A orizicultura tem futuro?

Decisões sobre a orizicultura passam
por Capão do Leão
de 20 a 22 de fevereiro
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 Em uma crise sem precedentes, com 70% dos rizicultores fora do crédito oficial e boa parte deles com dívidas impagáveis, o que já reflete a área plantada, e perdas por enchentes, a cadeia produtiva do arroz reunirá suas forças para buscar decisões que viabilizem o seu futuro na 29ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, entre 20 e 22 de fevereiro, em Capão do Leão. A cidade fica ao lado de Pelotas, na Zona Sul gaúcha, e os eventos acontecerão na Estação de Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado.

O Rio Grande do Sul produz 72% do arroz brasileiro e reapresentará seus gargalos produtivos e comerciais à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ao governador Eduardo Leite e a representantes dos diversos organismos governamentais e privados ligados à cadeia produtiva. “Não é retórica, a lavoura de arroz está falindo com anos de renda inferior ao custo de produção e precisamos de medidas estruturantes que mudem este perfil, estanquem esta sangria”, resume Alexandre Velho, vice-presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).

Exemplo de ações esperadas pela Federarroz são decisões governamentais que reduzam o impacto dos tributos sobre insumos, produção, beneficiamento, comercialização e exportação do arroz, minimizem ou anulem as assimetrias do Mercosul e resolvam o passivo e a inacessibilidade ao crédito por parte dos produtores. “Temos urgência na definição de um preço mínimo adequado à realidade de custos variáveis, securitização das dívidas de maneira a viabilizar o pagamento, prorrogação do custeio da safra para quem foi atingido pelas enchentes, mudanças das regras para a importação de arroz do Mercosul e o fim da burocracia e entraves para importarmos insumos a preços competitivos”, acrescenta Henrique Dornelles, presidente da Federarroz.

Para ele, com relação ao Mercosul, é necessário que o produtor brasileiro tenha igualdade de condições para competir. Dornelles acredita que o governo federal deve acenar com algumas medidas já durante o evento. “A ministra e o governador têm ciência da situação do setor e estamos confiantes em alguns anúncios importantes”, atesta.

Para Alexandre Velho, o governo do estado poderá colaborar com quatro ações diretas: retomada dos investimentos da CDO no Irga, conforme prometido, redução da alíquota de ICMS para venda de arroz a outros estados nos meses de colheita – fevereiro a maio, por exemplo –, favorecendo o escoamento, ajuda na modernização da estrutura de exportação no Porto de Rio Grande e uso da força política para auxiliar na defesa das demandas setoriais junto ao governo federal.

Francisco Schardong, presidente da comissão do arroz da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul), lembra que o atual governo teve apoio maciço do agronegócio pela esperança dos agricultores em uma solução para a crise. “O discurso esteve alinhado às nossas necessidades, agora é a hora de transformar esse discurso em ações práticas e atender as demandas. Nessa safra encolhemos 70 mil hectares. Se não mudar este cenário, pra o ano vai encolher muito mais. Nós temos esperança, mas são os governantes, em especial o federal, que vão nos dizer se a lavoura de arroz tem futuro. Nós temos feito tudo o possível, mas chegamos ao limite e a decisão, agora, está nas mãos deles”, avisa.

FIQUE DE OLHO
Além das questões de políticas setorial, econômicas, comerciais e conjunturais, a 29ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em Capão do Leão, apresentará novidades tecnológicas para as lavouras de arroz e soja na várzea e a integração entre lavoura e pecuária. Aliás, estes são temas que chamam muito a atenção no momento em que a orizicultura busca uma conversão em busca de renda. Além da lavoura da abertura, com duas novas cultivares (BRS Pampa CL e Irga 431 CL), haverá 33 vitrinas tecnológicas com experimentos de insumos e manejo. Clenio Pillon, chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, destaca que o tema do evento está associado às tecnologias demandadas pelos produtores: “Matriz produtiva: atividade diversificada, renda ampliada”.

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