Mercado da soja: o clima alterou tudo

 Mercado da soja:  o clima alterou tudo

REUTERS/Ueslei Marcelino

Iniciamos o plantio da soja, desta safra 2021/22, com expectativa de área semeada recorde, assim como sua produção final. Neste último caso, os números projetados giravam entre 142 e 144 milhões de toneladas para o Brasil, e de 19 a 20 milhões para o Rio Grande do Sul.

Considerando a então realidade de Chicago, dos prêmios futuros nos portos brasileiros e o câmbio no país, projetava-se preços médios no Rio Grande do Sul entre R$ 130,00 e R$ 150,00/saco quando da colheita em 2022. Na melhor das hipóteses, manter o valor um pouco acima dos R$ 150,00.

Como o custo de produção, em função, especialmente, do câmbio, aumentou 52% para esta nova safra (cf. Fecoagro), não havendo expectativas de aumento de produtividade média, previa-se claramente uma redução de rentabilidade dos sojicultores nacionais, em geral, e gaúchos, em particular, na comparação com 2021. Infelizmente, o quadro piorou ainda mais passados dois meses. E o clima está sendo o principal vilão desta mudança.

Assim, diante da forte seca no centro-sul brasileiro e na Argentina e Paraguai, somada as enchentes no centro-norte brasileiro, as perdas são consideráveis. No Rio Grande do Sul, as mesmas já estão sendo calculadas ao redor de 60%.

Neste contexto, somente a produção brasileira da oleaginosa deverá perder cerca de 20 milhões de toneladas, devendo ficar ao redor de 124 a 125 milhões de toneladas (este número poderá ser menor, pois a continuidade da seca – a pior que o sul do país vivencia desde 2005 – continuava a aumentar os prejuízos).

Para a América do Sul, o Usda aponta um volume de 186 milhões de toneladas, contra 212 milhões no momento do plantio.


A VIRADA

Tal quadro mudou completamente o cenário para o mercado da soja. Chicago, por exemplo, viu o preço do bushel disparar, chegando, neste início de fevereiro, acima dos US$ 15,00. Um aumento médio ao redor de 30,6% em comparação aos menores níveis vistos em novembro passado.

A projeção dos prêmios nos portos, diante da escassez futura do produto, sobe, com os mesmos quase dobrando em relação ao que se tinha para o período entre março e maio do corrente ano. A surpresa é o câmbio, que recuou para R$ 5,27 por dólar neste início de fevereiro.

Embora seja sabido que o mesmo devesse estar entre R$ 4,50 e R$ 4,80 no país, não se esperava um recuo tão rápido em curto espaço de tempo.

Desta forma, os preços da soja no interior gaúcho, ao produtor rural, subiram para R$ 186,00/saco neste início de fevereiro, enquanto no restante do país os mesmos oscilam entre R$ 165,00 e R$ 195,00. Ou seja, um aumento de 15% a 20% sobre os valores do início do plantio.

VERMELHO

Todavia, este aumento está longe de ser suficiente para compensar os altos custos de produção e as grandes perdas pela seca. Salvo exceções, no geral, os produtores gaúchos e boa parte dos produtores brasileiros registrarão ainda menor rentabilidade.

No caso do Rio Grande do Sul, a grande maioria deverá fechar a safra no vermelho, perdendo, senão todos, boa parte dos ganhos obtidos na safra anterior. Afinal, é sabido que não há preço que pague uma frustração de safra, especialmente uma do tamanho que o sul do país está vivendo.

Argemiro Luís Brum
Professor titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris (França), analista de mercado e coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (CEEMA/PPGDR/UNIJUI).

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