Evolução da lavoura de arroz nas últimas décadas e tendências futuras

 Evolução da lavoura de arroz nas últimas décadas e tendências futuras

 Uma combinação de fatores determinou a queda acentuada da área e, em menor proporção, da produção de arroz no Brasil e no Rio Grande do Sul. Entre 2000 e 2020, a área plantada com arroz no Brasil acumula uma queda de 55%, de 3,677 milhões de hectares para os atuais 1,650 milhão de hectares. A produção, entretanto, recuou bem menos no mesmo intervalo, de 11,423 milhões de toneladas para 10,583 milhões de toneladas, um recuo de pouco mais de 7%.

Isso decorre do fato de que as maiores retrações de área plantada ocorreram nas regiões que cultivam arroz de terras altas (sequeiro), com queda menos acentuada nas áreas irrigadas, que tem produtividades médias maiores. É o caso do Rio Grande do Sul. Neste mesmo período analisado, a área plantada no estado praticamente não sofreu alteração. Há 20 anos, o estado cultivava uma área de 942 mil hectares. Essa área cresceu até a temporada de 2010/2011, quando atingiu 1,171 milhão de hectares, mas depois seguiu o mesmo movimento do país, com quedas praticamente contínuas, chegando hoje aos 940 mil hectares.

No caso do Rio Grande do Sul, a produção sofreu uma queda expressiva: de 8,9 milhões de toneladas em 2010/2011 para 7,4 milhões de toneladas atualmente, um recuo de 17%. Essa queda acentuada da área é reflexo de fatores combinados e simultâneos: a expressiva queda de consumo per capita de arroz nas últimas décadas, o alto endividamento do setor produtivo, a predominância de áreas arrendadas no processo produtivo e o encolhimento ou até o desaparecimento das margens de rentabilidade da cultura.

Pelo menos 60% dos produtores da Metade Sul do Rio Grande do Sul são arrendatários das terras em que plantam, a custos muito elevados, que praticamente inviabilizam financeiramente o processo produtivo, por mais tecnificada que seja a lavoura.

A queda de consumo per capita foi de 25% nos últimos 20 anos (de 45,1 kg por habitante em 2000 para 34 kg em 2019) e de 36%, se considerarmos um período mais longo (52,5 kg por habitante em 1990). A expansão da renda, especialmente da classe C, assim como ocorrido em outras economias emergentes, provocou uma forte migração do consumo de cereais (arroz e trigo), feijão e tubérculos para proteínas animais. O destaque dessa migração foi a carne de frango, cujo consumo per capita saltou de 30 kg em 2000 para 43 kg em 2019.

TENDÊNCIAS E DESAFIOS
Ainda há espaços para a queda da área cultivada, especialmente nas regiões produtoras de terras altas. A tendência é de predomínio absoluto das áreas irrigadas com alta tecnologia e elevadas produtividades na cadeia produtiva. As projeções da nossa consultoria apontam para uma área total plantada no Brasil de 1,2 milhão de hectares até o fim desta década, com 85% desta superfície ocupada com cultivo irrigado.

O desafio será permanecer na cadeia produtiva até que se encontre um equilíbrio entre oferta e demanda no mercado interno. Esse desafio passará por dois pontos cruciais: elevar a produtividade das áreas irrigadas de arroz para reduzir ainda mais o custo final por unidade produzida, consolidar a cultura da soja na Metade Sul do Rio Grande do Sul e elevar os volumes exportados, a fim de manter dois canais de demanda – o mercado doméstico e o externo.

Como oportunidade, vemos o cultivo de soja na Metade Sul do Rio Grande do Sul se expandindo, mas não somente em rotação com o arroz irrigado, mas, sim, em substituição de culturas, o que já ocorre em muitos municípios, com aumento da área plantada com soja e redução do cultivo de arroz. Atualmente, são 1,5 milhão de hectares com soja na Metade Sul, mas a estimativa é de que, no máximo em cinco anos, a área atinja 2 milhões de hectares nesta região do Rio Grande do Sul.

Isso deve elevar a receita bruta e as margens líquidas dos produtores, na direção da viabilização financeira da propriedade como um todo. A soja já tem alta liquidez e o Brasil é o maior produtor e exportador global e o arroz ainda tem espaços para abertura de novos mercados no exterior, que permitam compensar o recuo da demanda interna e promover o equilíbrio entre oferta e demanda, com os preços domésticos mais sustentados, ancorados na paridade de exportação.

A pandemia da covid-19 trouxe grande alento ao setor em 2020, com a disparada dos preços pagos aos produtores que atingiram recordes nominais, decorrentes de uma combinação de reação do consumo interno e de exportações elevadas. O aumento do consumo interno decorre de fatores como alto nível de desemprego, redução da circulação de pessoas e de refeições fora do lar, aumento do preparo de refeições nos lares e de ajudas emergenciais do governo que acabaram concentradas em compras de alimentos básicos.

No caso das exportações, a forte escalada vista em 2020 decorre da combinação da alta do dólar e da elevação das cotações do arroz no mercado externo (em dólares), o que elevou a paridade de exportação. As perguntas que ficam são: será que o aumento de consumo interno se sustenta a partir de 2021 e no longo prazo? As exportações vão continuar em expansão a partir da próxima safra?

De qualquer forma, essas mudanças conjunturais de demanda podem permanecer em proporções distintas, mantendo-se, por exemplo, um aumento da conquista de mercados de exportação, com o consumo interno retrocedendo, deixando a esperança de que a cadeia produtiva possa ter encontrado caminhos para resgatar a competividade e a lucratividade da orizicultura irrigada para trilhar com sucesso as próximas décadas.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter