Para o bem geral da nação

 Para o bem geral da nação

Qualidade: referência nacional

Qualidade: referência nacional.

“Navegar é preciso”. A frase de Fernando Pessoa poderia se tornar uma espécie de mantra da cadeia produtiva do arroz neste início de 2017. No ano comercial que encerrou em fevereiro, pela primeira vez em seis temporadas, o país registrou déficit na balança comercial do grão: 293,7 mil toneladas em base casca. Exportou 893,7 mil toneladas e adquiriu, em especial do Mercosul, 1.187,4 milhões de toneladas.

O resultado reflete a quebra da safra passada, apreciação do real frente ao dólar, alta dos preços internos em descompasso com as cotações internacionais, alto custo de produção e logística, que torna o cereal brasileiro menos competitivo que o do Mercosul, e as vantagens tributárias do cereal estrangeiro, isento de ICMS para alguns estados, condição que o grão brasileiro não tem.

No primeiro trimestre de 2017 os números permaneceram negativos e o déficit chegou a 212 mil toneladas com a exportação de 176,6 mil toneladas em base casca e importação de 389,2 mil toneladas. A média dos embarques mensais é de 58,9 mil toneladas para a compra de 129,8 mil toneladas.

Cleiton Evandro Santos, analista da AgroDados/Planeta Arroz, relata que a expectativa do setor era de que a queda dos preços na colheita favorecesse as vendas ao exterior. Mas cita dois movimentos em dissonância à abertura desta janela de exportação: o real valorizou um pouco mais sobre o dólar e os preços médios de vendas do Mercosul e dos Estados Unidos foram reduzidos pela combinação da baixa demanda internacional e boas safras, estabelecendo patamares fora de alcance para o Brasil. “Os Estados Unidos estão exportando arroz a R$ 35,00 em equivalência a 50 quilos enquanto o Paraguai exporta a R$ 36,00. Não há como competir nestes padrões”, resume.

Vendendo bem o ano todo, o Mercosul se deu ao luxo de retrair os preços quase aos referenciais de custo e manteve as remessas ao Brasil. “O Paraguai, após alcançar equivalência na faixa de 14 a 15 dólares com picos de até 16 dólares por saca de 50 quilos de arroz em casca ao longo do ano, tem gordura para queimar. Vender alguns lotes entre 11 e 12 dólares não é um mau negócio para eles nem para quem está adquirindo”, diz Santos. Por enquanto, o que mantém o Brasil no jogo são as exportações de quebrados dirigidos à África.

FIEL

A venda externa sempre foi o fiel da balança na hora de recuperar os preços, ou seja, as cotações brasileiras caem na safra ao nível da competitividade para exportar. Esse movimento enxuga a oferta interna, capitaliza as indústrias e tradings, aquece o mercado da matéria-prima e eleva gradativamente as cotações domésticas a patamares próximos ou superiores ao custo de produção. Até abril de 2017, porém, não se verificou esse movimento. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) considera que o Brasil deverá exportar 1,1 milhão de toneladas e importar o mesmo volume neste ano comercial. Santos duvida. Para ele, o Brasil terá novo déficit.

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