covid-19, cujo auge se deu em 2020 e 2021, e a guerra entre Rússia e Ucrânia, a partir de fevereiro de 2022, foram os os grandes motivos da mudança de custos e preços. Assim, após fortes oscilações em três anos, o mercado da soja tende a se estabilizar, salvo acontecimentos extraordinários.

Estabilidade
Essa estabilidade depende, em muito, da concretização de alguns fatores fundamentais: o controle definitivo da pandemia, que não está garantido (a China ainda pratica lockdowns e novas cepas do vírus vêm surgindo); a produção mundial seja normal, sem grandes problemas climáticos; a guerra no leste Europeu não recrudesça e, aos poucos, se resolva; e o cenário político brasileiro, passada as eleições, se normalize, estabilizando o câmbio ao redor de R$ 5,00/US$ 1,00.

O que significaria tal estabilização do mercado da soja? Em primeiro lugar, Chicago com o bushel oscilando entre US$ 13,00 e US$ 14,00, a partir do fim da colheita dos EUA, agora em novembro. Prêmios portuários no Brasil entre US$ 0,40 e US$ 1,70/bushel, conforme os diferentes períodos do ano comercial. E, em especial, um câmbio entre R$ 4,80 e R$ 5,20 por dólar.

Nesta, que depende de muitos fatores para se concretizar, mas cujo cenário a torna relativamente viável, os preços médios aos produtores gaúchos, hoje ao redor de R$ 170,00 a R$ 175,00/saco, poderão atingir valores de R$ 145,00 a R$ 150,00 no fim da colheita, em abril de 2023, em vindo safra cheia.

São preços menores do que os atuais e do auge obtido no primeiro semestre deste 2022, quando o saco atingiu pouco mais de R$ 200,00. Porém, são interessantes se considerarmos que em meados de 2020 o mercado gaúcho praticava valores 50% mais baixos. Por óbvio que não apagará o enorme prejuízo na safra anterior, quando se associaram forte aumento de custos e frustração de safra que eliminou mais de 50% da produção esperada, mas trata-se de acomodação de mercado em níveis ainda elevados e, portanto, positivos.

Dito isso, a preocupação que se instala ao fim de 2022, no meio produtivo do sul do país, é a possibilidade de fazermos frente ao terceiro ano consecutivo sob efeito de La Niña, o qual segue a causar prejuízos na Argentina e pode frustrar as projeções otimistas de produção e rentabilidade que se tem, até o momento, para a safra de verão 2022/23.

Argemiro Luís Brum
Professor titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS (França), coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (CEEMA), junto ao PPGDR/UNIJUÍ

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