Sem calmaria no horizonte
Demanda brasileira ameniza problemas,
mas Mercosul
arrozeiro vive crise
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Numa espécie de Efeito Orloff, os países parceiros do Brasil no Mercado Comum do Sul (Mercosul), que também são seus principais fornecedores de arroz, vivem problemas que vêm afetando o resultado de suas safras e comercialização nas últimas temporadas. O bordão “Eu sou você amanhã” vale para diversas circunstâncias, como o aumento de custos, a perda de competitividade, o endividamento dos agricultores, restrições ao crédito e dificuldades em obter rentabilidade.
O mais tradicional parceiro, o Uruguai, enfrenta a sua pior crise de endividamento e dificuldades de acesso ao crédito. A Argentina também vive um momento de reorganização financeira na zona produtora de arroz, baixa adesão ao crédito oficial por causa de endividamentos e renegociações e financiamentos privados mais altos e custos também. Aliás, os altos custos de produção e logística colocam este país como o menos competitivo para chegar ao mercado brasileiro. Mesmo o Paraguai, país que mais cresce em produção e produtividade, baseado em tecnologia de qualidade gaúcha, mão de obra abundante e barata, leis ambientais mais flexíveis e uso de insumos genéricos que reduzem seu custo, teve dificuldades nesta temporada.
Na temporada comercial de março de 2016 a fevereiro de 2017 os três países conseguiram enxugar os altos estoques de passagem graças à quebra da safra brasileira, que fez este grande mercado consumidor demandar 1 milhão de toneladas de arroz, e uma ofensiva sobre mercados nas Américas, especialmente no Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Costa Rica, Panamá e Nicarágua. Para o ano comercial 2017/18 o Brasil seguirá demandando o cereal do Mercosul, pois sua produção e seu consumo são praticamente iguais, os estoques de passagem são os mais baixos da história e o país pretende exportar mais de 1 milhão de toneladas. Ou seja, para exportar será necessário compensar com aquisições dos seus parceiros.
A SAFRA
As condições das lavouras dos três países são boas e a expectativa é de uma produção maior do que na temporada passada, mas ainda abaixo do que já foi produzido em anos anteriores, principalmente por uma forte redução de área na Argentina de cerca de 20 mil hectares em três temporadas. O cultivo de soja nas várzeas é uma das alternativas que vem sendo gradativamente implantada graças à rentabilidade e liquidez da oleaginosa. Mas até mesmo a pecuária cresce em algumas áreas arrozeiras.
No Uruguai, o socorro federal está chegando finalmente aos produtores com a expectativa de liberação dos recursos do fundo arrozeiro. Além disso, depois de sinalizarem preços médios de 9,50 dólares por saca de arroz em casca, as indústrias reconsideraram no final de outubro – face à boa demanda brasileira na temporada – e anunciaram 10,50 dólares de cotação referencial. Na temporada passada os arrozeiros uruguaios tiveram que devolver dinheiro à indústria porque o valor meta de exportação não foi alcançado.
FIQUE DE OLHO
No Paraguai, um grupo de produtores da região de Itapúa não conseguiu acesso ao crédito para plantar ainda em função das dificuldades para renegociar dívidas referentes às perdas ocorridas com o fenômeno El Niño. Entidades locais acreditam que entre 3 e 5 mil hectares deixaram de ser plantados por um grupo aproximado de 50 agricultores. No entanto, a boa comercialização para o Brasil determinou um pequeno avanço na área e produtores capitalizados e indústrias compensaram a ausência destes orizicultores. Com terras novas e muito espaço para plantar, o Paraguai agora quer investir na atração de indústrias brasileiras da área de arroz. Um programa do governo oferecerá vantagens fiscais e até área para instalação de plantas agroindustriais. Outra novidade é que enquanto o Brasil está a quase dois anos tentando negociar um acordo comercial para exportar arroz ao México, o Paraguai foi lá e conseguiu a liberação em pouco mais de três meses.