Estabilidade à prova

 Estabilidade à prova

Porto: um dos gargalos que testarão a estabilidade setorial

Apesar do cenário
positivo, a comercialização
do arroz terá testes importantes em 2014
.

O cenário do mercado de arroz em casca no sul do Brasil, neste início de ano comercial 2014/15, é muito melhor do que se vislumbrava há duas ou três safras: preços médios acima dos R$ 35,00 por saca, apesar de uma safra nacional superior a 12 milhões de toneladas, que é a previsão de consumo, projeção de superávit de 300 mil toneladas na balança comercial e estoques públicos baixos. Além disso, o agricultor não está pressionado a vender o cereal no pico da colheita, especialmente orizicultores gaúchos que plantaram soja nas várzeas e negociaram antecipadamente.

Este cenário projeta uma demanda estável, comercialização aquecida e preços mais remuneradores ao agricultor, apesar de ligeira alta dos custos. Transfere parte da pressão à indústria, que precisa se equilibrar entre um agricultor mais resistente à venda e um varejista intolerante à alta de preços. E, desta vez, o agricultor quer ver uma remuneração maior do que no ano passado pelo seu grão. O governo, por sua vez, tem pouco poder de fogo para interferir com os estoques públicos, que ficam abaixo de 700 mil toneladas em casca, mas sempre tem suas armas.

Esta conjuntura positiva para a comercialização, no entanto, poderá ser colocada à prova por um conjunto de fatores. O primeiro deles é o câmbio: com a elevação dos preços internos, o dólar também precisa estar valorizado para que o Brasil siga competitivo internacionalmente e exportando. Qualquer suspeita de que os preços do arroz em elevação somem para uma escalada de inflação, também pode desencadear uma intervenção do governo federal. Uma ação de governo pode se dar de duas formas: a liberação imediata de estoques públicos, por meio de leilões de oferta de arroz em casca da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ou com a retirada da Tarifa Externa Comum de 12% sobre as importações de terceiros países (fora do Mercosul). A cadeia produtiva gaúcha vem tentando obter com o governo federal um novo preço mínimo, acima de R$ 27,00, o que pode ser anunciado até o final de maio. Há cinco safras, o preço mínimo da saca de arroz de 50 quilos (58×10) é R$ 25,80. O valor é referência para negócios com o governo federal, seguro agrícola e financiamentos.

GARGALOS
A incapacidade logística do Brasil para exportar maiores volumes e de forma mais ágil vem sendo também um dos gargalos da cadeia produtiva. Afora isso, existem as assimetrias de preços e políticas com os países membros do Mercosul, que sob qualquer demonstração de enfraquecimento de terceiros e mais valorizados mercados podem canalizar para o Brasil os seus excedentes. O Paraguai concentra praticamente 100% de suas exportações para o Mato Grosso, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Goiás, por exemplo. A revisão dos números finais da safra do Rio Grande do Sul para baixo deve também ter consequências na valorização do arroz ao longo de 2014/15. O volume de grãos falhados, por causa do excesso de calor, problemas de germinação e atraso no plantio, pode ter reduzido a expectativa de safra entre 200 e 300 mil toneladas.

QUESTÃO BÁSICA
Manter o equilíbrio entre oferta e demanda tem sido a fórmula encontrada pelos arrozeiros para obterem preços mais remuneradores por seu produto nas últimas temporadas. O escoamento de pelo menos 1 milhão de toneladas, via exportação, tem sido a válvula de escape para os excedentes gerados pela soma da produção, importação e dos estoques públicos. Com o superávit na balança comercial do arroz acumulado nos últimos anos, o Brasil conseguiu neutralizar o impacto negativo das importações e até mesmo enxugar o estoque público para níveis mais compatíveis com a necessidade estratégica de abastecimento. O grande desafio da cadeia produtiva arrozeira, de agora em diante, é manter a estabilidade deste mercado.

FIQUE DE OLHO
O clima é outro fator que poderá interferir nos preços ao produtor. A agricultura já trabalha com a expectativa da ocorrência do fenômeno climático El Niño entre junho e dezembro. As chuvas poderão atrapalhar o preparo das lavouras e atrasarem o plantio na época mais indicada. A previsão de uma safra igual ou menos na próxima temporada pode ser fator determinante para uma alta mais significativa dos preços no terço final do ano agrícola.

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