Agregar valor ao produto é fundamental

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Anele: foco nos negócios

O Brasil já é reconhecido internacionalmente como exportador de vários produtos, mas ainda não é o caso do arroz. Para o empresário e gerente do Projeto de Exportação Brazilian Rice, André Anele, 44 anos, a reversão deste conceito é um desafio que precisa ser encarado pelas empresas brasileiras que buscam ampliar sua participação no concorrido mercado mundial do cereal. Formado em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e pós-graduado em Finanças e Comércio Exterior pela Fundação Getúlio Vargas, Anele também trabalhou por 16 anos no Serviço Brasileiro de Apoio às Médias e Pequenas Empresas (Sebrae/RS), coordenando projetos setoriais. Nesta entrevista exclusiva concedida à revista Planeta Arroz, ele fala sobre a importância de agregar valor às exportações, a promoção do grão brasileiro no exterior e como as mudanças que vêm ocorrendo no perfil do consumidor no mercado interno vão impactar na cadeia produtiva do arroz.

Planeta Arroz – Que razões o levaram a atuar na área de agronegócio?
André Anele – Em 2012, fui convidado para gerenciar este grande projeto para promoção do arroz brasileiro, que é o Brazilian Rice, criado a partir do convênio firmado entre a Associação Brasileira das Indústrias de Arroz (Abiarroz), a Agência Brasileira de Promoção e Exportação de Alimentos (Apex-Brasil) e o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), em janeiro de 2013. O convite se deu muito mais pelos meus conhecimentos em gestão de projetos, principalmente na área de exportação, do que pelos meus conhecimentos em agronegócios. Entretanto, em minha trajetória profissional, já havia acompanhado projetos setoriais para exportação de carnes e frutas.

Planeta Arroz – Qual a percepção e a receptividade do mercado externo em relação ao arroz brasileiro?
André Anele – O Brasil já é reconhecido internacionalmente como exportador de alguns produtos, mas ainda não é o caso do arroz. A presença do país como player internacional é recente na exportação deste cereal. Claro que em alguns mercados mais próximos o arroz brasileiro já é conhecido e reconhecido por sua qualidade, mas ainda há muito a ser mostrado; não apenas que possuímos o grão para exportar, mas também que é de excelente qualidade. Por isso a percepção do nosso produto varia muito, dependendo do mercado. Alguns países desconhecem que o Brasil produz arroz, mas em outros as marcas brasileiras já estão presentes.

Planeta Arroz – Qual o perfil destes mercados em termos de preferência?
André Anele – O Brazilian Rice promove a exportação do arroz beneficiado e os seus derivados, produtos de maior valor que o arroz em casca. O ideal é que agregássemos cada vez mais valor ao arroz, beneficiando e transformando este cereal em outros produtos, como farinhas, massas, biscoitos e até mesmo bebidas. Dessa forma, movimentamos nossa economia e geramos mais empregos.

Planeta Arroz – O que falta para o Brasil ser um grande exportador de arroz e que variáveis podem comprometer o nosso desempenho?
André Anele – Em minha opinião, dois aspectos muito importantes e que não estão ligados diretamente aos produtores e à indústria comprometem nosso desempenho. Um deles está relacionado à falta de acordos comerciais eficazes e o outro à infraestrutura logística do país, que ainda é deficiente. Retirando esses pontos, acredito que as empresas têm se dedicado à capacitação de executivos capazes de trabalharem com comércio internacional e se preparado para atenderem as demandas de produtos dentro das normas internacionais de segurança alimentar.

Planeta Arroz – As indústrias brasileiras estão preparadas para a demanda internacional?
André Anele – Sim, estão. Existem muitos nichos de mercado a serem explorados por nossas empresas e possuímos capacidade de atendê-los.
Podemos ser um pouco mais agressivos comercialmente. O grande mercado interno sempre foi uma “espécie” de desculpa para não exportar, assim como a burocracia. A questão idioma – afinal, somos os únicos a falarmos português nas Américas – com certeza também foi um inibidor para desbravar outros mercados.

Planeta Arroz –
Em que aspectos o produto brasileiro ainda precisa evoluir no mercado externo? A questão da embalagem é relevante?
André Anele – A embalagem pode fazer a diferença em alguns mercados. Já percebemos algumas mudanças nas prateleiras de nossos supermercados. A Abiarroz irá trabalhar este quesito através do projeto Embala Design, em parceria com a Apex-Brasil e a Associação Brasileira de Embalagem (Abre).

Planeta Arroz –
Aproveitando o tema da reportagem de capa desta edição, o senhor acredita que o consumo tradicional de arroz, do saquinho para a panela, pode ser incrementado ou já atingiu seu limite de saciedade?
André Anele – As mudanças econômicas e o aumento da renda do brasileiro certamente têm impacto nos hábitos de consumo, inclusive no arroz. Entretanto, este cereal faz parte da nossa cultura gastronômica e sempre estará presente na mesa do brasileiro. Ocorre que o arroz também está se adaptando a essas mudanças. Acredito que o arroz continuará atendendo seu consumidor tradicional, mas também ganhará adeptos de produtos mais “modernos”, como produtos de rápido preparo, em embalagens individuais, que já estão pré-prontos com algum tipo de molho ou que vêm misturado com outros cereais ou vegetais, por exemplo. Neste aspecto, há enorme mercado a ser explorado. O arroz pode ser insumo para várias outras indústrias, basta lembrar que o arroz não contém glúten. Vamos ver muitos produtos utilizando o arroz, que já são realidade nas prateleiras de supermercados da Alemanha, França e Itália.

Planeta Arroz –
Na sua avaliação, o consumidor brasileiro está mais exigente, anseia por produtos de maior valor agregado, quer saber a origem, se é produzido de forma sustentável?
André Anele – Sim, está mais exigente, mas nós brasileiros e nossas indústrias só iremos evoluir com uma economia moderna e aberta para o comercio mundial. A competição no mercado interno, com novos produtos, melhorará nosso desempenho como consumidores e produtores.

Planeta Arroz –
Ainda em relação ao projeto Brazilian Rice, já é possível fazer um balanço dos avanços?
André Anele – O projeto iniciou suas atividades em janeiro de 2013 e tem seu término previsto para agosto de 2015. A Abiarroz e a Apex-Brasil avaliam como positivos os resultados alcançados até o presente momento. Estes resultados foram alcançados em diferentes níveis. Existem resultados como a cooperação de 29 empresas, que competem no mercado nacional, mas que participam de um projeto visando promover a marca Brazilian Rice internacionalmente. Temos indicadores que mostram uma maior diversificação de mercados das empresas pertencentes ao projeto se comparadas a outras empresas do setor. Nas ações de promoção comercial, como nas feiras internacionais de Anuga, Gulfood e nas Rodadas de Negócios, as empresas que participam do Brazilian Rice iniciaram novos contatos comerciais e algumas já fecharam negócios. A capacitação de profissionais e a contratação de executivos da área de comércio exterior pelas empresas participantes do projeto é outro resultado muito significativo da proposta.

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