Antes tarde do que nunca

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Barretto: degrau de estabilização

Preços do arroz se recuperam e têm fôlego para subir mais, mas
muita gente perdeu a alta
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O mercado de arroz do Brasil “quebrou” seu ritmo de estabilidade em 2015 a partir do momento em que o governo federal se omitiu da liberação de recursos – entre fevereiro e março – para financiar a comercialização, sistema mais conhecido como pré-custeio.

Sem crédito para financiar a comercialização, ou seja, pagar as contas na safra e só quitar o financiamento quando os preços do arroz já estivessem maiores, o agricultor precisou liquidar sua safra ainda na colheita. O excesso de oferta encheu os silos das indústrias e achatou os preços. E muitos produtores ficaram sem crédito também de custeio, pois não conseguiram alcançar o nível de garantias exigido pelos bancos.

Mesmo assim, a partir do final de agosto os preços do arroz começaram a reagir de forma mais acelerada e alcançaram patamares iguais ou superiores aos custos de produção da safra 2014/15. Nesta época, muitos produtores já não dispunham do grão armazenado, mas quem conseguiu segurar o arroz até o segundo semestre do ano comercial conseguiu estabelecer nova estratégia de venda e passou a obter lucro – até para fazer frente aos custos ainda mais elevados da nova safra.

Para André Barretto, presidente da Federação das Cooperativas Arrozeiras do RS (Fearroz) e vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Arroz (Abiarroz), a pequena oferta neste segundo semestre está mantendo os preços firmes, dentro de valores que são razoáveis. Mas, por outro lado, o aumento da tributação sobre a indústria vem apertando cada vez mais o setor. Em crise, o governo gaúcho aumentou em 10% o ICMS sobre o arroz.

“Estamos chegando a partir de meados de novembro a um degrau de estabilização, acomodação dos preços, que pode até encostar na paridade de importação. A tendência é de ainda ter uma pequena elevação nas cotações, mas não uma alta tão grande que consiga afetar o consumo. Indústria tem limitação de compra da matéria-prima que é determinada pelo varejo e consumidor”.

Já Henrique Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), explica que o setor produtivo trabalha em várias frentes. “Por um lado temos os produtores preocupados em semear as lavouras frente às restrições climáticas, mas as entidades setoriais estão trabalhando no sentido de pressionar o governo para garantir recursos de pré-custeio, fechar acordos comerciais com outros países e alongar o período previsto para o plantio como forma de garantir a validade do seguro agrícola aos agricultores”, explica.

Dornelles trabalha com a expectativa de melhores preços ao rizicultor até fevereiro pela conjuntura favorável. “E também porque precisamos cobrir o custo de produção da safra passada e da futura, que nem foi terminada de plantar ainda”.

O analista Marco Aurélio Marques Tavares enfatiza que a prorrogação do parcelamento do custeio, cujas parcelas passaram de junho e julho para novembro e dezembro, amenizaram os prejuízos do produtor. “Temos um horizonte mais claro para 2016 em termos de preços, mas a produção ainda é uma incógnita por causa do clima adverso para plantar”, argumenta. Para Tavares, os arrozeiros que também puderem cultivar soja e trabalhar com pecuária em suas propriedades, integrando lavoura e pecuária, não podem abrir mão de fazê-lo.

A diversificação da renda e a possibilidade de vender soja e gado no primeiro semestre com boa rentabilidade tem sido a receita de sucesso de muitos produtores. Mas alerta: “Plantar soja na várzea com excesso de chuvas é muito mais difícil do que plantar arroz”.

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