Fez água

 Fez água

Depressão Central teve pelo menos três enchentes entre as cinco maiores da história nessa temporada

Desde a safra 2002/03 o
Brasil não produzia menos
de 11 milhões de toneladas
.

 O impacto do fenômeno climático El Niño sobre a safra de arroz do Brasil foi pior do que o esperado e os alertas e prejuízos anunciados pelos agricultores foram finalmente traduzidos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no levantamento divulgado no dia 10 de maio: a produção nacional ficará em 10,998 milhões de toneladas, a menor em 13 anos. Os danos se espalharam por todo o país com as adversidades climáticas por excesso no Sul e falta de chuvas no Centro-Oeste, Norte e Nordeste.

Esta será a menor safra desde a temporada 2002/03, quando o Brasil também foi atingido pelos efeitos de um El Niño de grandes proporções e produziu apenas 10,367 milhões de toneladas. O relatório da safra brasileira de verão 2015/16 divulgado em maio pela Conab aponta a queda de 11,6% diante das 12,436 milhões de toneladas colhidas em 2014/15. O volume é quase 170 mil toneladas menor do que era previsto no levantamento divulgado em abril: 11,167 milhões de toneladas.

O volume será menor por causa da redução de 12,9% (ou 295 mil hectares) na superfície colhida, para 2 milhões de hectares. A produtividade média nacional deve confirmar aumento de 1,5%, percentual insuficiente para compensar a diminuição da área. A Conab estima média de 5.499 quilos de arroz em casca por hectare, 80 quilos a mais que no ano passado. A expectativa é de que os números caiam mais no levantamento de junho, pois a projeção oficial para a safra gaúcha foi considerada superestimada.

Para o Rio Grande do Sul, principal estado produtor, a Conab prevê safra de 7,697 milhões de toneladas (-10,7%), mas as entidades locais e os produtores esperam resultado inferior a 7,5 milhões de toneladas. A área rio-grandense prevista pelo órgão federal reduziu 3,9%, para 1,076 milhão de hectares, mas é evidente que parte da área plantada não será colhida por causa dos danos das enchentes. Pela pesquisa, a produtividade média deve reduzir em 7,1%, de 7.700 para 7.154 quilos por hectare, o que não está fora da realidade apurada pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).


FIQUE DE OLHO

Baixa rentabilidade, alto nível de endividamento dos produtores, preços pouco atrativos ao longo do ano passado, competição por área com culturas mais rentáveis fora das zonas de várzea, seca no Nordeste, estiagens no Centro-Oeste e no Norte, excesso de chuvas e enchentes no Sul e uma nova postura da Conab com relação ao cultivo no Maranhão – que analistas e produtores consideravam superestimadas até então –, além das dificuldades de acesso ao crédito para o orizicultor e uma grande desmobilização política e setorial, ajudaram a reduzir a produção nacional. O resultado só não foi pior por causa do alto nível tecnológico das lavouras irrigadas.

Demais no sul, de menos no resto do país

As chuvas em excesso no sul do Brasil derrubaram a produção do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Além das perdas gaúchas, que devem somar 10,7% sobre a safra passada, para menos de 7,7 milhões de toneladas, o segundo maior estado produtor, Santa Catarina, deverá consolidar uma retração de 1,3%, para 1,04 milhão de toneladas. A safra catarinense será concluída somente em junho, com a colheita da soca ou rebrote no norte do estado, região que apresentou muitas perdas pelo excesso hídrico. Cooperativas locais, no entanto, consideram que a colheita ficará abaixo de 1 milhão de toneladas.

Sobraram chuvas no Sul, faltaram em outras regiões. Mesmo consolidando seu papel de terceiro maior produtor do Brasil cultivando tanto arroz irrigado quanto o de terras altas, o Tocantins terá uma colheita menor pela falta de umidade: com 125 mil hectares semeados (-1,4%) e atingidos por estiagem em momentos críticos da lavoura, reduziu a sua produtividade em 3,4%, para 4.585 quilos por hectare. O estado produzirá 576 mil toneladas, segundo a Conab, e com isso registrará uma queda de 4,7% no volume colhido.

O Mato Grosso, cujo cultivo é 100% em terras altas, terá uma colheita 17,2% menor, situação preocupante para a indústria, que precisará se abastecer fora. A projeção oficial é a colheita de 507 mil toneladas, 105 mil a menos do que na temporada passada. A produtividade teve redução de 0,4%, 3.237 quilos por hectare, mas a área cultivada caiu 16,7%.

A soja, com liquidez e preços mais atrativos na safra de verão, e o milho, na safrinha, além de uma estiagem, afetaram os resultados. Produtores que optaram pelo cultivo da soja em setembro e uma segunda safra com arroz (ao invés de milho) a partir de dezembro/janeiro registram grandes perdas por falta de chuvas em fases importantes da orizicultura.

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