Pé no freio
Menores estoque e volume
de exportação elevam preços no mercado
global do arroz
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Pelo terceiro ano consecutivo a produção mundial de arroz ficará abaixo da expectativa. Desta vez o fenômeno climático El Niño vai neutralizar uma alta mais importante. A projeção de safra mundial foi revisada para baixo pelos organismos internacionais, que agora estão prevendo uma alta de até 1% em relação a 2015. Ou seja, a seca e os baixos preços da temporada passada não devem impactar o plantio e a produtividade global. Ainda assim haverá queda dos estoques e do volume disponível para exportação ao longo do ano.
O economista Patrício Méndez del Villar, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento (Cirad), da França, indica que a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) trabalha com o indicativo da produção mundial em 2015 caindo 0,5%, para 740 Mt (milhões de toneladas) de arroz em casca (490,5 Mt beneficiadas) contra 744 Mt em 2014, diante de uma expectativa maior.
“Esta contração afetou em especial as regiões da Ásia onde chuvas tardias ou insuficientes foram desfavoráveis para a cultura”, explica o analista francês. A produção também caiu nos Estados Unidos por falta de água. Em contraste, a produção aumentou no Mercosul graças a melhores condições climáticas.
Em 2015 o comércio mundial aumentou 0,5%, para 44,8 Mt contra 44,6 Mt em 2014. As importações do Sudeste Asiático marcaram forte atividade durante o último trimestre de 2015 para compensar as colheitas insuficientes. Esta demanda de importação tende a diminuir, no entanto. Por enquanto, as previsões para 2016 indicam possível queda de 1,8%, para 44 Mt.
Por outro lado, as disponibilidades de exportação serão menores este ano, mas devem permanecer suficientes para atender a demanda global e, assim, limitar a tendência de alta dos preços mundiais.
Os estoques globais de arroz terminaram 2015 relativamente estáveis, em 174 Mt. Já as previsões de 2016 indicam contração de 3%, para 169 Mt ou 33% do consumo mundial, o nível mais baixo dos últimos quatro anos.
PREÇOS
Em abril, os preços mundiais se mantiveram firmes pelo terceiro mês consecutivo. A revalorização afetou sobretudo os preços tailandeses e paquistaneses. Esta tendência se deve principalmente à redução dos estoques mundiais e da oferta de exportação. A queda da produção mundial por razões climáticas teve menor influência.
A expectativa é de que o fenômeno El Niño pode diminuir nas próximas semanas, especialmente nas regiões do Sudeste Asiático, e abrir espaço para o fenômeno climático La Niña, mas somente se consolidando a partir do último trimestre do ano. Este pode se ilustrar com excessos de umidade durante os períodos de colheita nos países asiáticos. “A demanda de importação se mantém estável por ora, portanto, a tendência altista dos preços mundiais deve prosseguir nos meses que virão, mas de maneira limitada”, finaliza Patrício Méndez del Villar.
Méndez del Villar: estoques menores e preços firmes no comércio internacional