Dúvida líquida
Dimensão da lavoura é incógnita no RS, e vai além do clima
Na lavoura do Rio Grande do Sul, historicamente, a temporada posterior a uma safra de preços altos determina uma expansão de área. No ciclo 2020/21, diante do recorde das cotações, imaginou-se que a orizicultura – que plantou a sua menor superfície em muitos anos em 2019/20 – poderia passar novamente de 1 milhão de hectares. O fato não se confirmou e a área pode ficar abaixo da intenção de semeadura prospectada em agosto.
Se por um lado as cotações se tornaram atraentes, e a tempestade perfeita parece que entrará 2021/22 a dentro, por outro a soja alcançou valores recordes e o clima, até o fim de novembro, não permitiu formar um estoque suficiente de água para irrigar arroz e soja em terras baixas, e a falta de umidade do solo atrasou parte da semeadura, mas principalmente a emergência das plantas. “Temos uns 85% de água, mas em algumas regiões não passa de 70% e o vento soma para aumentar o déficit”, observa o presidente Alexandre Velho, da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).
“Plantar área maior do que a disponibilidade de água recomenda não é indicado, mas há produtores que apostam em chuvas futuras. É uma estratégia de altos risco e custo”, explica Rodrigo Schoenfeld, consultor em manejo de lavouras. Com preços atraentes, torna-se ainda mais tentador.
Para Alexandre Velho, além da baixa disponibilidade de água, o domínio sobre as tecnologias de soja em terras baixas, integração com a pecuária e conscientização dos agricultores quanto ao impacto do volume de oferta nos preços também interferiram na decisão. “O arrozeiro se tornou produtor de alimentos, sobreviveu a várias crises, sabe que ampliar a oferta e o risco não são um bom negócio e que precisa manter sua propriedade diversificada em termos produtivos e comerciais para obter renda”.
O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) projeta a lavoura gaúcha em 969.192 hectares. O setor entende que pode haver flutuação entre 959 mil e 979 mil hectares a depender do comportamento das chuvas em novembro/dezembro. Sem chuvas que recomponham em parte as barragens e a umidade do solo, a zona plantada pode ter decréscimo produtivo, algumas serem abandonadas e rizicultores desistirem de semear a superfície programada. Na safra passada, o RS colheu 946.326 hectares e 7,84 milhões de toneladas. Para a temporada a expectativa é de 7,2 a 7,7 milhões.
“Houve replantio e/ou emergência muito irregular em algumas lavouras por causa do frio noturno e a estiagem, temos barragens abaixo do ideal, mas quem tem água está com lavouras excelentes”, explica o agrônomo Roger Portela, do Irga de São Borja.
Schoenfeld revela que diferentes práticas são adotadas: “A recomendação para quem não tem água é não plantar. Mas, quem já plantou está se virando como pode. Alguns banhando, outros reservando água para a época reprodutiva. O importante é lembrar que isso tudo implica em maior custo de controle de invasoras, mais aplicações de defensivos e é preciso ter esse cálculo na ponta do lápis”, avisa.
Na Zona Sul, a expectativa é crescimento de 3 mil hectares sobre a estimativa oficial de 160 mil hectares, pouco mais de 1,5%. A região teve melhores chuvas que a Campanha, a Fronteira Oeste e a Região Central. Nas três regiões, a expectativa é de área menor que o previsto, a menos que boas chuvas as alcancem. Nas Planícies Costeiras Externa e Interna, além da baixa reposição de água no inverno/primavera, o problema é a alta salinidade da água das lagoas. Até 23 de novembro, o Irga estimava que 88,6% da superfície estimada havia sido plantada, ou 860 mil hectares.