A grande aliança

União entre clima, pesquisa, extensão e arrozeiros leva a recorde de produtividade

Se o Rio Grande do Sul colhe uma safra com produtividade recorde em 2020/21, que deve se aproximar de 8.800 quilos por hectare e consagrar-se como a terceira maior produção da sua história, isso se deve à evolução do arrozeiro para uma condição de produtor de alimentos, à genética embarcada nas sementes e ao manejo adequado dos campos. Nesta temporada, somou-se, também, uma condição excepcional de clima favorável.

Jossana Cera, consultora em Meteorologia no Irga, enfatiza que apesar de começar com estiagem e efeitos do fenômeno La Niña, a temporada gerou chuvas suficientes para repor os mananciais no momento necessário e garantir a irrigação das lavouras. A luminosidade também ficou acima da média.

Ricardo Kroeff, diretor técnico do Irga, considera que há uma conjunção de fatores que somaram esse resultado. “Precisamos enaltecer o produtor pelo nível de atividade tecnológica e por fazer as ações corretas no momento mais adequado, seguindo as melhores orientações de manejo. O clima trouxe a luminosidade e as chuvas na medida certa, e o potencial genético das sementes deu a resposta esperada ao ambiente criado pela soma de condições do solo, manejo e clima”, definiu.

Se não foi limitante para as lavouras semeadas, a água também não permitiu um avanço maior da área cultivada. “A previsão de quase 970 hectares não se confirmou porque a lavoura foi dimensionada de acordo com a disponibilidade de recursos para irrigação, que davam para 945 mil hectares. Isso vai, também, do amadurecimento e da responsabilidade do agricultor, pois viemos de um ano de cotações recordes. Hoje o arrozeiro sabe que tem um limite de demanda no mercado e ajustar-se a isso vai definir suas cotações”, frisa.

No manejo, Kroeff destaca a relevância da rotação com soja na época de semeadura. “Com rotação em quase 40% da área de arroz no estado, ou seja, mais de 360 hectares, os produtores conseguiram plantar na resteva mais cedo e a curva de arrancada da semeadura foi muito boa. Ao final de melhor época de plantio, estávamos com mais de 90% das lavouras plantadas. Isso, definitivamente, interferiu nos resultados”, observa o dirigente.

O preparo antecipado, no entanto, não define apenas a época da semeadura, mas abre janelas mais claras para cada um dos tratos culturais, da entrada de água e controle de plantas daninhas até a correção de fertilidade do solo, adubação no seco, entre outras técnicas que demonstram grande capacidade de resposta em produtividade das plantas.

O que definiu essa produtividade
1 – Escolha das variedades e uso de sementes certificadas
2 – Clima favorável, com chuvas na época certa e muita luminosidade
3 – Manejo recomendado pelos projetos 10, 10+ e CFC para altas produtividades
4 – Rotação com soja, que permitiu maior controle de invasoras, pragas e doenças
5 – Época de semeadura (mais de 90% durante a época recomendada) graças ao cultivo de 40% na resteva da soja e a necessidade de concluir operações em arroz para iniciar na soja.

 

IRGA 424RI dá resposta

Cultivar: a força da genética Irga

Cultivar mais plantada no Rio Grande do Sul, a IRGA 424 RI deu resposta mais do que satisfatória nesta temporada, embora em algumas áreas tenha se notado a quebra de resistência à brusone. Selecionada na pesquisa por se adaptar bem ao frio da zona sul, a cultivar se ajustou muito bem nas seis regiões do estado e, segundo se sabe, está sendo cultivada em Santa Catarina, no Paraná, no Tocantins, no Mercosul, na Costa Rica e até na África, segundo se tem notícias.

“Isso se deve a sua altíssima resposta à tecnologia e por causa de sua estabilidade e potencial produtivo, com o acréscimo de ser resistente à brusone, ou seja, exigir menor investimento em fungicidas”, observa Rodrigo Schoenfeld, engenheiro agrônomo do Irga. Quando surgiu, a variedade era apontada pela indústria como “levemente inferior” em rendimento e por um volume pouco superior da presença de centro branco sobre as cultivares concorrentes. O Irga esforçou-se em eliminar esses defeitos por meio do manejo para altas produtividades e qualidade. “Além do produtor adotar técnicas que ajudam a eliminar os problemas com centro branco, a indústria também aprendeu a manejar melhor a cultivar e adaptou-se”, reconhece Schoenfeld.

O presidente do Irga, Ivan Bonetti, explica que atualmente o instituto tem materiais muito promissores que podem se tornar cultivares em breve, mas nenhum se iguala ou supera o IRGA 424 RI em condições de campo. “É uma variedade que subiu muito a régua de qualidade e resposta à agronomia e o melhoramento trabalha para superar estas características”, observa. O desafio dessa variedade, agora, é segurar ao máximo a sua resistência à brusone até que novo material seja lançado. “No jogo do patógeno com a planta, o vencedor já sabemos quem será: o patógeno. Hoje, no Rio Grande do Sul, há 119 isolados (raças) do fungo que causa a brusone. Apenas uma consegue superar a barreira genética imposta pelo 424RI. “Nosso desafio – e da lavoura – é segurar a doença até selecionar outra cultivar que expresse as mesmas vantagens”, acrescenta Schoenfeld.

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