Em busca da renda perdida
A busca da eficiência nas tarefas que ainda competem ao agricultor
Não há no meio arrozeiro quem ainda não tenha ouvido algumas frases que determinam que o agricultor deve fazer uma boa gestão “do lado de dentro da porteira”, que o planejamento é necessário, que ações bem fundamentadas trazem aumento produtivo e de renda. Mas quanto dessas decisões estão realmente na mão do produtor rural?
Para a engenheira agrônoma do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Mara Grohs, de todo o custo de produção de uma lavoura de arroz, apenas um quarto, isto é, 25%, é de livre ingerência do agricultor, o restante são custos fixos que fogem ao seu controle. O rizicultor tem na mão o planejamento da propriedade e, com isso, pode definir as ações da mão de obra, quantidade, disponibilidade e tipo de semente, insumos, adubo, controle de plantas daninhas, insetos, doenças e combustível. Então, como fazer isso?
Trabalho desenvolvido pelo Irga indicou quais os principais fatores que devem ser considerados e que estão levando embora a rentabilidade do produtor. “Se fizer uma avaliação do custo e da rentabilidade, o que ainda gera renda é o aumento da produtividade. Muitos dizem que ganhavam dinheiro quando produziam quatro a cinco toneladas por hectare, mas, no atual formato do sistema de produção, isso é impossível. Na medida em que se maneja a lavoura para altas produtividades, se aumenta também o custo, porém, isso não é proporcional. A rentabilidade aumenta mais do que o custo”, explicou a pesquisadora. “Até por isso o agricultor precisa ser eficiente nos 25% de ações que pode adotar”, acrescentou.
E para serem eficientes, uma vez escolhidas as cultivares, os produtores precisam ter cuidados especiais com quatro fatores principais: época de semeadura; adubação; controle de plantas daninhas e a irrigação.
Época de semeadura
O insumo mais barato – e um dos mais eficientes – para a lavoura de arroz é o sol. Mas levantamento do Irga mostrou que 20% dos produtores ainda não plantam na época adequada. Se há cinco anos o número era maior, percebe-se que hoje, para o contexto da lavoura, esse percentual é insustentável. “Precisamos chegar a 100% da área semeada no período recomendado para utilizar o mais importante e gratuito recurso da lavoura”, afirmou a pesquisadora. “Se não aproveitar o sol gratuito e a lavoura não florescer entre o final de dezembro e janeiro, o agricultor estará perdendo dinheiro”, sentenciou.
Um exemplo apresentado pela pesquisadora dá conta de que um dos problemas referentes a este indicador é o posicionamento de cultivares. “O produtor quer plantar as variedades precoces cedo para colher primeiro, quando os preços estiverem mais altos. Está errado, pois está perdendo o potencial genético da cultivar. As precoces devem ser as últimas a serem plantadas”, ensinou.
Adubação
Pelo custo atual, cada saca tem um investimento de R$ 55,00 em insumos. Destes, R$ 35,00 se refere ao adubo, que é aquele insumo que responde com mais produtividade. E o nitrogênio é o primeiro e mais importante desses adubos. “Então é hora de escolher também as cultivares pela resposta que dá à adubação. Diversas exigem menos N do que o Irga 424 RI, que, por sua vez, é altamente produtivo. Neste momento, o produtor precisa fazer as contas se quer desembolsar menos e cultivar variedades que tem menor desempenho produtivo e, em alguns casos, acamam ou se quer investir mais e buscar altas produtividades. Existem opções, e a decisão do produtor de alimentos deve ser baseada em sua estrutura de produção”, ensinou. Na região central, reconheceu, cerca de 9% da área cultivada utiliza uma variedade que requer menor desembolso, pois é menos exigente em adubação.
Controle de plantas daninhas
O segundo maior custo da lavoura, falando em desembolso, é aplicado no controle de plantas daninhas. Estudo do Irga mostrou que as áreas assistidas por consultores técnicos privados ou públicos têm custo 8% menor em comparação com as não assistidas. Isso, porque as últimas são justamente aquelas sem planejamento, que precisam tomar decisões no impulso, o gestor não conhece históricos de pragas e plantas daninhas e, numa infestação, acaba a fazendo aplicações erradas ou uma quantidade maior do que o necessário. “É a chamada aplicação bombeiro. Infesta a lavoura, chama o avião e paga caro por isso, porque, durante a safra, já não existe mais poder de barganha, os preços são maiores. Isso é um gargalo”.
Irrigação
Mas para Mara Grohs, as pesquisas mostram que não adianta plantar na época indicada, adubar com eficiência e manejar plantas daninhas e fazer altíssimo investimento nestes três procedimentos se não houver a irrigação adequada fechando o ciclo. “Hoje, o maior problema da lavoura de arroz, tirando a baixa rentabilidade, é a irrigação atrasada. Então, já temos trabalhos que indicam a melhor opção para iniciar a irrigação, quando a planta está com uma folha, e, de forma geral, que se deve finalizar a irrigação quando ela estiver com até quatro folhas, antes do arroz estar perfilhando, para obter os melhores resultados. Quando a planta começar a perfilhar, passará a registrar queda diária de 100 quilos (duas sacas) por hectare em seu potencial produtivo. Isso é dinheiro jogado fora. O investimento é todo feito para colher mais, não para permitir falhas como esta”, avisou. Adotando essas práticas, a engenheira agrônoma acredita que o rizicultor tem grandes possibilidades de colher mais e obter renda para fazer frente aos custos.